Você já deve ter ouvido isso antes: ou você é bom, ou você é egoísta. Para a maioria das pessoas, egoísmo virtuoso é um oxímoro: elas não pensam ser possível ser virtuoso e perseguir seus interesse próprio (autointeresse) ao mesmo tempo. As pessoas acreditam que egoísmo é sinônimo de mau, porque assim lhes foi ensinado desde criança, graças a filósofos que promovem a filosofia do altruísmo – sacrifício pelo bem dos outros – como o único código moral. Um consenso quase universal entre os filósofos atualmente quanto à ética, pode ser demonstrado pela afirmação: “uma conduta moral, por definição, não é motivada pelo autointeresse (egoísmo)”.
Ainda assim, muitas pessoas praticam o egoísmo de bom senso, diariamente. Elas buscam seus valores: trabalho e riqueza, valores materiais que sustentam e apreciam a vida de suas famílias e a sua própria; atividades recreativas – entretenimento, arte, amizade e outras coisas que contribuem para o seu bem-estar e felicidade. A maioria das pessoas persegue seus valores – seu interesse próprio (autointeresse) – sem prejudicar os outros. Este é um egoísmo de bom senso.
Entretanto, o egoísmo de bom senso não é um código moral explícito. Embora as pessoas pratiquem-no em sua vida diária, a dominância da moral altruísta os fazem sentir-se culpados por não desistirem de seus valores pelo bem dos outros. Como o egoísmo de bom senso não é um código moral explícito, não há justificação moral para ele, muito menos princípio claro para guiar a busca por seus interesses individuais. Contudo, para seres falíveis, a realização do próprio interesse não é automática; precisamos de princípios morais que nos guiem. Também precisamos de uma justificação de que os princípios morais que seguimos estão corretos, afinal, não queremos desperdiçar nosso tempo sentindo uma culpa imerecida por buscar nossa própria felicidade.
A boa notícia é que existe um código moral explicito que oferece ambos – justificação moral e princípios morais – para guiar todos os egoístas de bom senso na realização de seus próprios interesses, sem causar dano a outros. Esse código moral é o egoísmo racional, proposto por Ayn Rand, fundamentada nas bases estabelecidas por Aristóteles. Eu usei o adjetivo racional para evitar confusão com o egoísmo de origem cínica, isto é, a ideia equivocada de que interesse próprio implica atacar, causar danos a terceiros durante sua busca implacável de seus objetivos. A partir de agora usarei “egoísmo” com referência ao código moral racional, não predatório de Ayn Rand.
O egoísmo é uma virtude porque torna possível realizar seus objetivos de longo prazo, cuja consequência será o seu bem-estar e felicidade, sem iniciar força contra terceiros. A justificação moral do egoísmo é que ele torna possível para nós – que não temos conhecimento automático sobre os objetivos que deveríamos perseguir e nem sobre como deveríamos buscá-los – alcançar nossos valores a longo prazo: sobreviver e ser feliz. É um código moral da vida e da prosperidade.
Começando da premissa que o egoísmo é moral e necessário para nosso bem-estar e felicidade, Ayn Rand identifica sete virtudes egoístas – princípios que definem as ações necessárias para atingir os seus objetivos no longo prazo: racionalidade, independência, integridade, honestidade, justiça, produtividade e orgulho. Rand e outros têm escrito muito sobre essas virtudes, então, focarei somente na racionalidade, a virtude primária de onde derivam todas as outras. A racionalidade nos guia a usar a razão – manter-se firme à realidade e à lógica – como “nossa único meio de conhecimento, nosso único juízo de valor, e nosso único guia de ação.”
A racionalidade é a virtude egoísta primária porque a razão é nosso único meio de sobrevivência. Em contraste com todas as outras espécies, nós sobrevivemos e alcançamos valores principalmente através do pensamento, e não da força bruta, velocidade ou garras afiadas. Mentes humanas pensantes inseridas na realidade (e as suas ações consequentes) tornaram possível a riqueza e o bem-estar sem precedentes que temos hoje. Mas pensar e agir por meio de conclusões racionais não é uma coisa automática para nós.
A escolha das pessoas por não aderir à realidade e à razão leva constantemente a ações imorais que contradizem seu autointeresse. Considere um empresário que persiste em fugir da realidade de que seus concorrentes estão oferecendo um produto melhor a preços menores, e que seu fluxo de caixa está caindo. Somente quando a companhia começa a ter prejuízos, ele reconhece que seu interesse próprio está sendo ameaçado, tentando consertar a situação iludindo seus clientes e investidores para salvar seu negócio. Mas o único caminho para evitar ou consertar a situação é aderir à realidade dos fatos e agir de acordo, guiado pelas outras virtudes egoístas.
Para atingirmos nossos objetivos de longo prazo, o egoísmo de bom senso não é suficiente. O único caminho para nosso bem-estar e felicidade, sem violar direitos alheios, é o egoísmo virtuoso. Todos nós devemos entender e aplicar esse princípio.
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Publicado originalmente em Profitable & Moral
Traduzido por Daniel Couto
Revisado por Matheus Pacini
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