Resenha do filme – Vitus (2006)

“Temos um verdadeiro filho prodígio”, dizem os pais de Vitus.

Eles acabam percebendo que não têm um filho prodígio. Vitus tem a si próprio, e só voa em benefício próprio.

Em seu romance A revolta de Atlas (Parte III, Cap. VI) e em seu ensaio The Comprachicos, a romancista e filósofa Ayn Rand descreve brilhantemente a cena de um jovem que tinha sido intelectual e emocionalmente prejudicado por uma educação moderna e progressista.

“Os homens tremeriam, pensou, se vissem uma mãe pássaro arrancar as penas das asas de seus filhotes, e mesmo assim, era exatamente o que faziam com seus filhos. Armado com nada mais que frases sem sentido, esse jovem tinha sido jogado na luta pela existência, tinha vacilado e se esforçado num esforço breve e inútil, tinha gritado em protesto indignado, e tinha perecido em sua primeira tentativa de voar com suas asas destroçadas.”

Vitus von Holzen, o personagem principal do brilhante e eloquente filme Vitus (2006), não é o jovem descrito na citação acima. Ele é um garoto que realmente voa, literal e figurativamente, e que demonstra a plena capacidade da mente e do espírito humano, bem como os resultados de uma educação racional.

Seus pais reconhecem sua genialidade de imediato – um prodígio do piano aos seis anos e um virtuoso de classe mundial aos 12 – a genialidade de um garoto sério e centrado que também ama a alegria. Vitus é apaixonado pelo piano, por seu avô, por jogar xadrez, por investir em ações e por pilotar um avião; de quebra, ele gosta de uma garota mais velha que ele, de 19 anos, a quem busca conquistar. A escola o aborrece e ele não parece precisar de amigos; a sua única satisfação é fazer os professores se sentirem pobres ineptos.

O filme começa com Vitus “roubando” um avião – mas só percebemos que isso está ocorrendo, de fato, ao final do filme. Vemo-lo fechar a portinhola do monomotor, ajustando-o para decolar enquanto os adultos o perseguem. Vemo-lo decolar e voar em direção ao céu aberto.

Mas a trama central do filme é o desejo de Vitus ser outra pessoa. E por que alguém com tanto talento gostaria de ser outra pessoa? Porque está sendo bombardeado constantemente – por seus pais, seus professores e seus mentores – com demandas altruístas; todos querem que ele aja como eles creem que ele deva agir. A única exceção é o seu avô, doce mas sábio, quem Vitus visita com frequência, encontrando nele um santuário privado e racional.

O altruísmo destrói a vida e a grandeza antes de ser conquistada; é a doutrina depravada de que o sacrifício deve ser considerado uma virtude. Ele exige que os homens sejam iguais, e que sacrifícios sejam feitos à custa do bem, e em benefício do mal. No caso de Vitus, o altruísmo busca convertê-lo em domínio e propriedade dos outros, aniquilando sua individualidade em favor de uma sociedade indigna. Esses querem que ele trabalhe para eles, que viva para tal missão, para que se sintam validados, ricos e felizes.

Vitus parece sentir tudo isso, mas não consegue exprimi-lo em palavras. Opta, então, por se retrair até o ponto em que seu talento e inteligência brilhantes parecem desaparecer. Ele “encolhe de ombros”, da mesma forma que os heróis de os heróis de A revolta de Atlas, e tira seu talento do mundo. Ele já não é mais capaz de tocar nem sequer as peças mais simples no piano, perde uma partida de xadrez para seu avô e se converte em mais um aluno mediano, tudo isso para tristeza e horror de seus pais. Curiosamente, isso não perturba em nada o seu avô.

Mas quando seu avô começa a ter problemas financeiros, Vitus, com 12 anos, volta secretamente a colocar seu brilhante talento em prática, e consegue investir as últimas economias de seu avô até convertê-las, em pouco tempo, numa riqueza considerável.

Por que parar aí? Vitus aluga alguns escritórios e monta uma empresa de investimentos (lembre que ele tem apenas 12 anos). Seu avô já não tem mais preocupações financeiras, e agora ele pode até comprar um novo avião e realizar seu sonho de ser piloto.

Por fim, percebemos que Vitus realmente entendia a natureza e a origem do altruísmo que estava ameaçando a sua vida, e que todo esse tempo ele tinha se mantido firme em seu objetivo de ser quem ele era, respeitando seus próprios termos e condições. Quando o seu avô se dá conta do segredo de Vitus, Vitus ri e confessa:

 “O mais difícil de tudo foi perder aquela partida de xadrez!”

Ayn Rand foi um paladino da razão e do individualismo, uma defensora brilhante e imbatível. Em seus escritos, descobrimos os males impostos às crianças de mente caridosa, inquieta e maleável; vemos como sua faculdade racional e habilidades são atrofiadas e frustradas, e como se espera que elas vivam sua vida na Terra sem elas. Vemos como lhes é negada a privacidade e violada a individualidade, e como dizemos a elas que têm que aceitar direitos e obrigações que não escolheram. Ayn Rand salvou a minha mente desses males – e suponho que Vitus descobriu tudo isso por si mesmo.

Vitus é um de meus filmes favoritos pela sensação de alegria que tenho ao ver o valor, a sabedoria e o esplendor da inteligência de uma criança que se liberta dos grilhões daqueles que querem que elas sejam sua propriedade. Seus pais acabam dando-se conta de que eles realmente não têm um filho prodígio. Vitus é dono de si mesmo, e só voa em benefício próprio.

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Publicado originalmente em Objetivismo.org

Revisado por Matheus Pacini.

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