Os grandes erros epistemológicos parecem ter uma correlação entre si, mas ainda não consegui identificar a razão desse fenômeno. As “aglomerações” são intrinsicismo-racionalismo-idealismo e subjetivismo-empirismo-ceticismo. Essas tríades se referem respectivamente à natureza do conhecimento, ao método para obtê-lo e à atitude perante ele.
Ao tirar a razão da equação , é possível considerar o conhecimento como um absoluto inquestionável, ou como mera questão de opinião – intrinsicismo versus subjetivismo. Ao tirar a lógica da equação , é possível relacionar o conhecimento a algo “interno” ou “externo” ao indivíduo – racionalismo versus empirismo. Ao tirar a honestidade da equação , é possível tratar o conhecimento como algo “a seguir cegamente” ou “a ignorar quando desejado” – idealismo versus ceticismo. A conexão entre essas formas de pensar não é absoluta, tampouco me parece óbvia.
Usarei o subjetivismo para ilustrar o meu ponto, mas essa ilustração é passível de inversão. Se o conhecimento é apenas uma questão de opinião, não há razão para confiar na capacidade abstrativa do ser humano – logo, qualquer asserção que vá além do diretamente perceptível não é confiável (empirismo). No entanto, é igualmente natural assumir que, se o conhecimento é uma questão de opinião, é impossível refutar a minha opinião sobre algo, seja ela qual for – logo, o conhecimento “vem de dentro” (racionalismo).
Expandindo o exemplo: se o conhecimento é uma questão de opinião, a atitude apropriada pode ser de desconfiança para com o conhecimento em geral (ceticismo), dado que a minha opinião pode entrar em contradição com a dos outros – quer ela venha “de fora” ou “de dentro”. Todavia, a atitude contrária é igualmente natural – se a opinião de alguém contradiz a minha, devo ignorá-la, atendo-me às minhas opiniões, que são irrefutáveis.
Não tenho um conclusão para esse texto, pois a ideia ainda precisa ser desenvolvida. Qual será a razão para essa correlação? Existe uma conexão necessária entre essas formas de pensar? Há um terceiro fator, como uma visão de mundo anterior, responsável por todas as três? Honestamente, não sei…ainda.
Você conhece a Hipótese DIM?
O último artigo me leva a crer na validade de uma suspeita antiga que tenho, relacionada à DIM Hypothesis de Leonard Peikoff.
Para aqueles que não a conhecem, posso resumi-la desta forma: se o indivíduo é consistente com sua forma de pensar, pode integrar informação de uma de três formas. O modo kantiano (Desintegração) se baseia na rejeição da faculdade conceitual do homem, que resulta na ideia de que a percepção sensorial não pode gerar conhecimento abstrato. O modo aristotélico (Integração) se baseia no reconhecimento da faculdade racional do homem, que resulta na ideia de que a percepção sensorial pode ser integrada, gerando conhecimento abstrato. O modo platônico (Má-integração) se baseia na elevação da faculdade racional do homem a um nível sobrenatural, que resulta na ideia de que a percepção sensorial é irrelevante – ou até mesmo contrária – à obtenção de conhecimento abstrato. Desintegração, Integração e Má-integração – DIM.
Além dessas três, Peikoff propõe dois modos mistos. O “meio do caminho” entre a interação aristotélica e a desintegração kantiana é o “ceticismo sapiente” – a ideia de que é possível adquirir conhecimento abstrato, mas apenas em níveis inferiores de abstração. O “meio do caminho” entre a integração aristotélica e a má integração platônica é o “sobrenaturalismo mundano” – a ideia de que algumas abstrações, independentes dos sentidos, nos permitem conhecer existentes particulares.
Por que não há um “meio do caminho” entre a desintegração kantiana e a má integração platônica? Essa é uma dúvida que exploro a anos. Creio que a resposta esteja no fato de que o sobrenaturalismo mundano e o ceticismo sapiente não são “formas mistas”, mas aplicações superficialmente diferentes da mesma premissa implícita: o conhecimento é o que eu quiser que ele seja. Ambos são facetas de um quarto modo de lidar com o conhecimento: a adoção extrema da primazia da consciência.
Os três modos “puros” se baseiam em um padrão externo ao indivíduo, portanto, em uma aceitação implícita da primazia da existência. Ou o conhecimento é impossível, porque a consciência é falha (Kant); ou ele é inevitável, porque a consciência é perfeita (Platão); ou ele é possível, porque a consciência é o que ela é (Aristóteles).
Os dois modos “mistos” são essencialmente iguais, por serem resultado da adoção absoluta da primazia da consciência. Não há regras externas para guiar o pensamento humano. A realidade é o que eu quero que ela seja, e o meu amontoado de “conhecimento” arbitrário pode ser percebido como algo externo (ceticismo sapiente) ou interno (sobrenaturalismo mundano).
Apesar de ainda estar longe do refinamento teórico necessário para propor uma emenda à DIM Hypothesis, chamo esse modo de “associação arbitrária”, o que transformaria DIM em DIMA. Um bom trocadilho é um preço baixo para uma maior precisão conceitual.
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Revisado por Matheus Pacini.
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