‘Cântico’ e a real motivação de Igualdade 7-2521

Igualdade sabe que sua invenção beneficiará muito a humanidade. No entanto, essa não foi sua principal motivação ao realizar seus experimentos, e também não é a principal fonte da alegria e do orgulho que vivencia em seu trabalho. Qual é a principal motivação dele? Você crê que essa é uma fonte correta de motivação? Justifique sua resposta. Como você acredita que seria o mundo caso todos se motivassem dessa forma?

Diferentemente dos tempos “não-mencionáveis”, quando os homens criavam “torres [que] subiam aos céus”, é motivo de aflição nascer com poderosa capacidade intelectual e ambição na sociedade apocalíptica e sem nome de Cântico. O coletivismo é nitidamente a base moral dessa humanidade, e qualquer ameaça notável ao seu inflexível e autoritário regime é tratada com punições severas. O ataque ao livre arbítrio e à razão humana fica ainda mais evidente na gravura em mármore do Palácio do Conselho Mundial: “Somos um por todos e todos por um; não há homens exceto o grandioso NÓS, uno, indivisível e eterno”. Normas sociais impõem a homogeneidade e o sacrifício entre todas as pessoas. Leis e regras são criadas para evitar o progresso e preservar a uniformidade implacável sob o disfarce de justiça moral. Aqui vemos Igualdade 7-2521 a caminho da autodescoberta, lutando para entender o conflito interno que enfrenta – seu desejo de aprender e criar versus a doutrinação governamental que gera estagnação e conformismo.

Os dons de Igualdade – poder intelectual e psicológico – são odiados pelo governo. Ele sonha em trabalhar no Lar dos Eruditos, onde há uma semelhança plausível entre educação e descoberta. Entretanto, sabendo do talento de Igualdade, o Conselho de Profissões – em uma jogada terrível – lhe atribui a função de varredor de rua. Ao colocar Igualdade nessa situação, o Conselho tenta esmagar o seu espírito e impedi-lo de adquirir conhecimento, preservando, assim, a sua hegemonia. Igualdade supõe estar sendo punido por suas habilidades, porém aceita esse destino, tornando-se servo por pressão social, contrariando o seu “maldito desejo de saber”.

O desejo de aprender de Igualdade sobrevive ao cansaço. Um dia, enquanto trabalhava, ele descobre um túnel dos “tempos não-mencionáveis”. O túnel torna-se seu santuário de conhecimento e autodescoberta. Três horas por noite, sozinho (uma transgressão), ele explora seu amor pela experimentação científica e reflexão. Quanto mais conhecimento adquire, maior se torna sua sede por conhecimento, por nenhum motivo que não seja o próprio aprendizado em si. Ele não se culpa, não se arrepende. Ele começa a perceber que está passando tempo no túnel porque ele “assim deseja”.

Por fim, Igualdade faz a descoberta monumental da luz elétrica. Pela primeira vez, ele percebe que possui sabedoria maior que a dos eruditos e está disposto a expressá-la, não se importando com as graves implicações (28). Igualdade ingenuamente acredita, apesar das transgressões necessárias para realizar sua descoberta, que o seu trabalho é tão monumental que mais que compensará essas infrações, possibilitando-o ser aceito no Lar dos Eruditos. Anos de submissão coletivista continuam a atormentar a sua mente e a criar conflitos já que, a princípio, ele acredita que criou esta grande obra para ajudar os outros. Por outro lado, ele se sente satisfeito pelo próprio ato da invenção. No entanto, Igualdade continua a usar a palavra “NÓS” para articular seu contentamento, demonstrando que permanece com dúvidas quanto à origem de sua felicidade.

Igualdade decide que deve divulgar sua criação, mostrando aos eruditos “o maior presente já oferecido aos homens”. Como esperado, o Conselho é vingativo para com ele. Eles o acusam de infringir a lei e exigem a destruição de sua invenção. Igualdade foge e adentra a Floresta Desconhecida, cortando laços com a sociedade. O processo de enfrentar burocratas sem vida e sem talento, todavia, torna-se o estopim para romper a relação entre Igualdade e o falho altruísmo. Essa experiência dramática leva a uma epifania, demonstrada quando Igualdade exclama: “Não construímos esta caixa para o bem de nossos irmãos. Nós a construímos pelo seu próprio (bem).” Sua refutação à ideologia coletivista estava quase completa.

Em um riacho na floresta, ele vê seu reflexo pela primeira vez, e percebe o quão diferente ele é de seus irmãos. Ele ri do fato de ser condenado pela sociedade enquanto percebe que é superior intelectual e, até mesmo, fisicamente. Igualdade nota que na sociedade não há alegria para os homens “senão aquela que é compartilhada por todos”. Finalmente, ele proclama que sua alegria vem apenas de inventar, e que essa pertence exclusivamente a ele próprio e “não guarda qualquer relação com nossos irmãos”. Esse pensamento é completamente antitético à ideologia coletivista. Nesse momento, Igualdade se torna um indivíduo racional.

Inicialmente, Igualdade acredita incorretamente que é motivado a criar algo para a sociedade. No entanto, ele entende agora que sua euforia vem de usar suas mãos e sua mente para o seu próprio bem, para criar por si mesmo algo de valor significativo, sem sacrifício. Por final, torna-se claro que a sua motivação é atingir uma identidade individual através de razão, intelecto e curiosidade. Na floresta, a completa ruptura com o coletivismo ocorre quando, pela primeira vez, Igualdade substitui a palavra “NÓS” pela palavra “EU”, a palavra impronunciável. Ele passa a tratar “NÓS” como o monstro e associa a palavra “EU” com DEUS, efetivamente se declarando DEUS, a única pessoa que, através do livre arbítrio, pode trazer a si próprio felicidade sem sacrifício, a ruína do coletivismo.

O livre arbítrio permite que os humanos escolham seus valores, e a liberdade da mente permite aos humanos explorar e criar coisas para prosperar. Todos devem ter o direito de buscar a felicidade. Pode-se argumentar que é moral agir em interesse próprio para encontrar alegria. Afinal, esse conceito é essencial para a Declaração de Independência, e um alicerce de direitos inalienáveis. O autossacrifício não é uma obrigação inalienável. O coletivismo afirma que humanos devem existir para servir aos outros, e que a busca da felicidade individual é imoral. No entanto, a verdadeira moralidade vem do egoísmo e da busca da felicidade, já que isso é a base da liberdade e um direito natural.

Se todos fossem motivados pelo egoísmo racional, o mundo seria aprimorado, embora não fosse perfeito. Os indivíduos devem ser livres para estudar, experimentar e criar para que as sociedades avancem, e o padrão de vida aumente. Não é coincidência que as nações que possuem os padrões de vida mais elevados sejam também aquelas que produziram, por ampla margem, a maior parte dos vencedores do Nobel e têm maior liberdade individual (X). A maioria das grandes invenções da história moderna teve origem de países livres, e não de tiranias. Por exemplo, os Estados Unidos, uma das nações mais livres da história, produziram mais ganhadores do Prêmio Nobel do que todas as outras nações juntas, já aquelas nações dirigidas por sociedades comunistas e coletivistas, como China e o Oriente Médio, representam uma pequena parcela (Y).

Embora os avanços tecnológicos também possam levar a uma maior desigualdade econômica, de modo geral, aspectos como riqueza, padrão de vida e oportunidades em países livres permanecem superiores aos das sociedades coletivistas. Além disso, o egoísmo racional não infere comportamento psicológico egoísta, uma vez que requer que os indivíduos respeitem os outros e a lei. Com um individualismo racional aprimorado, mais coisas de valor serão criadas por ter mais criadores e menos coletivistas que não produzem. Se todos tomam ações racionais e trabalham em coisas que trazem felicidade, respeitando aos outros, maior valor será gerado à medida em que avanços científicos monumentais levarão a padrões de vida mais altos, e potencialmente maior liberdade em tudo.

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Publicado originalmente em Anthem Essay Contest.

Traduzido por Gabriel Persch.

Traduzido por Matheus Pacini.

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