Resenha: “A nascente”

Ayn Rand (1905-1982) foi uma escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana de origem judaico-russa, criadora do Objetivismo, o qual ela chamou de “uma filosofia para a vida na Terra”. De origem judia, procurou disfarçar sua herança étnica, temendo ser prejudicada pelo antissemitismo. Filha de um dono de farmácia, teve reforçada a antipatia pelo comunismo, que a acompanharia por toda a vida, quando o estabelecimento comercial de seu pai foi convertido em propriedade estatal dos bolcheviques vitoriosos na Revolução de 1917.
Rand defendeu a razão como o único meio de adquirir conhecimento e rejeitou a fé e a religião. Ela apoiou o egoísmo racional e ético e rejeitou o altruísmo. Na política, condenou a iniciação da força como imoral e se opôs ao coletivismo e ao estatismo, bem como ao anarquismo, apoiando o capitalismo laissez-faire, que definiu como o sistema baseado no reconhecimento dos direitos individuais, incluindo os direitos de propriedade.
Seus romances mais famosos e influentes foram “A Nascente”, de 1943, e “A Revolta de Atlas”, de 1957. O livro “A Nascente” é um romance que traz o conflito entre os criadores e todos aqueles que vivem às suas custas, apenas repetindo, imitando e absorvendo tudo o que eles fazem. Este livro é tão atual hoje quanto devia ser na década de 1940, quando foi publicado nos Estados Unidos, pois apresenta algumas das teorias de Ayn Rand, como a filosofia objetivista e o conceito de egoísmo racional.
O herói do romance é Howard Roark, um homem de integridade inabalável, que enfrenta obstáculos durante a obra como o desemprego, a ruína financeira e a humilhação pública, porém nunca renunciando a seus valores. O livro nos traz o conceito de que o ego do homem é a nascente do progresso humano, ou seja, a fonte de todas as suas realizações e conquistas. Apesar de sempre sofrer pressão social, profissional e financeira, durante toda sua vida, para que se adapte aos modelos estabelecidos, Howard Roark impressionantemente nunca cede. O herói é um individualista. Ele sempre confia nos próprios pensamentos para chegar a suas conclusões, sendo que justamente por isso, é um homem verdadeiramente livre. Sua profissão e paixão é a arquitetura, sendo que ele deixa muito claro que o mais importante são suas construções e suas realizações por mérito próprio, não seus clientes, que são apenas um meio para atingir esse fim desejado.
Roark combate três tipos de pessoas que sempre rejeitam suas ideias ao longo da obra. São eles os tradicionalistas, os conformistas e os parasitas. Os tradicionalistas são todos aqueles que vivem presos e ligados ao passado, representados, por exemplo, pelos professores e por parte da sociedade. Para esse grupo a verdade não se constitui em uma relação entre a ideia e os fatos, mas entre uma ideia e seus antepassados. Exemplificando-se no livro pela arquitetura, essas mentes influenciadoras julgam que sempre devem ter toques de clássicos antigos no que é construído, assumindo compromissos estéticos com o passado.
O segundo tipo de pessoas são os conformistas. São aqueles que seguem personalidades e tentam sempre agradar a todos, incapazes de optar pelas suas preferências, rendendo-se às expectativas dos outros. Tal grupo é ilustrado por Peter Keating, amigo de Howard Roark na faculdade. Keating cresce na empresa por meio de manipulação dos funcionários, de maneira oportunista e desonesta, sem amar realmente a profissão muito menos agir de maneira ética. Ele é um alpinista social. Como Peter Keating nunca viveu de acordo com seu próprio julgamento e valores, ele se trai o tempo todo e vive uma vida vazia, acabando infeliz e depressivo, ao contrário de Howard Roark.
O terceiro e último grupo é o dos parasitas. Estes, representados principalmente pela figura de Ellsworth Toohey, sempre está pregando que os indivíduos são obrigados a sacrificar suas vidas para a sociedade, que um país exige um governo ditatorial com poderes coercitivos para impor essas obrigações, e que os mais criativos e produtivos devem ser obrigados a servir aos menos favorecidos. Este grupo sempre persegue o poder, sendo o mais perigoso de todos. A figura de um parasita não aceita mentes pensantes e querem eliminá-las e corrompê-las a todo custo. São essas mentes, como a de Howard Roark, que apresentam uma enorme ameaça a esse grupo, pois são incontroláveis.
A figura de Gail Wynand é uma dessas mentes brilhantes, que infelizmente, o sistema ou os parasitas consegue corromper. Ele tenta se redimir depois de um longo tempo de vida e consegue viver de verdade por um período, porém o sistema e os parasitas acabam com sua vida e o levam a um final catastrófico. Além de Gail, também podemos ver o primeiro empregador de Howard Roark, Henry Cameron, como um semelhante seu. Infelizmente também não conseguiu resistir a esse parasitismo e teve uma vida infeliz. Obteve durante um tempo o sucesso, mas sucumbiu, pois o sistema e o parasitismo foram mais fortes. A eterna paixão de Howard Roark, Dominique Francon, é outra personagem que durante todo o tempo balança entre sucumbir ao sistema e resistir e se manter digna aos seus valores. Howard certamente ajuda muito a manter a chama do individualismo acesa.
Esse livro nos ensina muito sobre termos autoestima e nos mantermos fiéis a nossos propósitos e valores. Todo homem deve buscar sua felicidade por seus motivos próprios e não por interesse de terceiros, funcionando sempre de forma independente. O discurso de Howard Roark, em seu julgamento, demonstra claramente os conceitos de Rand e de sua filosofia objetivista.
“Nada é dado ao homem na Terra. Tudo o que ele precisa tem que ser produzido. E esta é a alternativa básica que o homem enfrenta: ele pode sobreviver de duas maneiras: por meio do uso independente de sua mente ou como um parasita alimentado pelas mentes de outros. O criador origina. O parasita toma emprestado. O criador enfrenta a natureza sozinho. O parasita enfrenta a natureza através de um intermediário. O criador vive em função do seu trabalho. Ele não precisa de ninguém. Seu objetivo principal está dentro de si mesmo. O parasita vive em função dos outros. Ele precisa dos outros. Os outros são a sua motivação principal. “Rand, Ayn – A Nascente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Inscreva-se na nossa Newsletter