Filosofia e arte: fundamentais para um mundo livre

“É um pecado escrever isso.”

Ayn Rand proferiu essas palavras em 1937, retratando um mundo em que era considerado perverso pensar, divergir e, em última instância, ser um indivíduo. Hoje em dia, falar o nome Ayn Rand, ter a convicção de que o capitalismo é o único sistema econômico coerente com liberdade, paz e prosperidade é uma perversão do mais alto escalão. Fazê-lo, sendo um artista, então, é praticamente impensável.

Os inimigos do capitalismo taxam-no, sem pestanejar, como um exercício de exploração, alegando que seus praticantes são gananciosos barões-ladrões. Evidentemente, essa é uma afirmação falsa. Para entender a natureza dessa falsidade, é preciso examinar a premissa ética do capitalismo.

O capitalismo é um sistema político-econômico em que a atividade econômica de um país se encontra nas mãos da iniciativa privada, em vez do Estado. Em sua essência, ele depende da ética do autointeresse [egoísmo] racional. A definição popular [denotativa] de autointeresse (ou seu sinônimo, egoísmo) é de espertalhão, corrupto, ladrão e sem coração, cuja meta de vida é explorar e prejudicar os outros em prol da realização de seus objetivos. Tal má interpretação foi, e continua sendo, motivo de confusão intelectual que contribui para a estagnação e a regressão de sociedades ao redor do mundo.

O significado real de egoísmo é precisamente o oposto, uma vez que, o autointeresse só pode ser atingido através de relações voluntárias de benefício mútuo. Os oponentes do capitalismo mudam os termos da discussão ao omitir o “racional” do contexto do autointeresse.

Todos os valores, incluindo a sobrevivência e o florescimento humano, é um produto da mente, da nossa capacidade de pensar e raciocinar. Para pensar, precisamos ser livres e deixados em paz. O foco primário da ideologia altruísta-coletivista é usar a coerção estatal, ou da maioria (democracia), para interferir em nossas vidas. O inimigo da mente é a força, a coerção, e é fácil notar na realidade por que o ser humano deve ser livre da força. O uso de força física (coação) e coerção lhe nega a possibilidade de perseguir e criar valores.

É possível imaginar Thomas Edison inventando a lâmpada com a regulação estatal em seu encalço? Ou Andrew Carnegie sendo promovido de cargo por se dispor a uma jornada de 12 horas de trabalho e a aprender sozinho a decifrar código Morse sem transcrição (uma habilidade apenas por mais uma pessoa na época), caso fosse submetido às jornadas impostas por sindicatos? É impossível pensar sob ameaça de força; é impossível agir de acordo com seu autointeresse com grilhões em suas pernas. Assim como ninguém mistura veneno ao seu café, não existe meio termo entre estatismo e liberdade.

Quando corretamente entendido, o capitalismo é o sistema que busca remover a iniciação da força de todas as relações interpessoais, preservando e exaltando o direito natural à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da felicidade. Se corretamente praticado, o capitalismo é o sistema que permite tudo isso, liberando o consumidor para escolher os produtos que quiser.

Fico profundamente perturbado com o que vejo nos campi universitários hoje em dia. Fico profundamente perturbado pelos princípios expostos no cotidiano por “líderes” do pensamento ocidental e pseudointelectuais. Os alarmistas da desigualdade de renda, os justiceiros sociais, Obama e seu discurso “que você não construiu isso”, Thomas Piketty e Paul Krugman, Sanders – todos eles procuram impor a força física nas relações humanas de diversas maneiras: de leis que limitam e suprimem a livre expressão e organização até regulações sobre atividades privadas, essa suposta busca pelo bem comum, somada à intervenção governamental, acabam por atrapalhar e inibir a inovação, a produção e o crescimento. Essas posições são anti-intelectuais, são antirazão, são antiliberdade, e são, por fim, antivida. Elas buscam roubar do indivíduo os frutos de seu trabalho, redistribuindo tais frutos para os que não trabalham.

Em contraste, as liberdades política e econômica, que os indivíduos poderiam aproveitar sob o capitalismo de livre mercado, ou capitalismo laissez-faire, tornam o sucesso uma questão de escolha, e não de sorte, de mérito, e não de privilégio, com o mercado recompensando habilidade e ambição em vez de impotência e mediocridade.

No livro A Nascente, Miss Rand nos lembra que:

“Ao longo dos séculos, existiram homens que deram os primeiros passos em novos caminhos, armados apenas com sua própria visão. Seus objetivos variavam, mas todos eles tinham algo em comum: o seu passo era o primeiro, o seu caminho era novo, a sua visão era original e a reação que receberam… o ódio. Os grandes criadores… pensadores, artistas, cientistas, inventores… – enfrentaram sozinhos os homens de seu tempo. Todas as grandes ideias originais foram atacadas. Todas as invenções revolucionárias foram denunciadas. O primeiro motor foi considerado uma bobagem. O avião, impossível. A máquina de tear, maligna. A anestesia, pecaminosa. Mas os homens de visão independente seguiram adiante. Eles lutaram, sofreram e pagaram. Mas venceram.”

Autointeresse exige trabalho árduo. Conhecer e entender o que está em seu autointeresse demanda exame cauteloso, bem como esforço constante. Os pavimentadores daquelas que foram, outrora, novas estradas, essas mesmas em que hoje andamos, não criaram e construíram armados com capricho ou lazer, mas através da aplicação persistente e egoísta de suas mentes. Inabalados por falhas pessoais, pela opinião pública, por críticas, por colegas, pelo cassetete do governo, e até mesmo pelo papa, os verdadeiros grandes do passado do presente superaram muitos desafios. Perseguindo seus valores mais elevados, sua existência se resumiu em uma palavra: luta. Titãs como Carnegie, Rockefeller, Gates, Jobs ou até Michelangelo responderam aos desafios do mundo com resiliência.

Eu acredito ser de extrema importância que os artistas e a comunidade artística adotem uma filosofia diferente, porque a filosofia importa. Se a arte é sujeita ao julgamento e à visão da realidade de seu criador, então os artistas – pintores, escritores, diretores, escultores – podem assumir uma posição notável de promotores das melhores ideias – autonomia, liberdade e capitalismo – junto ao povo americano.

Se você continua pensando que o altruísmo é um código moral efetivo e apropriado, então, o estatismo continuará sendo a regra, e não a exceção. Caso você já tenha percebido que tem direito à própria vida e à busca de sua felicidade, e que isso é um bem moral, talvez, seja a hora de abraçar um novo sistema.

Essa liberdade para pensar, criar, falar e realizar valores é o motivo de eu ser capitalista com orgulho.

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Traduzido por Matheus Pacini

Publicado originalmente em The Undercurrent

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