Assisti ao início do programa Roda Viva com Elie Horn, dono da Cyrela. Os jornalistas repetiam as perguntas-chavões: quando, por que, como e para quem o entrevistado doaria a sua fortuna.
Elie Horn respondia apenas que queria fazer o bem, para o bem e pelo bem. Os repórteres insistiram até que ele confessou, dizendo que resolvera doar sua fortuna porque alguém, um dia, teria lhe dito que ele era um mesquinho egoísta que não dava nada para ninguém, e que aquilo não era vida. Ouvi isso estupefato. Isso era inacreditável. Desliguei.
Não há nada mais falso, triste, perverso do que aquilo em que eles fizeram Elie acreditar. Eu me senti incomodado com o que Elie tinha dito.
Eu me senti mal porque dava para ver que Elie Horn havia levado a sério o que aquela pessoa havia lhe dito. Ele parecia angustiado por não ter ainda conseguido doar o que havia prometido.
O empresário caiu em uma armadilha psicocognitiva que cativa, e da qual é difícil se libertar.
Alguém precisa fazer justiça a Elie Horn.
Alguém precisa fazer justiça a todos aqueles que dedicaram as suas vidas para criar valor para os outros através das suas ideias e do seu trabalho.
Valor criado para que pudessem ter uma vida digna e dar uma vida digna àqueles e àquilo que escolheram amar.
Fazer Elie Horn sentir-se culpado por ter enriquecido, induzindo-o a se desfazer da sua fortuna, como se estivesse em débito com a sociedade, é sombrio, é uma fraude, é inaceitável.
Elie Horn começou a fazer o bem no exato momento em que decidiu empreender. O bem produzido por Elie começou quando ele resolveu assentar o primeiro tijolo da primeira parede, do primeiro apartamento, do primeiro edifício que construiu para seu primeiro cliente.
Na realidade, quando ele comprou o primeiro tijolo, ele e o oleiro fizeram um bem para cada um à sua maneira.
Elie Horn pode passar o resto de sua vida doando toda a fortuna que acumulou, se esse é o seu desejo. No entanto, ele jamais conseguirá fazer um bem maior do que aquele que fez durante o período em que passou construindo e acumulando a sua riqueza.
Vocês já se perguntaram por qual motivo a Receita Federal chama a declaração patrimonial de declaração de bens? Chama-se assim pois todos os que criam valor, cooperam entre si, trocam os valores criados voluntariamente com os outros, para proveito e benefício mútuo, estão criando, produzindo, trocando e acumulando bens.
Em uma sociedade livre, bens são acumulados apenas quando alguém, com a sua capacidade criativa ou laboral, faz um bem para os outros.
Vejam o caso de Bill Gates.
O dono da Microsoft apenas nos últimos 15 anos produziu para seus clientes valor equivalente a mais de 1 trilhão de dólares. Repito, mais de 1 trilhão de dólares.
Bill Gates nunca foi idolatrado por isso. Passou a sê-lo quando disse que doaria uma fração disso, 90 bilhões de dólares, parte da sua enorme fortuna.
Notem que, desse trilhão, 750 bilhões foram pagos para pessoas que também criaram valores equivalentes para a Microsoft como fornecedores de coisas, ideias e mão-de-obra.
A Microsoft criou oportunidades que fizeram com que indivíduos na sociedade recebessem 750 bilhões de dólares, sem os quais a Microsoft não teria como criar o trilhão que criou, assim como, sem a Microsoft, todos aqueles que receberam 750 bilhões de dólares talvez não tivessem recebido nada.
Os 250 bilhões que sobraram foram capitalizados na empresa ou distribuídos aos acionistas na forma de pagamento de dividendos, retribuição justa para quem fez o bem à sociedade por ter investido seu dinheiro em um cara tão genial quanto Bill Gates, através da sua máquina de fazer o bem, chamada Microsoft.
Essa história de fazer o bem não termina aí, vai além.
O 1 trilhão que as pessoas pagaram para adquirirem o que Bill Gates tinha a oferecer resultou em trilhões e trilhões a mais, pois os produtos da Microsoft permitiram que seus clientes, somados, criassem muito mais valor nos seus próprios negócios do que a própria Microsoft seria capaz de criar.
Assim como ocorreu com Bill Gates, para Elie Horn deixar de ser visto como um mesquinho egoísta, além de ter que pagar parte do seu dinheiro para os parasitas do governo e os que em volta dele orbitam, foi-lhe exigido que doasse uma parte importante da sua fortuna, mas que na realidade é uma parte ínfima do que ele criou e entregou à sociedade sem que a isso fosse dado o nome de filantropia.
Isso é de uma ingratidão inaceitável.
Elie Horn confessou no Roda Viva que sempre manteve discrição sobre suas atividades empresariais, os próprios jornalistas reclamaram que ele não atendia aos pedidos da imprensa para concessão de entrevistas.
Elie Horn respondeu que passou a fazê-lo a partir do momento em que resolveu dar exemplo para os demais empresários de como eles deveriam fazer o bem através da caridade.
A mensagem que Elie Horn passou é a de que ele se envergonhava de sua riqueza, mas agora que está distribuindo-a caridosamente, se permite orgulhar-se dela.
Gostaria que vocês entendessem que eu não estou criticando Elie Horn por fazer caridade. Ele tem o direito de fazer o que ele quiser com o seu dinheiro, seja para fazer caridade, para construir outra Cyrela ou rasgar o dinheiro todo que possui na praça.
Caridade também é uma iniciativa, que se feita adequadamente, torna-se um bem para a sociedade e para o indivíduo que a faz.
O que me deixa contrariado, e é isso que eu quero deixar bem claro, é que o maior bem que Elie Horn ou Bill Gates fizeram para a sociedade começou quando resolveram ganhar seu primeiro centavo produzindo valor.
Lembrem-se de que, se eles não tivessem criado suas fortunas, ninguém teria sido beneficiado por eles e tampouco haveria algo a ser doado como filantropia.
Elie Horn e Bill Gates, como todos os empreendedores que fizeram um bem para a sociedade com suas empresas, devem se orgulhar e devem ser venerados pelo que produziram enquanto empresários, muito antes e muito mais do que aquilo que doaram.
O mais icônico dos casos onde essa dissociação cognitiva perversa, que não vê virtude no egoísmo racional, no autointeresse criativo, que leva homens extraordinários a criarem para si e para a sociedade fortunas incalculáveis, é o de Andrew Carnegie.
Andrew Carnegie mudou a história da indústria, saiu da miséria com trabalho árduo, nunca estudou em escola alguma, pode ser considerado o empresário que construiu a maior fortuna da história em uma única geração, tendo sido também o maior filantropo já visto nos Estados Unidos.
Andrew Carnegie, apesar disso tudo, até hoje é tratado como um robber baron, um “barão ladrão”, apesar de ter enriquecido e prosperado sem usar de coerção.
Homens como Andrew Carnegie, John D. Rockefeller, J. P. Morgan, Cornelius Vanderbilt, Bill Gates, Steve Jobs e Elie Horn doam para a sociedade o que têm de melhor: sua incrível capacidade de produzir valor para mútuo benefício.
Empreendedores como eles deveriam ser venerados e glorificados enquanto criam suas fortunas impressionantes.
No entanto, costuma ocorrer o contrário: acabam sendo fustigados e criticados pela imprensa, pelos políticos, pelos governos e por toda sorte de ressentidos e recalcados.
Eles mesmos, os empresários, com seus legados legítimos, apesar do bem que fazem para si, para os seus e para a sociedade, acabam se sentindo culpados por terem se tornado tão ricos.
É preciso recorrer à etimologia para colocar as coisas no seu devido lugar. Filantropia vem do grego e significa “amor à humanidade”.
Que espécie de homem “ama a humanidade” quando chama de mesquinho egoísta um sujeito capaz de enriquecer incrivelmente por entregar aos seus semelhantes o que eles desejam obter para alcançar a felicidade?
Todos os que criam valor e geram riqueza são essencialmente filantropos. Até mesmo a autoestima e a ambição, o egoísmo e a ganância, utilizados racionalmente para melhorar a própria vida, são um ato de filantropia.
Todo homem produtivo, todo homem que cria valor, todo homem que comercia, todo homem que busca lucrar para melhorar de vida é um filantropo, afinal, amar aos outros como se ama a si mesmo não faz parte da humanidade que nos caracteriza?
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Publicado originalmente em Instituto Liberal.
Revisado por Matheus Pacini.
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