A crença de Ayn Rand de que o homem “deve proteger-se do humanitarismo” e “nunca viver pelo outro, nem pedir que o outro viva por ele” é problemática para muitas pessoas. Sua filosofia, o Objetivismo, celebra o individualismo e o egoísmo, contendo implicações sociais, filosóficas e econômicas difíceis de aceitar e reconciliar com o sistema judaico-cristão de valores. Como resultado, críticos e acadêmicos têm atacado ferozmente Ayn Rand, descartando sua filosofia. Por outro lado, em 1991, a Biblioteca do Congresso Americano fez uma pesquisa e descobriu que A revolta de Atlas era o “livro que mais tinha influenciado a vida dos leitores americanos, perdendo apenas para a Bíblia” (Pierpont 70). Em seus livros, Rand faz uma defesa moral do capitalismo. Embora o comunismo tenha fracassado em países diferentes, muitos ainda o consideram moralmente superior ao capitalismo.
Na Rússia, aos 12 anos de idade, Alisa Rosenbaum testemunhou a farmácia de seu pai ser fechada e tomada como propriedade do povo soviético por soldados da Revolução Bolchevique. Mais nove anos passariam até ela adotar o nome Ayn Rand, com o qual ingressou nos Estados Unidos em 1926. Seu primeiro romance, We The Living, publicado em 1936, mostrava os primeiros sinais da “propaganda” anticomunista que seriam atribuídos aos seus escritos. Em uma resenha para o New York Times, Harold Strauss observou que “o fervor cego com que se dedicava à aniquilação da União Soviética tinha a levado a errar.” Mas Rand não errou. Proclamada a “principal escritora de ficção de propaganda”, usou sua ficção como “uma arma poderosa para vender ideias” (Pierpont 70). Uma dessas ideias era que o coletivismo e o comunismo eram sistemas corruptos. Rand queria que os Estados Unidos, nas palavras de James Cooper, “entendessem a natureza do conflito contra o comunismo tão claramente como ela havia entendido aos 12 anos” (Cooper B2). Contudo, muitos não entenderam, negligenciando com frequência sua experiência com o bolchevismo ao julgar seus escritos e as ideias que transmitiam. Estavam buscando áreas cinzas, mas só encontravam absolutos, pois, na luta de Ayn Rand contra o totalitarismo, não havia concessões.
Da mesma forma, a escrita e os personagens de Rand eram tão inflexíveis como sua filosofia. Em romances como We the Living (1936), Cântico (1938), A nascente (1943) e A revolta de Atlas (1957), ela utiliza figuras heroicas para aprofundar suas ideias, expondo o conflito indivíduo versus sociedade. Essas figuras heroicas eram centrais para o entendimento da filosofia objetivista de Rand. Contudo, seu uso frequente gerou críticas de que ela estaria simplificando demais as questões ao definir os lados opostos como “bem” e “mal”. Seus personagens foram criticados por serem “homens de histórias de fantasia, como do tipo que Rand sonhava aos 12 anos de idade” (Cook 300). E os críticos estavam certos, para alegria de Rand. Os heróis e heroínas dos romances de Rand eram projeções do que os seres humanos “poderiam e deveriam ser”, projeções de um ideal. Mas, ao contrário dos cavaleiros e dragões usados por escritores séculos atrás, Rand usava “engenheiros, cientistas e industrialistas… homens que operam na sociedade moderna”, opondo-os às formas coletivistas que considera os verdadeiros dragões que destroem o indivíduo (Branden 296). Um dos problemas apontados pelos críticos sobre os personagens de Rand é que os personagens “maus” nunca aprendem com seus erros, ou tem a chance de se tornarem “bons”. Em defesa de Ayn Rand, acredito que seus personagens e ficção demonstram que tipo de sociedade e valores o homem precisa para poder produzir livremente, em sua plena capacidade racional. Os romances de Rand narram também os entraves e os tipos de pessoas que normalmente encontramos na vida real, que querem parasitar a produção alheia alegando superioridade moral. Em outras palavras, uma sociedade que usa uma falsa moral com o propósito de extorquir quem realmente produz.
Neste mesmo sentido, os temas e enredos de Rand são criticados. Suas estórias são parábolas cuja importância está justamente no avanço das ideias. E é o “avanço dessas ideias que não permite que seus personagens e estórias sejam deste mundo.” (Chamberlain 294). A própria Rand escreveu que “a ficção é uma arma muito mais poderosa para vender ideias do que a não ficção.” (Pierpont 70). Portanto, são as ideias que Rand tentou “vender” que fizeram seus críticos tremerem e, ao mesmo tempo, ajudou a influenciar toda uma geração de seguidores. Comparada a Harriet Beecher Stowe por ter “a força de transformar leitores em seguidores, de moldar convicções políticas, religiosas ou morais”, Rand foi provavelmente a romancista menos respeitada “entre os escritores mais duradouros de nosso tempo.” (Pierpoint 70). Sua filosofia, que chamou de Objetivismo e explicou no apêndice de A revolta de Atlas, “é o conceito do homem como um ser heroico, com sua felicidade como o propósito moral de sua vida, com a realização produtiva como sua realização mais nobre, e a razão como seu único absoluto.” Rand acreditava que existia uma realidade, e que o homem pode conhecê-la através da faculdade da razão (alguns filósofos não acreditam que a realidade exista, ou que o homem possa percebê-la). Rand também afirma que o capitalismo “é o único sistema social baseado no reconhecimento dos direitos individuais, que bane a força e que é fundamentalmente oposto à guerra.” Ela complementa que “a justificativa moral do capitalismo está no fato de que é o único sistema consoante com a natureza racional do homem.” Ataca todas as formas de altruísmo como “malignas”. Essas ideias geraram uma forte reação de seus críticos que acusaram seu romance A revolta de Atlas de “ter sido escrito pelo ódio” (Hicks 294). Da mesma forma, seus argumentos que desafiam “o conceito do Estado de bem-estar, bem como toda a ética cristã de preocupação do forte pelo fraco”, têm sido comparados às doutrinas fascistas e social-darwinistas. (Woodward 25). Comparações desse tipo foram rebatidas por Rand. O darwinismo social seria a sobrevivência e superioridade dos indivíduos que se sobressaem física e intelectualmente. Significaria a ascendência ou preponderância dos mais inteligentes, educados e fortes. O que Ayn Rand prega é a ascendência dos mais racionais. Um homem pode ser um gênio e, ainda assim, viver sua vida parasitando os outros, totalmente irracional. Outro homem pode não ser tão inteligente ou educado, mas viver uma vida produtiva guiada por princípios racionais. O capitalismo permite ao último sobreviver, enquanto o comunismo beneficia o primeiro. Ayn Rand não ensina que é irracional ajudar os outros se quem você estiver ajudando for importante para você. Não é irracional fazer caridade se esse é um valor para você. O que Rand condena é um governo burocrático com uma arma apontada para a sua cabeça, dizendo-lhe o que fazer. A sociedade é um valor importante para o homem, e ele certamente deve colaborar com ela. Mas o homem precisa ter certos direitos como o direito à propriedade, à vida e à liberdade para ser capaz de ajudar os outros. O capitalismo é o único sistema que permite esses direitos, porque a liberdade política e econômica são duas faces da mesma moeda.
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Revisado por Matheus Pacini.
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Rand, Ayn. Anthem. New York: New American Library, 1946.
Cooper, James. “Ayn Rand: A Romantic Behind The Steely Gaze.” New York Tribune. 29 de novembro de 1988.
Pierpoint, Claudia. “Twilight of The Goddess.” The New Yorker. 24 de julho de 1995. p. 70.
Peikoff, Leonard. Objectivism: The Philosophy of Ayn Rand. New York: Penguin Group, 1991.
Branden, Nathaniel. Who is Ayn Rand?: An Analysis of the Novels of Ayn Rand. New York: Random House, 1962.
Rand, Ayn. Atlas Shrugged. New York: Penguin Group, 1957.
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Branden, Nathaniel. Who is Ayn Rand?: An Analysis of the Novels of Ayn Rand. New York: Random House, 1962. Rpt. in Contemporary Literary Criticism: vol. 30, pp.296-298.
Chamberlain, John. “Ayn Rand’s Political Parable and Thundering Melodrama,” in New York Herald Tribune Book Review. 6 de outubro de 1957, pp.l, 9. Rpt. in Contemporary Literary Criticism: Vol. 30, p. 294.
Hicks, Granville. “A Parable of Buried Talents,” in The New York Times Book Review. 13 de outubro de 1957, pp.4-5. Rpt. in Contemporary Literary Criticism: Vol. 30, p. 294.
Woodward, Helen Beal. “Non-Stop Daydream,” in The Saturday Review. New York, Vol.XL, No. 41. 21 de outubro de 1957, p. 25. Rpt. in Contemporary Literary Criticism: Vol.30, p.295.
Strauss, Harold. “Soviet Triangle,” in The New York Times Book Review. 19 de abril de 1936. P.7. Rpt. in Contemporary Literary Criticism: Vol. 30, p.291.
Cook, Bruce. “Ayn Rand: A Voice in the Wilderness, in Catholic World. Vol.201, No.1202. Maio, 1965. pp. 119-24. Rpt. in Contemporary Criticism: Vol. 30, p. 300.