Ayn Rand e o conceito de caridade

Para deixar bem claro, Ayn Rand não tem nada contra a caridade. A sua posição é óbvia, e só não entende quem está submetido a uma pressão psicológica movida pela fé baseada em dogmas religiosos ou emocionalismo. Ayn Rand diz que uma doação ou ajuda só pode ser chamada de caridade se observar alguns princípios morais, tanto do doador como do suposto beneficiado, a saber: racionalidade, honestidade, produtividade, independência e, principalmente, justiça.

  • Racionalidade, pois é preciso identificar o ser necessitado, bem como as causas de sua necessidade, através da razão, e não por capricho ou julgamentos emocionais;
  • Honestidade, pois é preciso lidar com a nossa realidade e a do beneficiado como ela é, os efeitos de nossa ajuda, e o impacto dela em nossa própria vida;
  • Produtividade e Independência, pois é preciso ajudar quem necessita de modo que possa se reerguer e deixar de ser improdutivo e dependente;
  • Justiça, pois o beneficiário precisa merecer a ajuda que lhe é oferecida ou que é requisitada por ele.

Ayn Rand critica a confusão que se faz entre caridade, benemerência, benevolência e altruísmo, ou seja, o tipo de doação que resulta em sacrifício e sofrimento ao próprio doador que, inadvertidamente, abre mão de um valor maior para receber um valor menor ou valor algum. Exemplo: tirar comida do prato do próprio filho para dar a qualquer estranho que aparece no caminho. Ser caridoso não é um vício quando a caridade não gera sacrifícios que possam prejudicar a criação e a manutenção de valor para a existência e a felicidade do doador, nem possibilitar a perpetuação ou piora de um estado de dependência ou degradação do beneficiado.

Ayn Rand também acredita que – e compartilho essa ideia –, mais nobre que a caridade em si é a criação de riqueza e oportunidades que tão só a atividade criativa, inovadora e empreendedora proporciona.

Bill Gates, por exemplo, que com sua atividade empresarial beneficiou a humanidade de forma extraordinária, aumentando a produtividade e, por consequência, o padrão de vida de bilhões de pessoas, deve ser reverenciado mais por isso do que pela criação da Fundação Bill & Melinda Gates.

O mesmo serve para Steve Jobs. A Apple agregou muito valor à humanidade, possibilitando que centenas de milhões ou bilhões de pessoas tivessem incremento em sua qualidade de vida.

Interessante que Bill Gates só passou a ser santificado quando começou a doar sua fortuna (que poderia ser reinvestida no seu negócio para criar ainda mais benefícios para a humanidade), o que só não acontece porque o governo o trata como criminoso. O passado de Steve Jobs está sendo investigado para descobrir se ele doava anonimamente ou não. Muitos pensam que ele só terá lugar no Hall dos Salvadores da Humanidade se surgirem evidências de que ele, em algum momento da sua vida, se sacrificou.

Altruísmo é um termo criado por Auguste Comte, criador do Positivismo, doutrina que prega que o ser humano nobre é aquele que se sacrifica pelos outros. Nós, como indivíduos, somos fins em nós mesmos, no sentido de que a nossa vida nos pertence, somos racionais e, por esse fato da natureza, devemos ser livres para agir, criando e dispondo dos valores que julgamos necessários para atingir os propósitos da nossa própria vida.

Ser caridoso pode resultar num valor espiritual se percebermos que a vida em geral, e a felicidade dos outros, contribuem para o nosso próprio bem-estar: é claro, isso não pode ser colocado acima da nossa própria existência e nem pode subordinar a nossa felicidade às necessidades alheias. O benefício que todos queremos deve ser proporcionado pela criação de valor, e troca voluntária desses valores para benefício mútuo. Sim, é verdade que, às vezes, o sorriso de uma criança pobre ao receber uma doação é enternecedor, cria um estado temporário de satisfação, porém, para se dar algo, é preciso que este algo já tenha sido criado; para fazer o bem pelos outros, o preço disso não pode ser o nosso próprio mal estar. Abnegação não é uma virtude, nem nunca foi capaz de criar valor e riqueza material, intelectual e espiritual semelhante ao criado pelo autointeresse racional em que cada um estabelece o seus propósitos, busca florescer como indivíduo e se relacionar socialmente em relações ganha-ganha, ou seja, relações cujo benefício é mútuo, de curto, médio e, principalmente, de longo prazo; onde a felicidade – e não o sacrifício – é o motor para a prosperidade geral, de forma que o alvo de caridade sejam os vulneráveis em suas funções psicomotoras, e não os seguidores de uma debilitante visão moral que prega que o sacrifício é virtuoso, e que o desejo de buscar a própria felicidade via criação e troca de valor com os demais é imoral.

Sobre o governo distribuir riqueza coercitivamente, é desnecessário comentar, já que, para o liberal, usar a força contra inocentes é um crime e uma imoralidade, principalmente vindo de uma instituição que deveria evitar que isso pudesse acontecer, ou reagir contra aqueles que praticam tal violência. A propósito, eu doo tempo e dinheiro para ajudar quem precisa de minha ajuda, sem sacrifícios.

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Revisado por Matheus Pacini.

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