Encaramos uma situação complicada: sabemos que os Estados Unidos enfrentam protestos diários, mas não podemos confiar na informação dos veículos tradicionais acerca da natureza do movimento Black Lives Matter (BLM). Do lado da esquerda, ouvimos que são protestos majoritariamente pacíficos, organizados por um movimento que luta por respeito aos direitos dos negros[1]. Do lado da direita, ouvimos que são manifestações violentas, organizadas por um movimento marxista que busca a supremacia racial.
Qual dos lados está certo?
Na verdade, nenhum deles – mas ambos se aproximam dos fatos. Como sempre, quando encontramos uma contradição, precisamos verificar nossas premissas[2].
Patrisse Khan-Cullors, fundadora e líder do BLM, é uma professora universitária que, apesar de influenciada por teóricos marxistas como Vladimir Lênin (1870 – 1924) e Mao Tsé-Tung (1893 – 1976)[3], não se identifica com o marxismo tradicional e suas ideias abertamente racistas[4]. Em vez disso, Cullors subscreve à Teoria Crítica – escola de pensamento fundada por autores como Max Horkheimer (1895 – 1973), Theodor Adorno (1903 – 1969) e Herbert Marcuse (1898 – 1979), que mescla o marxismo com o idealismo alemão.
Dos marxistas, a Teoria Crítica adotou seu tipo específico de determinismo social – especificamente, a crença de que o indivíduo é inexoravelmente definido por sua posição no sistema político em que nasceu, podendo apenas escolher entre trabalhar a seu favor, ou contra ele. Em outras palavras, o valor de uma pessoa não é definido por sua honestidade e integridade moral, por exemplo, mas por sua posição no sistema capitalista, e pela escolha entre defender ou atacar esse sistema.
Os teóricos dessa escola também adotam a crença marxista de que o objetivo da Filosofia não é descobrir verdades universais – uma pretensão burguesa dissociada da realidade – mas servir como instrumento de mudança social. Para tal fim, aplicam técnicas marxistas de subversão do sistema estabelecido por meio da hegemonia cultural, pressão econômica e ação militar, que como os russos e os chineses podem comprovar, são extremamente eficazes.
Divergindo do marxismo, porém, os teóricos críticos não crêem que a sociedade seja fundamentalmente moldada pelo conflito econômico entre o proletariado e a burguesia, logo, é errado chamar o BLM de “movimento marxista”. Na verdade, adotam a visão de Georg Hegel (1770 – 1831), que via o mundo como uma arena onde ideias transcendentais competem entre si para se materializar através de ações concretas. De forma simples, os hegelianos não vêem as pessoas como indivíduos que interagem entre si de forma relativamente independente, mas como receptáculos para ideias específicas, que estão em conflito perpétuo entre si.
Como um jovem comum, eu seria um recipiente da “masculinidade” que, na medida em que contradiz a “feminilidade”, está em conflito com ela para moldar as estruturas de poder da sociedade. Desse conflito, surge uma síntese, ou seja, uma ideia que contém, simultaneamente, a masculinidade e a feminilidade. Em termos mais concretos, eu, como rapaz comum, tento subconscientemente transformar a sociedade em uma estrutura de poder que favorece os homens, a menos que me submeta a um complexo e demorado processo de desconstrução – uma espécie de exorcismo ideológico.
Esses diversos conflitos ideológicos não são mutuamente excludentes, mas complementares e simultâneos. O conflito entre masculinidade e feminilidade não é o único que molda a sociedade: ele convive com outros, como o que teoricamente existe entre pobreza e riqueza, ou entre cisgeneridade[5] e transgeneridade. Segundo a teoria crítica, as ideias já estabelecidas tendem a agir “em conluio”, e o sistema que geram trabalha para perpetuá-las. Portanto, devem ser derrotadas em conjunto, derrubando o sistema como um todo. Em outras palavras, o mesmo sistema capitalista que subjuga o pobre ao rico, também subjuga o gay ao heterossexual, e a mulher ao homem e, para que a sociedade, de fato, transcenda essas dicotomias, esse sistema deve ser destruído por completo.
Teoria Crítica de Raça
Dentre as muitas subdivisões desse pensamento, há a chamada “Teoria Crítica de Raça”, que aplica essa mesma fórmula à questão racial. Nesse contexto, a raça não é entendida apenas como característica genética, parte da Biologia, mas como característica cultural[6], uma força essencial no desenvolvimento social. Ao adotar a raça como critério político, os pensadores críticos fazem exatamente o que dizem combater – atribuem certos comportamentos a raças específicas, e dividem as pessoas com base em seus antepassados.
Dentro desse paradigma, alguém que se identifica com a “cultura branca” estaria moldando a sociedade de forma a perpetuar a supremacia da raça branca. Isso vale tanto para pessoas brancas comuns que, ao agir normalmente, reforçam essas estruturas de poder, quanto para pretos, mulatos, asiáticos e quaisquer outras pessoas que não lutem contra a supremacia branca – essas teriam “internalizado os padrões que as oprimem”. Como os Estados Unidos foi “fundado por brancos”[7], seu sistema político seria essencialmente “brancocêntrico”.
Ao contrário do que dizem alguns direitistas, o objetivo do BLM não é a “supremacia preta”[8], assim como o objetivo de Marx não era a “supremacia do proletariado” e, muito menos, a proteção dos direitos dos negros. O BML busca apresentar uma antítese à “sociedade brancocêntrica”, a fim de atingirmos uma síntese “pós-racial”. De fato, como a raça não deve importar no contexto da política e da economia, atingir uma sociedade pós-racial é um objetivo válido, correto?
Não.
Ao retirar a ideia de raça da Biologia e defini-la como um ideal social, os ativistas do BLM interpretam todo e qualquer valor “criado por pessoas brancas” como parte do problema. Infelizmente, para aqueles que não compartilham de seu delírio racista, isso inclui coisas como o pensamento lógico. Para o BLM, a lógica formal deveria ser considerada tão válida quanto o pensamento mágico de tribos primitivas – e só não é por causa do racismo[9]. Assim como a lógica, a estrutura familiar tradicional também seria um instrumento de dominação, que deve ser substituído por “famílias estendidas[10]” e “vilas” coletivistas, em que todos são igualmente responsáveis por todos[11].
Ao contrário do que dizem os esquerdistas, o BLM não busca defender os direitos individuais de cidadãos negros, pois a própria ideia de “direitos individuais” foi criada por homens brancos e, portanto, é “brancocêntrica”. O republicanismo, o capitalismo, e as noções de liberdade e propriedade privada em que se baseiam, cujo valor é reconhecido por indivíduos honestos e racionais de todas as raças, devem ser tratadas com o mesmo respeito que o tribalismo místico e violento prevalente na África e na Ásia, que subjuga o homem às vontades e costumes de seus tios e primos.
Mas se o BLM possui uma ideologia tão insidiosa, que quer acabar com a liberdade e a prosperidade no mundo ocidental, como ele se tornou tão grande? Como conseguem se aproveitar do desejo de tantas pessoas honestas por justiça? A resposta está no conceito maoísta de “linha de massas”.
A estratégia dos dois discursos
O marxismo é um movimento historicamente paradoxal. Por um lado, é baseado na crença de que apenas o espírito revolucionário dos operários pode nos levar à utopia comunista. Por outro, seja na Rússia do século passado ou no Brasil atual, seus líderes sempre foram intelectuais da classe média e média-alta. A estratégia soviética foi apostar na consciência de classe desses intelectuais, para que eles forjassem, a ferro e fogo, um proletariado consciente. No entanto, os chineses decidiram seguir outro caminho.
Em sua Critica à Economia Soviética, Mao Tsé-Tung rejeita a estratégia soviética, em prol do que chamou de linha de massas: adaptar a estratégia política do partido às demandas da população. Percebendo que o camponês chinês não dominava a complexa teoria marxista, Mao propôs que os acadêmicos consultassem e estudassem as insatisfações das massas para, então, reinterpretá-las à luz da teoria socialista e formular sua estratégia política. Por um lado, isso impediria que os intelectuais comunistas, presos em uma bolha academicista, acabassem alienados da luta real das massas. Por outro, daria mais poder ao movimento, convertendo as insatisfações das massas para com o regime vigente em poder político para o movimento comunista.
Educada na teoria marxista, a liderança do BLM adota uma estratégia semelhante. Ao invés de buscar convencer e educar a população geral nas ideias da Teoria Crítica, que assustaria o indivíduo médio “sem consciência crítica”[12], esse movimento busca se aproveitar das insatisfações comuns acerca de problemas reais. Em termos concretos, ao invés de focar na extinção da “cultura branca”, da família nuclear ou da propriedade privada, o BLM adota bandeiras mais amplas e inócuas, como a do antirracismo e da desigualdade social.
De fato, os Estados Unidos têm um problema policial, especialmente nos grandes centros urbanos administrados pelo Partido Democrata, que negligencia a polícia por razões ideológicas. Por um lado, estatistas de esquerda vem desmoralizando e coibindo a polícia local, impedindo o exercício de sua profissão[13]. Por outro estatistas de direita promovem, a décadas, uma guerra autoritária e ineficaz às drogas.
Essas políticas irracionais e autoritárias atingem mais intensamente a população pobre, independentemente de sua raça, mas a situação vem melhorando para a população preta mais do que para qualquer outra raça. Os dados do governo americano mostram que a taxa de encarceramento de negros está diminuindo consideravelmente mais rápido do que qualquer outra raça[14], enquanto sua renda média sobe de forma proporcional[15]. O BLM, porém, adotando a estratégia da linha de massas, se aproveita politicamente da insatisfação causada por episódios específicos de violência, reinterpretando o problema policial à luz de sua narrativa, dando-lhe caráter racial.
O resultado é a criação de dois movimentos paralelos e complementares. De um lado, o “núcleo duro” do movimento, composto por universitários e militantes profissionais que, de fato, entendem e concordam com a ideologia Crítica, e suas políticas violentas e subversivas. De outro, a massa de indivíduos normais que, seduzida pelo discurso palatável de antirracismo e pela oportunidade de “estar do lado certo da história”, fornece recursos, sanção moral e blindagem política ao movimento.
O pensamento que desenvolvi até agora leva a duas perguntas importantes. O indivíduo comum pode não estar particularmente interessado em política ou filosofia, mas não é louco – como, então, é possível que tantas pessoas ignorem a raiz totalitária de um movimento que apoiam? Ademais, se o movimento é composto por duas linhas – uma de universitários e uma de cidadãos comuns – de onde vem os indivíduos violentos com extenso histórico criminal que frequentemente acabam presos ao incitar a violência nos protestos do BLM?
Hegemonia do Racismo Sistêmico
A hegemonia é um conceito inicialmente cunhado por Vladimir Lênin (1870 – 1924), mas desenvolvido e popularizado por Antonio Gramsci (1891 – 1937), que se refere ao domínio cultural de uma narrativa ideológica. Para Gramsci, a ideologia dominante da burguesia não é adotada apenas pelos burgueses, nem forçada violentamente nas camadas mais pobres da população. Ela acaba por se tornar o “senso comum” da população geral, passando a ser reproduzida até mesmo pelos oprimidos pelo sistema vigente.
Um exemplo claro é a ideologia cristã na Idade Média. O sistema político feudal era, sem dúvida, autoritário – uma casta de nobres comandava o sistema político, e privava todo o campesinato de direitos fundamentais. O fundamento desse sistema político era a noção do “direito divino dos reis”, isto é, a crença de que a nobreza tinha direito ao poder que possuía, por ter sido escolhida por Deus para comandar a nação. O cristianismo, porém, era adotado tão fervorosamente pelo campesinato pobre quanto pela nobreza – o senso comum do camponês, portanto, incluía a ideia de que ele deveria ser subserviente a seu senhor feudal, facilitando sua dominação política.
Identificando esse mecanismo político, os marxistas desenvolveram a estratégia, hoje famosa, da “guerra cultural”. A estratégia consiste em ocupar posições de autoridade na educação, na mídia e na classe artística, transformando gradualmente sua narrativa em “senso comum”. O resultado é impressionante – ideias como o socialismo, que décadas atrás eram rejeitadas de forma contundente, foram normalizadas, tornando-se aceitáveis em uma conversa comum.
Dentre as ideias promovidas pelos pensadores da Teoria Crítica nos Estados Unidos, uma está na raiz do BLM: o racismo sistêmico. O racismo sistêmico é a crença de que o preconceito racial não é um fenômeno esporádico e individual, em que indivíduos ignorantes julgam negros por causa da cor de sua pele – consequência indesejável, porém inevitável da liberdade de expressão[16] – mas um valor fundamental da sociedade americana. De acordo com a Teoria Racial Crítica, os EUA foram fundados, não com base nos ideais de Justiça, Liberdade e Propriedade, mas na ideia de superioridade da raça branca, crença essa que molda as instituições do país até os dias de hoje.
De acordo com essa narrativa, a escravidão não foi uma mancha temporária na história americana, herdada dos ingleses e abolida em tempo recorde[17], mas a essência do modelo político americano, que passou a achar substitutos para ela após sua abolição formal. Para o BLM, o sistema policial e legal dos EUA é feito para matar e encarcerar a população negra, mantendo-a submissa à população branca por meio do medo – apesar da ausência de qualquer evidência estatística de que os negros são desproporcionalmente presos ou mortos por policiais. O sistema econômico, considerado capitalista pelo movimento, é visto como uma forma de manter a população branca desproporcionalmente rica – apesar da evidência estatística de que asiáticos ganham, em média, mais do que os brancos.
Por fim, o sistema educacional seria estruturado para condenar à população negra à ignorância e à subserviência, policiando-a desproporcionalmente para que seus membros acabem encarcerados – uma crença conhecida como “tubulação da escola para a prisão[18]“. De fato, o sistema de ensino americano é muito pobre, e a escola é utilizada como um instrumento de doutrinação ideológica, mas como mostrei em um outro artigo, essa política foi implementada, e continua sendo mantida, pelo movimento progressivista, que compartilha suas raízes filosóficas com o BLM.
Lumpesinato e lugar de fala
A hegemonia da narrativa do racismo institucionalizado dá origem a duas diferenças cruciais entre a estratégia do BLM e a estratégia marxista – a noção de lugar de fala, e a instrumentalização do lumpesinato. O “lumpesinato” – de lump, ou “trapo” em alemão – ou “subproletariado” é um termo cunhado por Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) em A Ideologia Alemã para se referir à camada da população que se encontrava “abaixo” do proletariado, tanto em termos econômicos quanto em termos morais.
Essa classe, composta por “vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos”[19] é considerada inútil para o marxismo tradicional, por ser composta por pessoas cínicas e sem consciência de classe. Ao contrário do que ouvimos frequentemente da direita, portanto, o marxismo jamais “defendeu vagabundos” – ao menos, não todo e qualquer vagabundo. O mesmo não pode ser dito da Escola Crítica.
Ao adotar uma narrativa na qual o sistema legal e prisional é um instrumento de segregação racial, o BLM se permite recrutar, não apenas os pobres ou negros, mas os criminosos para sua luta social. Unindo essa narrativa à estratégia clássica utilizada por militantes como os Panteras Negras, e Malcom X de usar violência como forma de pressão política[20], o movimento passa a se utilizar de forma deliberada de criminosos, doentes mentais e ex-presidiários para promover a violência. Forma-se uma simbiose perversa entre criminosos de carreira, que se aproveitam da blindagem moral e legal provida pelo BLM, utilizando-a para intimidar o cidadão comum, com um foco especial em seus oponentes políticos.
Se o lumpesinato é a espada do BLM, o “lugar de fala” é seu escudo. Ao adotar a ideia de que brancos são inerentemente racistas, a Teoria Crítica defende a existência de preconceitos implícitos, que impossibilitariam a um branco, por exemplo, entender a situação na qual vivem os negros. Portanto, apenas negros teriam capacidade de falar sobre a questão racial nos EUA – com exceção daqueles que não possuam pensamento crítico, e tenham internalizado o racismo, discordando das ideias do BLM. A atitude intelectual correta frente à reclamação do movimento e de quaisquer outros ativistas racistas, portanto, seria a de calar a boca e aceitar a “verdade”.
O antídoto
Como vimos, a essência do BLM é uma narrativa falsa, que i) distorce um problema real, dando-o conotações raciais ii) se blinda de críticas ao rejeitar o discurso racional em prol do tribalismo absoluto e iii) oferece impunidade a criminosos, utilizando-os como forma de intimidar a população. Para resolver o problema, precisamos combater esse “tripé” de forma integrada – e, visto que possuímos uma situação racial, política e ideológica semelhante no Brasil, corremos o risco de ter o mesmo problema em um futuro próximo.
Em primeiro lugar, é necessário rejeitar o tribalismo enquanto ideologia, seja ele de classe, sexo, raça ou qualquer outra natureza. Precisamos reafirmar a lógica – o pensamento baseado, não na fé ou no sangue, mas na integração não-contraditória da observação direta – como forma de pensar, e como critério de discussão e organização política. Devemos denunciar o pensamento desse tipo de movimento pelo que ele é – autoritário, irracional e racista – e devemos fazê-lo, assim como os Críticos o fizeram, de forma organizada na academia, nos jornais e na arte.
Além de criticar as ideias, devemos identificar e resolver os problemas concretos que servem de combustível para esse discurso. Devemos identificar as políticas públicas, como a guerra às drogas e as leis trabalhistas, que afetam a todos – mas ainda mais àqueles que, por serem pobres, tem menos recursos para se defender. Para fazê-lo, só há um caminho: limitar o Estado à manutenção dos direitos individuais através da polícia, exército e sistema legal, que são as únicas funções que lhe cabem[21].
Por último, devemos ter em mente que aqueles que violam o direito do indivíduo à sua vida e propriedade impossibilitam o diálogo e, por suas próprias ações, abrem mão de seus direitos. Devemos ter em mente que o pacifismo é tão destrutivo quanto o militarismo, pois como identificou Ayn Rand[22], é o outro lado da mesma moeda. Tendo isso em mente, devemos exercer sempre nosso direito à legítima defesa, combatendo ideias más com ideias boas, e violência injusta com uma violência justa e ainda mais avassaladora – tal como estão fazendo as milícias americanas.
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Revisado por Matheus Pacini.
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[1] O texto original utilizava o termo “preto”, ao invés de “negro” por razões ideológicas. “Negro” se refere, não à cor preta em si, mas à ausência de luz – o termo vem do latim “nigrum”, que era usado para se referir ao céu escuro. Colonizadores portugueses passaram utilizar o termo para se referir aos povos primitivos que consideravam não possuir alma, ou “luz interior”, sendo irracionais e escravizáveis – fato evidenciado pelo uso do termo “negro da terra” por colonizadores portugueses para se referir a índios.
Devido à estranheza causada pelo uso do termo em nossa sociedade, decidimos substituí-lo por “negro” em diversas ocasiões, para não desviar a atenção do leitor do ponto central do artigo.
[2] “Verifique as suas premissas” é uma expressão icônica utilizada diversas vezes em A revolta de Atlas. A ideia é que a realidade é o que ela é, não possuindo contradições. Assim sendo, se as premissas adotadas por uma pessoa levam a uma conclusão contraditória, ele deve revê-las, pois ao menos uma está errada.
[3] Em entrevistas ao New York Post, Time e Dazed, Patrisse descreve a si e seus companheiros do Black Lives Matter como “marxistas treinados”, citando Karl Marx, Vladimir Lênin e Mao Tsé-Tung como influências.
[4] Por ser um materialista, Marx acreditava que a sociedade em que um individuo nasce define a suas ações, pensamentos e valores. Portanto, não surpreende que ele considerasse diversas raças inerentemente inferiores. Em A questão judaica, o autor pinta os judeus como uma raça inerentemente gananciosa, afirmando que “O dinheiro é o verdadeiro deus do judeu. Em A ameaça russa à Europa, ele diz que, das raças que habitam os Balcãs – romenos, albaneses, gregos e outras – é difícil escolher a mais avessa ao progresso. A lista também inclui pretos, que considera menos evoluídos, mexicanos, que considera preguiçosos, e quase qualquer povo que não os habitantes do norte europeu.
[5] Cisgeneridade é um termo usado por teóricos críticos, neo-marxistas e pós-modernos em referência a pessoas que não sofrem com a disforia de gênero – transtorno mental no qual o indivíduo é incapaz de se identificar com seu próprio sexo.
[6] É importante diferenciar a antropologia Crítica da antropologia boasiana, também popular na esquerda política. A segunda escola, fundada por Franz Boas (1858 – 1942), admite a existência de raças genéticas, mas nega sua relevância política e comportamental. A primeira faz o contrário: rejeita a noção de raça apenas na genética, argumentando que essa seria uma construção cultural essencial para a política.
[7] Ironicamente, os Pais Fundadores dos Estados Unidos, em sua imensa maioria, rejeitavam a ideia de que o sangue de um indivíduo era um critério relevante para a política. Os mesmos princípios que os fizeram rejeitar a monarquia inglesa fizeram seus descendentes, menos de um século mais tarde, lutar uma guerra civil para abolir a escravidão a nível nacional.
[8] De fato, existem casos de supremacistas negros, como a canadense Yusra Khogali, que se referiu a brancos como “subhumanos” e “defeitos genéticos”, e não são reprimidos pelo movimento como deveriam. Esses casos, porém, são a excessão, habilitada por um ambiente onde impera a crença de que é impossível que negros sejam racistas.
[9] Livros como White Logic, White Method: Racism and Methodology, de Tufuku Zuberi e Eduardo Bonilla-Silva, e Dismantling Racism: A Workbook For Social Change, de Kenneth Jones e Tema Okum, populares dentre os defensores da Teoria Crítica Racial, definem o pensamento lógico e o individualismo, assim como o perfeccionismo e o “culto à escrita” como aspectos do pensamento racista e branco.
[10] “Família estendida” se refere a tios e primos. A ideia de substituir a família nuclear pela família estendida consiste da abolição da relação especial de uma pessoa com seus pais e irmãos, em prol de seus primos e tios mais distantes, promovendo a igualdade no campo do afeto familiar.
[11] A seção “No que acreditamos” (What we believe) do site do BLM, inclui a meta de “desfazer o requerimento de uma estrutura familiar nuclear prescrito pela sociedade ocidental”.
[12] Como detalhei em um artigo anterior, toda forma de misticismo racionalista requer uma forma interna de adquirir conhecimento. Assim como as religiões judaico-cristã-islâmicas pregam a fé, e o marxismo prega o espírito revolucionário e consciência de classe, a teoria Crítica prega a “consciência crítica” – uma forma específica de pensar que leva em conta o progresso histórico, e resulta nas ideias da escola.
[13] Os problemas impostos aos policiais pela esquerda americana vão de empecilhos específicos, como a proibição do uso de gás lacrimogêneo pelo prefeito de Portland, à desmoralização completa, como o corte de 150 milhões de dólares do orçamento policial pelo prefeito de Los Angeles, que chamou os policiais de “assassinos”.
[14] Os dados sobre encarceramento vem do site do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
[15] Os dados sobre renda média vem do site do US Census, órgão oficial de estatísticas do governo americano.
[16] Impera no Brasil a crença de que certos discursos, como o discurso racista, não estão inclusos direito à liberdade de expressão – uma posição adotada por neo-positivistas como Karl Popper, do qual tratei em um artigo anterior. Teóricos liberais, quer falemos dos Pais Fundadores dos EUA ou de autores modernos como Ayn Rand e Walter Block, percebem que a essência da liberdade de expressão é justamente emancipar o indivíduo das amarras do que é considerado “razoável” pela maioria da sociedade, possibilitando que todo e qualquer discurso possa ser dito e publicado, sem a ameaça de represálias legais.
[17] A inconsistência da escravidão com os ideais americanos foi um tema tratado por muitos dos Pais Fundadores. Alguns, como John Adams (1735 – 1826), Alexander Hamilton (1755 – 1804) e Thomas Paine (1737 – 1809), não possuíam escravos, mesmo tendo a permissão legal para fazê-lo. Menos de 100 anos depois da fundação do país, em 1865, a prática foi proibida a nível nacional com a sanção da décima terceira emenda.
[18] Dentre os “absurdos” que compõem as políticas que levam ao encarceramento de negros nas escolas, os proponentes da teoria da tubulação citam as “leis de tolerância zero”, que estabelecem que estudantes que levem armas de fogo ou trafiquem armas na escola sejam reportados para a polícia.
[19] O 18 de Brumário de Luís Bonaparte – 1852, Karl Marx, p. 63
[20] Para maiores detalhes sobre essa estratégia, e sua utilização por militantes de esquerda, ver Fascismo de Esquerda (Liberal Fascism), de Jonah Goldberg.
[21] Para uma explicação mais detalhada da visão política objetivista, ver Capitalism: The Unknown Ideal de Ayn Rand. Para uma explicação simples, mas concisa, ver O Anarcocapitalismo e A Dialética Austríaca.
[22] “A consequência necessária do direito do homem à vida é o seu direito à legítima defesa. Em uma sociedade civilizada, a força pode ser usada apenas em retaliação, e apenas contra aqueles que iniciam a violência. Todas as razões que tornam o início de violência maligno, tornam o uso retaliatório de violência física um imperativo moral. Se uma sociedade “pacifista” renunciasse o uso retaliatório da força, ela se colocaria à mercê do primeiro bandido que decidisse ser imoral. Tal sociedade alcançaria o oposto de sua intenção: ao invés de abolir o mal, o encorajaria e recompensaria. – The Virtue Of Selfishness, 1964, Ayn Rand, p. 108.