Em A Revolta de Atlas, Ayn Rand conta a história de uma empresária que enfrenta diversas adversidades para manter em funcionamento a companhia ferroviária que fora fundada por seu avô algumas décadas antes. Escrito em 1957, o romance é atemporal, embora seja evidente que a ideia da autora era retratar um futuro não muito distante. Nele, os Estados Unidos era a única nação cuja economia não fora ainda totalmente estatizada, porém, ao longo da narrativa, as intervenções do governo se tornem cada vez mais frequentes. Nesse cenário, sem abrir mão de sua crença na capacidade do indivíduo, a heroína defronta-se com a crescente regulação defendida pelos agentes estatais e pseudoempresários que, sempre sob a justificativa de proporcionar o bem comum, impõem graves limitações à atividade empresarial. Os efeitos dessas políticas são (ou deveriam ser) conhecidos por todos os brasileiros: eliminação discricionária da concorrência, êxodo das mentes brilhantes e, finalmente, recessão econômica e aumento da pobreza, dentre tantos outros.
Porém, é importante notar que se, por um lado, o cenário distópico construído por Ayn Rand torna evidente as consequências nefastas da ingerência estatal sobre a atividade empresarial, por outro, serve para enfatizar a importância dos empresários e empreendedores para a sociedade. Nesse sentido, a obra deve ser compreendida como uma exaltação aos indivíduos que, motivados por suas convicções pessoais, correm riscos e investem capacidade, tempo e dinheiro na construção de organizações cujo único objetivo é impactar a vida daqueles que estão ao seu redor.
No entanto, há quem critique o texto de Ayn Rand por glorificar o lucro, a ambição e o individualismo. A esses, a autora certamente responderia que “se me perguntassem qual a maior distinção dos americanos, eu escolheria (…) o fato de que foram eles que criaram a expressão ‘fazer dinheiro’. Nenhuma outra língua, nenhum outro povo jamais usara essas palavras antes, e sim ‘ganhar dinheiro’. Antes os homens encaravam a riqueza como uma quantidade estática a ser tomada, pedida, herdada, repartida ou obtida como favor. Os americanos foram os primeiros a compreender que a riqueza tem que ser criada”. Trata-se, portanto, não da exaltação pura e simples do indivíduo, mas do reconhecimento de que cada indivíduo deve ser livre para almejar seus objetivos e sua própria felicidade, pois é somente por meio dessa busca egoísta-racional que ele transforma a vida dos que o rodeiam.
É certo que a obra, com suas mais de mil páginas, traz inúmeras mensagens e lições, podendo ser interpretada de diversas maneiras. Porém, o aspecto que inspirou a 29ª edição do Fórum da Liberdade é justamente aquele que enaltece empresários e empreendedores como principais agentes transformadores da sociedade, verdadeiros “motores do mundo”. Daí decorre a indagação colocada como título daquela edição: “Quem move o mundo?”, um questionamento que, além de provocar, tem a intenção de conscientizar, sustentado numa mensagem voltada para dois públicos: a sociedade e os empresários.
· Dirigimo-nos à sociedade, objetivando combater a ideia, tão comum em nosso tempo, de que o empresário é o grande vilão, pois busca tão somente o lucro e para isso se aproveita do trabalho alheio. É chegada a hora de entender que, muito além de gerar empregos e pagar tributos, empresários e empreendedores devem ser reconhecidos pela sua capacidade de produzir e oferecer produtos e serviços cada vez mais complexos e desejados, proporcionando mais conforto e melhores condições de vida à população.
· Dirigimo-nos aos empresários, pois desejamos profundamente que abandonem o sentimento de culpa pelo seu sucesso, pois essa é a única arma de que dispõem os burocratas, que acreditam e pregam que aqueles que produzem têm o dever moral de suportar o mundo sobre os seus ombros. Precisamos urgentemente que percebam que a atividade empresarial é a única responsável pela criação da riqueza que sustenta todas as outras, e não o contrário. É essencial que acordemos para o fato de que empreendedores são os únicos que detêm a capacidade de liderar organizações produtivas que transformam matérias-primas brutas em objetos de desejo e que, por isso, não deveriam estar sujeitos a alvarás e autorizações concedidas por quem nada produz. Urge, afinal, que compreendamos de uma vez por todas que somente o seu esforço, as suas ideias e a sua determinação são capazes de surtir efeitos desejáveis e produzir mudanças positivas na sociedade Não existe outra entidade, organismo ou associação autossustentável com esse poder, pois é por meio da aspiração egoísta de satisfazer seus sonhos que um visionário transforma recursos escassos em riqueza, contribuindo, assim, para mover o mundo.
É verdade que as linhas acima não escondem qual é a nossa resposta para a indagação do título, mas o Fórum da Liberdade é um evento de debates, plural, e por isso nosso desejo é favorecer a livre discussão de ideias, sejam elas complementares, ou mesmo contrárias ao nosso entendimento. Não podemos, no entanto, deixar de apresentar projetos e avanços que surgem a cada dia, frutos do trabalho, empenho e determinação de empresários, empreendedores, visionários e inovadores que, assim como a protagonista de A Revolta de Atlas, enfrentam enormes desafios com o intuito de propor soluções aos problemas do cotidiano e colher, assim, as recompensas pela sua ousadia.
“Quem é John Galt?” é uma expressão que os personagens de A Revolta de Atlas utilizam para contestar uma pergunta que não desejam responder, quando são flagrados em suas próprias contradições. É como se, ao tentar evitar encarar a realidade, essa fosse deixar de existir e o personagem em questão fosse tranquilamente retornar a sua zona de conforto. Felizmente, não basta ignorar a realidade para que ela desapareça. Há perguntas que, como Ayn Rand demonstra em sua obra, não podem permanecer sem resposta. É preciso, afinal, responder: “quem move o mundo?”
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Revisado por Matheus Pacini
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