Ayn Rand nasceu em São Petersburgo, em 1905, foi educada na Rússia e emigrou para os Estados Unidos em 1926 e faleceu em Nova York em 1982. Sendo assim, Rand foi uma testemunha ocular do seu caráter totalitário. Foi uma autora polêmica e influente que, além de best-seller, era lida e debatida nas universidades, nos veículos de comunicação e até mesmo no Congresso americano. Seu pensamento veio à tona num período em que o coletivismo assolava o mundo, tanto na Rússia comunista quanto na Alemanha nazista e Itália fascista. Rand explicitava quão nocivo era e o rotulava não apenas como um mal moral, mas como a causa mesma dos males políticos que minaram o mundo civilizado. O livro Cântico leva essa problemática ao extremo, a tal ponto que a primeira pessoa do singular, o “Eu”, deixa de existir, em função do coletivismo.
Na obra, Rand explora bastante a faculdade racional do homem, que é responsável por suas escolhas, que é de onde as suas emoções derivam. Sendo assim não seria possível existir uma razão coletiva, tal como há a tentativa de representação na obra. O ego, dessa forma, é o que torna o ser humano um indivíduo, o que o distingue dos demais.
Ao escrever a obra, demorou para conseguir publicá-la, pois os anos 20 nos EUA eram conhecidos como “a década vermelha” por conta da preponderância da intelectualidade comunista).
O livro gira em torno do conflito do indivíduo contra o coletivo, elemento fundamental da política objetivista. O núcleo da obra gira em torno do conflito do herói, Igualdade 7-252, de pensar, agir e amar livremente, em contraponto com a ordem governamental oprimente.
Nessa distopia, o processo de dissolução das consciências individuais atingiu seu máximo, e quando a individualidade se extingue por completo, o coletivismo atinge o seu propósito último.
De acordo com a autora, é a covardia moral das pessoas que permite que um contexto como o que se passa na obra se instale. Homens racionais devem refletir sobre suas ações e aceitar as consequências racionais de suas ações, mesmo quando a avaliação racional do que estava em jogo não fora efetuada.
Dessa forma, a distopia chega a tal ponto com anos de propaganda ideológica vendendo a ideia de que o meio social determina a consciência do indivíduo e não o contrário, em que se cria o pano de fundo perfeito para a abolição completa da consciência individual. De tal forma que há inclusive um controle da linguagem, que gera um controle de pensamento, pois aqueles que pensam com as palavras autorizadas pelo governo, pensam o que o governo, de fato, deseja. Caso contrário, é punido severamente ou mesmo queimado vivo (tal como visto na obra). Dessa forma, como mencionado acima, a palavra “eu” havia sido completamente abolida e, portando, as noções de individualidade também tinham sido completamente suprimidas e as personagens desconhecem, na maior parte da história, pronomes pessoais singulares, o que impossibilita inclusive a demonstração de afeto um para com o outro, dada a falta de vocabulário para tal.
Concluindo, com essa obra belíssima, Rand nos alerta sobre os perigos que o coletivismo pode acarretar tanto na sociedade, quanto na moral, felicidade e individualidade de uma
população. Obra essencial, principalmente quando o mundo estava sendo tomado por governos populistas, tanto de direita quanto de esquerda, que iam em linha com a doutrina imposta pelos governantes da distopia aqui descrita.