Um homem que vive absoluta e exclusivamente de segunda mão é um daqueles animais quase mitológicos que encontramos de vez em quando na selva das interações sociais – e é verdadeiramente perturbador estar em sua presença.
A maioria deles se abstém de pensar em “blocos” de conhecimento: não consideram seriamente nenhum assunto específico, acreditando ser natural adotar a visão de um terceiro que parece saber do que está falando. Fiz isso no campo da Física por muito tempo, e provavelmente sigo fazendo com vários assuntos. Identificar e se livrar desse hábito é um dos passos necessários para o crescimento pessoal.
Alguns deles, no entanto, levam esse hábito ao extremo: abstêm-se de pensar não sobre assuntos específicos, mas sobre os aspectos fundamentais da sua própria existência: do que gostam, como pensam, o que veem em sua frente e, em última instância, quem são.
Ao adotar consistentemente os outros como seu padrão epistemológico, gradualmente perdem a própria personalidade, tornando-se algo que parece uma pessoa, mas não exatamente. Ainda são capazes de dialogar, mas seus diálogos se tornam apenas uma troca de símbolos que validam ou ameaçam a autoimagem absorvida previamente, e não uma troca de ideias entre dois indivíduos pensantes. Ainda conseguem ver o outro, fisicamente, mas percebem apenas uma projeção de si próprios.
Esses homens deixam transparecer a sua condição de formas sutis. Seus olhos parecem vazios, pois não estão focados em você. O timing das suas respostas é estranho, porque não respondem às suas ideias, mas reagem à sua reação à reação delas. Ficam visivelmente transtornados se você tomar uma decisão na frente deles, ou se apontar uma mentira que acabaram de contar – isso contradiz toda a sua visão do ser humano como alguém que escolhe as mentiras que balizam sua vida. Se você identificar as contradições mais fundamentais de uma pessoa como essa, é possível até induzi-las a fazer algo muito estranho: parar de fazer sentido gramatical, pois a linguagem é o último recurso de uma mente que quer apagar ideias.
Um homem que vive, verdadeiramente, de segunda mão é o mais próximo que temos de um zumbi. É algo muito bizarro de ver.
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Revisado por Matheus Pacini.
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