Por que ler a obra “Cântico”?

Vivemos em uma sociedade dividida entre aqueles que apoiam a “direita” e aqueles que apoiam a “esquerda”. Poucos, entretanto, sabem que existe outro caminho que identifica as similaridades entre os extremos tradicionais, a saber, o Objetivismo. Uma das principais críticas do sistema coletivista é a romancista e filósofa russa Ayn Rand.

O coletivismo é uma perspectiva que prioriza os interesses de um grupo em detrimento dos indivíduos; o bem-estar coletivo é mais importante que os interesses individuais. É possível, então, notar a presença desse conceito nos discursos, planos políticos e manifestações gerais tanto da direita quanto da esquerda. Foi no ápice da disseminação desse conceito que Ayn Rand, em 1937, escreveu o romance distópico Cântico. A obra acontece no futuro, um futuro completamente dominado pelo coletivismo, onde após um “Novo Renascimento”, o Estado controla todas as instâncias da sociedade. Neste futuro, houve um retrocesso tecnológico e cultural, onde pessoas não possuem nomes e são “chamadas” por números – nota-se similaridades ao tratamento dado pelos nazistas aos judeus. A crítica, apesar de parecer extrema, é a materialização da influência do Estado e como ela conduz a sociedade rumo à servidão, vide O caminho da servidão, de Hayek.

Com base nas ações do Estado coercitivo, Ayn Rand expõe suas ideias objetivistas e cria a narrativa de um jovem – Igualdade 7-2521 – quem diverge de todos os outros indivíduos tanto em aspectos físicos, por ser mais alto que os demais, quanto em aspectos psicológicos, pela curiosidade e busca pela verdade. Esses traços fortes que contrastam o protagonista com os outros dão o ritmo para ao evolução do livro, da proibição ao termo “eu”, da proibição de amar, da proibição de pensar e da necessidade de que todos sejam iguais.

Apesar de ser uma obra de ficção, existem similaridades com o mundo atual, por exemplo, a realidade vivida pelas mulheres no Afeganistão, onde possuem sua liberdade totalmente restringida e menor possibilidade de ascensão social. Ainda neste país, podemos observar o retrocesso econômico, de modo similar ao existente no mundo distópico de Igualdade 7-2521, que já foi referência de desenvolvimento no Oriente Médio, mas que hoje carece de estrutura básica de saneamento, educação, entre outros.
Outra conexão com a realidade é a coerção da força opressora frente à tecnologia e inovação, a qual ataca o protagonista por ter inventado a lâmpada e arriscado o emprego dos criadores de velas. Neste aspecto, podemos fazer boas conexões inclusive com indivíduos que defendem a manutenção de cargos públicos ineficientes, inteligência artificial, entre outros – inclusive, este é um tema em voga em nosso arcabouço trabalhista ante a disrupção e inovação.

Em suma, a obra nos leva a inúmeras reflexões sobre a liberdade individual e de expressão, tanto por meio dos embates entre o governo opressor e o protagonista, como pela jornada do protagonista até chegar ao conhecimento do significado e sentimento da palavra “eu”.

No aspecto ofensa à liberdade individual e de expressão, não é uma situação que ocorre apenas nos livros. Temos muitos exemplos atuais no Brasil onde pessoas e meios de comunicação foram censurados por terem opiniões divergentes dos membros do poder judiciário. Devemos saber criticar bem a informação que chega até nós e, de certo modo, investigar a sua origem para não sermos mais um indivíduo intoxicado por calúnias.

Por fim, destaco também a jornada em busca do “eu”, em que o protagonista da história demonstra traços de coragem, curiosidade e sede de sabedoria. Após beber o conhecimento de vários livros que achou em uma casa abandonada, passa a ter um sentimento estranho que não consegue identificar e que, mais tarde, descobre ser a palavra “eu”. Atualmente, as pessoas são bombardeadas de informações, opiniões, crenças e rotinas que lhe tiram o foco de saber quem ela realmente é, bem como seus interesses e deveres individuais. Cântico demonstra bem essa luta diária com um sentimento da vitória do “eu”.

O livro é o primeiro de uma série de obras de Ayn Rand que aprofundam seus pensamentos e seu argumento em defesa da liberdade. Uma ótima leitura, independente do ambiente social e político.

“Rogério Rios é responsável pela área de estruturação na Enforce, o braço de investimentos alternativos do Grupo BTG, grupo que é membro há 6 anos. No BTG, Rogério também passou pela área de crédito. Formado em Ciências Econômicas pelo IBMEC-MG, Rogério é membro do IFL-SP e estudante de filosofia e geopolítica.”


Revisado por Matheus Pacini.

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