Ayn Rand: razão, autointeresse e capitalismo

Nota: o artigo abaixo tem como objetivo estabelecer um diálogo introdutório com estudantes de Filosofia e Política. Este artigo não é afiliado ou aprovado pelo Ayn Rand Institute ou organizações similares: indico aos leitores que acessem o vasto material contido no site Objetivismo Brasil. Boa leitura!

Ayn Rand foi uma escritora e filósofa nascida na Rússia (1905) que imigrou para os Estados Unidos em 1926 pressionada pelas condições opressivas dos primeiros anos da União Soviética. Seu primeiro romance, o mais conectado com suas experiências pessoais, foi We the Living (1936), e Anthem (Cântico) veio logo depois, em 1938. Diz-se que, em relação ao tema, Cântico pode ter servido de inspiração para o livro 1984 de George Orwell. Porém, os trabalhos mais significativos e que entraram na consciência popular foram A nascente (1943) e A revolta de Atlas (1957). Foram nesses livros que Ayn Rand incorporou sucinta e ficcionalmente sua filosofia do Objetivismo, em que ela retrata o homem em sua condição ideal. Rand morreu aos 77 anos, no ano de 1982.

Neste texto, descreverei brevemente os cinco ramos do Objetivismo como filosofia completa e integrada. Estes ramos são:

– Metafísica

– Epistemologia

– Ética

– Política

– Estética

Ao estabelecer a filosofia do Objetivismo, Rand adentrou o território dos círculos acadêmicos – um território firmemente estabelecido por Aristóteles. Sua ideia principal, derivada de Aristóteles, é que a realidade existe objetivamente e que a felicidade do homem é um fim em si mesmo. Ao devolver o poder ao indivíduo, Rand afirma que o egoísmo não é um insulto, e que o papel principal do homem é o aprofundamento de seus próprios interesses para uma relação exitosa “dever ser/é” entre a realidade e o homem. O resultado político disso é a não intromissão, isto é, o laissez-faire, como presente, por exemplo, nesta citação de A revolta de Atlas:  “Eu juro – por minha vida e meu amor por ela – que nunca vou viver em função de outro homem, nem pedir a outro homem que viva em função de mim.” Antes de mais nada, porém, é preciso entender como a filosofia tem um papel crucial nisso.

As idéias de Ayn Rand são às vezes consideradas revolucionárias, pois rompem violentamente com formas de misticismo infiltradas em diferentes filosofias. Os filósofos mais perversos são Kant e Hegel, disseminadores da ideia de que a realidade é zero, e que a mente humana é impotente. Logo depois, seguem Descartes e a Escola Racionalista, ou Locke e a Escola Empírica, filosofias que têm premissas baseadas na razão, embora cometam o erro de separar a mente e o corpo (dualismo). Logo, Rand observou que muitos dos problemas enfrentados pelo homem consistem numa rejeição à realidade e na relutância de alguns em aplicar valores em sua interação com a realidade. Podemos ver o problema disso na política, onde a falência moral se torna mais clara.

Mas, por enquanto, foquemos no indivíduo e na ética (a tecnologia de como o homem deve agir). Rand sustentava que, como um ser com consciência e vontade própria, o homem precisa de um conjunto de valores alinhado com seus objetivos pessoais a fim de ter um propósito: impedir uma espécie de decadência ou recusa de pensar e agir. Ter um propósito é visto por Rand como mais que uma necessidade, mas sim uma responsabilidade, como ela mesma escreveu: “A responsabilidade do homem ainda vai além: um processo de pensamento não é automático, nem instintivo, nem involuntário e, muito menos, infalível. O homem tem que iniciá-lo, sustentá-lo e assumir a responsabilidade por seus resultados. Ele tem que discernir o que é verdadeiro ou falso e descobrir como corrigir seus próprios erros”. (The Objectivist Ethics, 1961).

Um processo ativo de raciocínio contribuiu para uma melhora significativa de minha vida pessoal. É profunda e pessoalmente tocante quando alguém decide viver para seus próprios fins e, para que possa alcançar a felicidade, é preciso usar o poder da mente de forma adequada. Assim, não devemos focar na ética primeiro, mas sim na metafísica e na epistemologia.

É essencial neste ponto discutir a importância da Metafísica e da Epistemologia no Objetivismo. A metafísica objetivista sustenta que a realidade existe como um objetivo absoluto, independente dos sentidos do homem e de sua capacidade de detectá-lo. Ela se afasta claramente da visão nebulosa e mística de Platão e Kant, por exemplo. O homem, então, precisa tomar essa realidade objetiva, analisar e lidar com as coisas como elas são. Isto é alcançado por um processo consciente de diferenciação e integração alimentado pela mente. Assim, falaremos do ramo epistemológico a seguir.

Rand formulou a epistemologia objetivista em torno dos principais estágios: 1) sensitivo, 2) perceptivo e 3) conceitual. Epistemologicamente, a base do conhecimento do homem começa, de fato, no estágio perceptivo, onde a “consciência discriminada” primeiro se manifesta. Isso é baseado na ideia axiomática de que a existência existe e se baseia nela mesma, efetivamente expressando que “uma sensação não diz ao homem o que existe, apenas que existe” (Introduction to Objectivist Epistemology).

Do estágio perceptivo, em que os dados sensoriais estão em Estado de caos, a mente do homem integra-os para formar unidades conceituais por meio de um processo de identificação de semelhanças e diferenças. A medição em um sentido matemático e científico desempenha o papel de um “processo de tornar o mundo compreensível” Introduction to Objectivist Epistemology).

Os dados sensoriais são então “arquivados” com denominadores conceituais comuns: “as características redutíveis a uma unidade de medida, por meio da qual o homem diferencia dois ou mais existentes de outros existentes que o possuem” (Introduction to Objectivist Epistemology). A ideia de características essenciais sustentadas pelos existentes na realidade objetiva é vital. Tome, como exemplo, a consideração de uma criança sobre uma mesa qualquer no estágio conceitual inicial; ela sabe que essa entidade é mais alta do que uma cadeira, além de ser usada para guardar itens longe do chão. Este é um processo de abstração inferior a, digamos, quando um adulto a distingue ainda mais para identificar as diferenças entre uma mesa de jantar de carvalho e outra de vidro.

O homem faz abstrações cada vez mais amplas no que Rand descreve como um sistema de arquivamento dentro da mente – e tudo isso pode parecer um pouco esquisito para nossos propósitos. Mas não se preocupe, pois agora trataremos do que nos interessa aqui, a ética.

Esse processo de abstração cada vez mais complexo, de construção da realidade que se percebe, fornece uma base sólida para o sucesso. O processo é considerado inesgotável e constante, mas também aspiracional. Podemos ler uma de minhas citações favoritas de A nascente: ao explicar seu raciocínio para escolher as esculturas de Steven Mallory para adornar seu prédio, o protagonista Howard Roark diz: “Acho que você é o melhor escultor que temos. Acho isso porque as suas estátuas não são o que os homens são, mas sim o que eles poderiam… e deveriam ser. Porque você foi além do provável e nos fez ver o que é possível, mas possível apenas através de você.” O que o homem poderia ser é ideia mais excitante que pode existir para conceder a si mesmo a permissão absoluta e inabalável para ser bem-sucedido, aceitando que a realidade é o que é e, em seguida, trabalhando com ela – para fazer construir a melhor versão possível de si mesmo.

É momento de entrar na ética de Rand: a ideia do autointeresse racional ou “egoísmo” (um termo que ganhou ao longo do tempo um significado negativo). O autointeresse racional é totalmente oposto ao hedonismo irracional a que muitos se referem ao pensar na palavra “egoísta”. É, de fato, a soma final da relação do homem com a realidade objetiva, vivendo por um conjunto consistente de valores. É possível, portanto, derivar o “dever/ser” do “ser” em um sistema normativo de ética.

Alguém, de fato, racionalmente autointeressado entende que a única causa de ação moralmente correta é a promoção de seus próprios objetivos de longo prazo – e isso é, de fato, a única maneira possível. Costumo lembrar do episódio de Friends, no qual Joey e Phoebe estão presos em um ciclo para tentar realizar uma ação verdadeiramente altruísta. Porém, suas intenções apenas os fazem descobrir que cada ação tomada, pelas repercussões pessoais que se produzem, negam a intenção inicial de “desinteresse”. Esse é um dos subprodutos de uma mentalidade altruísta: não importa o quanto se tente viver em benefício dos outros, aparentemente, não é possível.

Rand sustenta que, além de ser impossível, um estilo de vida altruísta é impróprio para o desejo inerente do homem de agir e conquistar. Doar coisas aos outros é inteiramente possível, mas não sob o pretexto de Joey e Phoebe de que seja totalmente altruísta. Essa é a principal diferença entre o altruísmo e a benevolência. Por exemplo, veja uma questão ética na qual uma pessoa tem apenas o suficiente para comprar um sorvete numa sorveteria que está visitando com seu filho. Há outras três crianças na sorveteria que também querem sorvete. Qual seria o melhor curso de ação de acordo com o autointeresse racional? Aquele que deseja acusar o egoísmo e apresentá-lo em sua forma imprópria diria que compraria o sorvete para si e o comeria na frente das crianças. A escolha apropriada e racionalmente autointeressada seria feita de acordo com um juízo de valor, o que, para um pai, provavelmente seria comprar o sorvete para o seu filho. No entanto, a moral altruísta, sustentaria que isso é profundamente imoral e, afinal de contas, é muito melhor comprar um sorvete para as crianças estranhas que representam pouco ou nenhum valor para o pai. Note que, mesmo aqui, o problema de Joey e Phoebe permanece.

Não se deve entender o “autointeresse” no contexto objetivista como sinônimo de indulgência imediata. Significa uma adesão racional a um senso profundo de vida em busca da felicidade genuína. Isso é frequentemente descrito como um Estado de “alegria não contraditória”, o tipo de felicidade derivada da conquista de valores.

Claro, fico feliz em escrever esse artigo, mas também estava feliz jogando o meu PlayStation. As duas atividades estão, no entanto, em diferentes categorias; o primeiro é propício para a realização dos meus valores, enquanto o segundo representa uma diversão momentânea.

Para dar coerência extra a essa seção, peço um momento para integrar adequadamente a relação entre metafísica, epistemologia e ética antes de passar para uma discussão sobre política. Em se tratando da Metafísica, o Objetivismo afirma que A é A. A realidade existe independentemente da capacidade do homem de percebê-la e que A não pode ser tanto A quanto não-A ao mesmo tempo. A capacidade do homem de perceber e integrar a realidade é da competência da epistemologia. Logo, vem a ética: os humanos diferenciam-se do restante dos animais por meio de sua capacidade de escolha. O homem não possui princípios inatos e deve escolher entre a vida e a morte, entre o sucesso e o fracasso.

Você pode notar que o Objetivismo exige autoconfiança e individualismo, isto é, que se confie exclusivamente no poder do próprio julgamento como parte desse sistema normativo de ética.

Com esses valores implícitos à filosofia, o Objetivismo pode ser sobreposto ao campo da política, economia e direito. Trata-se de construir essas disciplinas a partir do zero: identificar as características essenciais da condição humana e aplicá-las, ao invés de fazer o processo contrário.

A grande contribuição de Rand para o campo da política está baseada na ideia do capitalismo laissez-Faire, ou seja, o capitalismo totalmente livre de controles governamentais como o sistema moralmente correto para o homem. Deste ponto de vista moral, Rand é a melhor defensora da liberdade pela via filosófica. Naturalmente, ela se une a séculos de trabalho nesse campo, de Bastiat a Mises, entre outros. Nesse ponto, a escola Escola Austríaca se diferencia do Objetivismo, pois seu trabalho se concentra em grande parte no argumento econômico do capitalismo, mantendo premissas eticamente deterministas. A Escola Austríaca, por exemplo, tende a construir casos econômicos com base na suposição de que o homem sempre age em uma capacidade de autointeresse racional. É claro, os objetivistas diferem ao dizer que esse processo não é automático (determinismo), mas sim uma escolha.

Rand, embora mantendo uma consistente teoria político-econômica, solidificou o argumento moral do capitalismo. Ela era abertamente “radical” no verdadeiro sentido da palavra, mantendo seus princípios com determinação. Se alguém já viu suas entrevistas no YouTube, pode identificar sua expressão de desejo em separar completamente o Estado e a economia. Como uma das explicações sobre moralidade, vejamos esta citação de seu artigo sobre “extremismo”: “se uma posição intransigente for acusada de “extremismo”, então, essa difamação é dirigida a qualquer devoção a valores, qualquer lealdade a princípios, qualquer convicção profunda”. (Extremismo ou A Arte de Degradar, 1964). Note que “extremo” é uma medida, não um valor; uma pessoa pode ser um “extremista” em seu amor por lasanha – e isso não tem qualquer influência sobre o tipo de moralidade apresentada.

É a falta de convicção e o medo de ser acusado de “extremista” que talvez tenha levado à crise político-econômica que enfrentamos hoje – que levou a uma mistura de controles do governo (de maneira ampla através da força) e capitalismo (liberdade). Em se tratando de definições, é errado usar uma terminologia ruim para chamar o que temos hoje de “capitalismo” – que não é o caso –  pois o que temos é uma economia mista (parte socialdemocrata, parte capitalista). Seria válido também usar o termo “clientelismo” que se refere ao Estado que usa o capitalismo em seu benefício, garantindo privilégios não merecidos. Esta é uma mutilação abominável do capitalismo.

Com uma estrutura filosófica baseada em torno do indivíduo, podemos olhar para o campo dos direitos e, portanto, buscar um papel apropriado para o Estado onde a liberdade é plenamente facilitada. A motivação de Rand a construir sua vida nos Estados Unidos foi inspirada na moralidade do experimento americano: um governo que deriva seus direitos e responsabilidades estritamente de direitos individuais, e não o contrário.

Portanto, Rand era singular em sua defesa de um papel mínimo para o Estado, preenchendo a lacuna entre a bancarrota moral do grande conservadorismo do governo e a anarquia completa e rothbardiana. O Estado deve existir em alguma capacidade, ela observou, mas apenas para proteger os direitos das pessoas e da propriedade sob a responsabilidade dos campos militar, policial e jurídico. Ressaltando que as forças armadas governamentais limitam-se exclusivamente à defesa interna e seriam totalmente não-intervencionistas (a menos que houvesse uma causa voluntária e consensual para a invasão). O Estado, então, que protege os direitos individuais, não é um mal necessário, mas um bem necessário.

Com o Estado fora do caminho das relações econômicas, podemos agora extrair algumas idéias sobre a moralidade do capitalismo. Mercados livres significam a capacidade de trocar voluntariamente, com transações que representam uma expressão de benefício mútuo e, além disso, uma expressão e subsídio para o autointeresse. Rand levou os mercados livres a significar “a aplicação social de uma teoria objetiva de valores” como exploramos anteriormente. Ela prossegue: “baseado no fato de que os valores são descobertos pela mente do homem, os homens devem estar livres para descobri-los – pensar, estudar e traduzir seu conhecimento sob a forma de bens materiais, oferecer seus produtos para o comércio, julgá-los e escolhê-los, sejam bens materiais ou ideias”. Em suma, é por isso que os verdadeiros liberais (liberais clássicos) discordam fundamentalmente do planejamento central, como preferem os sistemas estatistas de socialismo, comunismo ou fascismo. O produtor precisa entender teorias objetivas de valor para ter sucesso no mercado, um governo não precisa saber nada sobre a demanda de um mercado e terá “sucesso” de qualquer maneira. Isso quer dizer que a renda do Estado é garantida perpetuamente por meio de impostos, de modo que não há necessidade de prestar serviços que apresentem valor genuíno. Onde não há incentivo ao lucro, não há incentivo à qualidade. Tomemos, por exemplo, a produção de pregos sob o Estado na União Soviética. Neste caso, as cotas de produção deveriam ser atendidas não de acordo com a qualidade, mas com o peso. O resultado final foi o vazamento de telhados sustentados por pregos que não tinham o tamanho correto, mas que atingiam a cota de produção em peso.

Outro componente importante da união total entre capitalismo e moralidade é o esforço de Rand em relacionar o capitalismo às relações raciais. O individualismo e o capitalismo são completamente opostos ao coletivismo (que julga valor com base em atributos intrínsecos, e não no mérito individual). Por exemplo, se um comerciante fosse preconceituoso em relação à raça, as pessoas se absteriam de comprar seu produto e a função punitiva do mercado entraria em vigor. Veja os dois exemplos recentes das marcas H&M e Dove e perceba como, mesmo acidentalmente, entrar no domínio do preconceito racial é fatal. “O racismo é a forma mais baixa e cruelmente primitiva de coletivismo”, escreveu Rand, continuando mais adiante que “não são os ancestrais, parentes ou genes de um homem, e muito menos a química do corpo que contam no livre mercado, mas apenas um atributo humano: capacidade produtiva”. É por sua própria habilidade e ambição individual que o capitalismo julga um homem e o recompensa de acordo.”

Deve-se mencionar que a defesa do capitalismo laissez-faire não é uma preocupação primária da filosofia, mas é uma consequência necessária dos ramos que o precedem. É importante interrogar idéias sobre o melhor sistema político para facilitar os princípios de uma sociedade racional. Pode-se ouvir a ideia de uma república constitucional pairando pelo ar, devido aos elementos intrinsecamente antilibertários incorporados à democracia. Isso é pelo fato que, por meio da democracia, o coletivo ou a maioria pode votar sobre a propriedade e a riqueza alheias. Isso se aplica não apenas a assuntos materiais, mas também a assuntos pessoais, como o direito ao próprio corpo e a liberdade de movimento.

O capitalismo permite que o homem seja seu próprio herói. Isso se aplica com relação à ajuda a outras pessoas, pois não é legalmente um dever, mas um desdobramento. A inovação e a produção, conforme ditadas pelos mercados, trazem sucessos mútuos.

O homem heroico se tornou manifesto nos romances de Rand. Escrever ficção pode parecer, ao pé da letra, uma busca estranha para alguém com uma contribuição tão forte nos campos da metafísica, epistemologia, ética e política mas, de acordo com a ideia de Realismo Romântico de Rand, é o meio perfeito.

Rand afirmou que “A arte é uma recriação seletiva da realidade segundo os juízos metafísicos de valor e um artista” (The Psycho-Epistemology of Art, 1965). O caso importante a ser feito aqui é que uma das funções mais desejáveis ??da arte pode ser apresentar o heroico, o melhor e o aspiracional no homem. Isso está em total oposição à Escola Naturalista, que tende a retratar o homem como perturbado e desconectado de um propósito que o impulsiona. Hamlet é inegavelmente uma grande obra e uma conquista fantástica, mas exemplifica o problema filosófico do naturalismo na medida em que tem a tendência de causar uma auto-humilhação na audiência. Pode-se identificar o mundo de Hamlet e concluir apenas que o homem está à mercê das circunstâncias e tem muito pouca autonomia. Por outro lado, pode-se identificar o mundo de Howard Roark em A nascente e se tomar de empolgação, sabendo que seu futuro é o que você deseja fazer dele. Pode-se dizer que a arte deve ser o que vale a pena ser considerado, não o que deve ser abominado de acordo com um sistema objetivo de valores. Por exemplo, uma história sobre um abusador de drogas pode ser muito triste e profundamente eficaz, mas não tem o mesmo mérito estético de uma história sobre um detetive virtuoso.

Portanto, para responder plenamente à questão anteriormente colocada do por que a disciplina da escrita de um romance ser bastante adequada à escrita filosófica, podemos voltar à epistemologia. “A arte traz os conceitos do homem para o nível perceptivo de sua consciência e permite que ele os compreenda diretamente, como se fossem sensações” (The Psico-Epsitemology of Art). Rand via isso como uma função vital da função psicoepistemológica da arte: trazer esses conceitos integrados para o nível perceptivo e fazê-los sentir como nenhum outro tipo de ciência exata poderia.

Estes são conceitos totalmente desenvolvidos em A nascente e A revolta de Atlas. Uma leitura muito mais reduzida, Cântico, é interessante para explorar a utilidade da ficção.

Cântico é o trabalho ficcional mais curto de Rand e pode ser classificado como um romance: o enredo conta a história de dois personagens em um pesadelo distópico onde o conceito do “eu” foi eliminado. Tomo essa obra como exemplo, pois acho que exemplifica perfeitamente o que Rand considerou o propósito da literatura: um fragmento facilmente digerível com personagens heroicos, retratando uma história com importantes valores morais. Estes não precisam necessariamente ser valores de acordo com o Objetivismo, apenas a presença real de valor e escolha. Para isso, podemos olhar para a admiração de Rand por Victor Hugo, que escreveu histórias que são politicamente opostas aos valores objetivistas, mas esteticamente semelhantes.

Portanto, esta é uma breve introdução à filosofia do Objetivismo.

Para mim, é de suma importância levar as ideias de Ayn Rand para a esfera pessoal. Este foi um aspecto fundamental na criação da filosofia: fornecer uma “filosofia para a vida do homem na Terra”. O mundo que ela construiu e sua estrutura filosófica são ainda mais poderosos quando aplicados ao nível pessoal. Quando alguém remove as conotações estigmáticas de “egoísta” e assume total responsabilidade pela vida, é incrivelmente libertador.

Elaborar um sistema de valores, estabelecer metas de longo prazo e esforçar-se para alcançá-los é o propósito mais nobre para ser seu próprio herói. Rand corroborou com sucesso essa mentalidade de pensamento avançado em seu trabalho, e evidências de uma rejeição de valores verdadeiramente satisfatórios podem ser vistas em toda parte hoje: do ocioso apático que se recusa a trabalhar para o homem “bem-sucedido” que usa a força para obter ganhos. Rand viu um esboço diferente para a vida do homem na Terra:

A realidade existe, sua conquista é sua única responsabilidade e suas ofertas são moldáveis: não há nada mais excitante do que isso.

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Publicado originalmente em The Galtine.

Traduzido por Karen Kotz.

Revisado por Matheus Pacini.

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