“A revolta de Atlas”: um antídoto contra ideias coletivistas

A combinação entre conhecimentos acumulados, conjunto genético disponibilizado por seus ascendentes e mente racional, dotou os seres humanos de características fundamentais que permitiram nos alavancar como espécie dominante na Terra. No entanto, são poucas as fontes de conhecimento provocativas o bastante, ainda na era da informação moderna, capazes de instigar o indivíduo a desenvolver o senso crítico necessário para fugir do trivial ou, para utilizar uma expressão cotidiana, “pensar fora da caixa”. Certamente as obras de Ayn Rand são elegíveis para este seleto grupo de experiências que elevam o grau de raciocínio de tal forma a influenciar nossas vidas e nos questionar verdades até então absolutas.

O romance escrito por Rand se desenvolve, pelas características mencionadas na obra, durante a primeira metade do século XX, período marcado pelo surgimento dos grandes industriais norte-americanos estereotipados pelo termo self made man. Como o próprio termo sugere, são indivíduos movidos por sua capacidade inovadora, espírito empresarial, determinação na busca de seus resultados e mente racional. O produto destas características junto a uma sociedade de livre mercado e o estabelecimento do estado de direito permitiu a uma série de indivíduos a elevação social representada pela melhoria da qualidade de vida e acúmulo de bens. Na obra esses personagens são representados por Dagny Taggart, Francisco D’Anconia, Hank Rearden, Ellys Wyat, Ken Danagger, Ted Nielsen, Lawrence Hammond, Roger Marsh e Owen Kellog.

Apesar de Rand incluir empreendedores como figuras virtuosas, ela critica veementemente empresários que buscam influência e status com governantes para a prática de capitalismo de compadrio. Na obra esse papel é muito bem representado na figura de Jammes Taggart, jovem herdeiro de um gigante conglomerado do ramo ferroviário que utiliza de sua posição econômica e social para se aproximar de figuras em altos postos estatais a fim de obter vantagem indevida. Durante a obra James é retratado como uma figura estéril de mente racional e que foge a todo momento da responsabilidade necessária nas tomadas de decisões que requerem competência e determinação. As principais armas de Jammes para ascender economicamente são os relacionamentos espúrios que cultiva e o tráfico de influência junto aos governantes.

Na visão de Rand, os homens detentores de padrões morais rígidos e racionais são heróis que poderíamos analogamente comparar a Belerofonte, figura da mitologia grega, no entanto, os heróis modernos combatem uma figura mais perversa do que a Quimera: o socialismo. Embora a Quimera, monstro híbrido da fusão de dois animais, dizime a vida de suas vítimas, este monstro contemporâneo é uma espécie de parasita invisível no qual a vida de seu hospedeiro é peça-fundamental na disseminação de novas vítimas. Seduzidos pelo senso comum e por ideias fáceis de um altruísmo abjeto, os séculos XIX e XX foram terreno fértil para sua disseminação. São essas ideias que Rand combate ferozmente em sua obra e enaltece os grandes progressos advindos desde o surgimento do capitalismo e sua peça-fundamental: o indivíduo racional.

Em uma sociedade cercada por repúblicas populares, os Estados Unidos eram, no começo da narrativa, a única resistência contra o socialismo e suas ideias coletivistas, no entanto, a realidade comutava velozmente pelos meandros de falsos intelectuais e personalidades acéfalas do campo político e cultural. Homens cujos ideais se afastavam das ideias da liberdade, propriedade e vida, utilizam de sua ferramenta histórica para a propagação do monstro: o Estado.

“A história não se repete, mas rima”. A frase proferida pelo autor norte- americano Mark Twain parece descrever o início da disseminação de ideias sórdidas como o socialismo e a tentativa de subjugar o raciocínio de mentes capacitadas. A disseminação sempre veio camuflada ao longo da história e desta vez o modus operandi permanecia o mesmo: defesa de um pretenso bem-estar universal, Estado interventor para equalizar justiças sociais, economia planificada, altruísmo irrestrito, mas o real objetivo era a exploração dos produtores em detrimento dos saqueadores.

Os empreendedores de princípios e valores sólidos conquistam seu patrimônio através de relações harmônicas no qual geram enorme progresso para si e sociedade por meio de sua visão, entretanto, os ideais coletivistas os veem como criminosos que devem ser expropriados, como se os bens materiais que acumulam e controlam não dependessem de cérebros para serem geridos. Esta visão míope e falaciosa fez com que estes homens fossem não apenas intimidados e hostilizados, mas, sobretudo, saqueados, expropriados e incriminados por seus algozes em nome de um bem-estar coletivo.

Ao implantar um governo cada vez mais interventor, a deflagração de revoltas pontuais crescia exponencialmente. Homens que se recusavam a servir outro senhor a não ser a si mesmo iniciam uma revolta contra o establishment. Estes mesmos homens que em outras épocas eram vítimas e algozes de si mesmos através de sua própria cessão, agora protagonizavam uma greve sem precedentes.

Capitaneados por John Galt, empresários, personalidades, intelectuais e outros indivíduos que compartilhavam entre si os mesmos valores, desaparecem um a um e formam uma sociedade isolada e secreta do restante do mundo, deixando a humanidade órfã de seus grandes cérebros. Indivíduos que até então haviam conquistado grande fortuna propiciada por seu espírito empreendedor, mente racional e virtudes, preferem destruir seus bens a deixá-los nas mãos de saqueadores. Mas, quem é John Galt?!

John Galt é um homem possuidor de uma mente brilhante capaz de realizar grandes avanços científicos para a humanidade, no entanto, decide parar o motor do mundo quando seus empregadores implantam um modelo de gestão baseado no auto sacrifício em que quem é mais capaz deve trabalhar para os menos capacitados em uma espécie de comunismo corporativo.

John Galt é um homem que não vive pelos outros e nem pede que os outros vivam por ele. Um homem que vive sua vida de forma plena e consciente de todo o seu potencial por ter três valores supremos: a razão como ferramenta de discernimento; determinação para buscar sua felicidade; e o amor-próprio como imperativo no seu desejo de viver uma vida plena. “Esses três valores implicam e requerem todas as virtudes do homem, e todas elas decorrem da relação entre existência e consciência: racionalidade, independência, integridade, honestidade, justiça, produtividade, orgulho.” Portanto, John Galt é a representação de todos os valores elevados defendidos na filosofia do egoísmo racional formulada por Ayn Rand.

A revolta das mentes racionais impõe à sociedade uma situação calamitosa em que todos os elos da cadeia produtiva se deterioram progressivamente e trabalhadores desertam de seus postos de trabalho. A intervenção estatal é aprofundada pelos governantes como única alternativa viável, pois é a única que conhecem, para resolução de seus próprios erros. No entanto, como era de se esperar a intervenção estatal deteriora ainda mais a conjectura e estabelece o império do caos a partir do momento em que a propriedade privada não é respeitada, o estado de direito altera conforme as circunstâncias, vantagens são garantidas a governantes e seus aliados em detrimento dos que produzem e os interesses são impostos pela força e pela barbárie.

Confrontados por situação alarmante e pelas revoltas populares agravadas após o pronunciamento de John Galt no rádio para toda a nação, quando desmascara toda a verdade que lhes foi escondida e a razão pela qual a humanidade sucumbia, os governantes tomam medidas ainda mais drásticas quando sequestram John Galt e lhe oferecem o poder para que restaurasse a ordem. Entretanto, Galt consegue escapar do cativeiro com a ajuda de seus aliados grevistas e retorna para a sociedade secreta à espera do momento propício em que todas as mentes racionais possam retornar ao mundo e reconstruí-lo como uma sociedade livre.

O romance escrito por Ayn Rand, embora seja uma obra de ficção escrita no ano de 1957, permanece atual e é um antídoto contra ideias coletivistas. Na obra é descrito claramente como o indivíduo detentor de uma mente racional e determinação persegue sua felicidade a todo momento imbuído apenas de sua visão. A obra estabelece defesa imperativa da mente racional como ferramenta preponderante na busca do progresso e um brado de independência para libertar o homem de seus pares.

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