Resenha do Livro Cântico de Ayn Rand

A obra Cântico, da autora Ayn Rand, relata, em formato de diário, a aventura de um jovem sem nome, identificado apenas como Igualdade 7-2521. Nela, o protagonista descreve como é a vida em uma sociedade fictícia e futurística, onde reina um estado coletivista e totalitário em sua plenitude.

Durante a história, são detalhadas minuciosamente as consequências para vida, liberdade e propriedade dos que vivem em tal mundo. O controle da linguagem é a mais evidente dessas mudanças, uma vez que não há a palavra “EU” no vocabulário. O protagonista, por exemplo, inicialmente refere-se a si mesmo como “Nós, Igualdade 7-2521”.

Talvez, em um primeiro momento, seja difícil imaginar que essa sociedade possa tornar-se real. Contudo, acredito que a filósofa tinha um objetivo claro em mente: evidenciar os perigos do pensamento coletivista e de um estado autoritário, exagerando suas ideias para que, assim, seus leitores evitassem caminhos que levam ao destino apontado na obra, apresentando um argumento reductio ad absurdum.

 Dado que o livro foi escrito em 1938, um ano antes da II Guerra Mundial, fomentada por regimes que justamente Ayn crítica, eu questiono aos leitores: talvez as preocupações dela não fossem exageradas. Evidentemente, mesmo que as manifestações dos regimes totalitários não sejam absolutamente iguais às do mundo real, possuem uma essência de pensamento incrivelmente similar em suas premissas. Essa essência, presente nos dias de hoje, precisa ser gerenciada para evitarmos desastres sociais ainda maiores.

Como já mencionado, o controle da linguagem é a primeira evidência no enredo do que um estado totalitário pode promover. Qual é o problema disso? Se você controla o que as pessoas dizem, também controla o que elas pensam consequentemente. Portanto, é imprescindível defender a liberdade de expressão, para que as pessoas possam pensar por si próprias. Atualmente, temos lugares do mundo onde não se pode criticar abertamente uma religião ou um governante sem ser reprimido pelo próprio governo. No contexto brasileiro, há candidatos à presidência que gostariam de regulamentar a mídia, de modo a flertar com o autoritarismo. Caso alguém desrespeite, é razoável presumir que medidas penais, além da censura, possam acontecer com o pretexto de combater a uma hipotética fake news ou argumento calunioso.

Além do autoritarismo que controla a linguagem por meio de forças estruturais, temos o coletivismo que presume explicações para tais atrocidades, com o objetivo de mitigar a ideia de indivíduo. Na descrição da sociedade nem tão imaginária da obra, não há vontade de um homem só, apenas de todos juntos. Os desdobramentos coletivistas presenciados no enredo geram a escassez de avanços tecnológicos, pois todos os homens devem aceitar dito progresso, fato que faz com que a sociedade descrita ainda dependa da vela como fonte primordial de energia. Ponto preocupante, pois historicamente, grandes conquistas da humanidade foram provenientes de atitudes individuais, algo que nos faz lembrar da ideia do Princípio de Pareto. Resumidamente, uma pequena parcela de médicos, por exemplo, é responsável por grande parte das conquistas da medicina. Podemos levar em consideração Karl Landsteiner, responsável pela descoberta de grupos sanguíneos, conquista que, segundo o livro Novo Iluminismo de Steven Pinker, salvou 1 bilhão de vidas com sua descoberta. Quantos outros médicos juntos salvaram a mesma quantidade de pessoas?

Os resultados previstos na história de Cântico são diversos como, por exemplo, a destruição da história, a aversão ao desejo humano, restrição de liberdades individuais (até mesmo o sexo era usado apenas como instrumento de reprodução), o Estado determinando sua profissão, a segregação de mulheres e homens, a restrição do ato de ir e vir, a pena de morte e, por fim, a destruição da ideia de família, uma vez que não há propriedade privada.

É necessário entender que essa construção estadista e coletivista extremista, assim como qualquer imposição ideológica, dificilmente ocorre de maneira brusca, elas são progressivas, fortalecendo-se aos poucos. O autoritarismo ganha força com o crescimento do Estado. Por exemplo, por meio do aumento de impostos, ou pela criação de impostos temporários (como já foi o IPVA – Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor), para depois tornarem-se permanentes.

A moral da história é a seguinte: a essência do ideal coletivista propicia um estado fortalecido e logo autoritário e ineficiente. A liberdade é retirada do povo progressivamente em diferentes âmbitos da sociedade até nos tornamos peças de brinquedo de nossos governantes. Uma pequena parcela da sociedade então, seja por vaidade ou luxuria, destina ao povo a pobreza, a barbárie e a precariedade tecnológica, mantendo todos em condições precárias. Uma vida sem aventura, amor e sem liberdade, será mesmo que é uma vida? Então, assim como nossos protagonistas de Cântico, vamos lutar pela nossa liberdade.


Revisado por Matheus Pacini.

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