Resenha – “A revolta de Atlas”

A Revolta de Atlas é um grande manifesto a favor da mentalidade humana, é uma representação didática de como uma nação pode ir à decadência quando os homens bons, produtivos e com propósito negligenciam ou desistem de lutar contra os homens populistas, desonestos e sem objetivo de vida. Esse foi um dos livros mais incríveis que já li e que me ajudou a responder a muitas questões que carregava em minha vida. Uma obra incrível de Ayn Rand, que é capaz de fazer qualquer pessoa se questionar sobre seus hábitos, valores e para aonde a sociedade está caminhando.

Ayn Rand foi uma grande escritora e filósofa, responsável por idealizar e divulgar o Objetivismo, que, atualmente, é uma linha de pensamento muito importante no Brasil e no mundo, principalmente para fundamentar conceitos e teorias liberais. Rand nasceu na Rússia, em 1905, e presenciou a revolução e a ascensão do socialismo. Inconformada com a situação vivenciada, ela conseguiu fugir de seu país, encontrando abrigo nos Estados Unidos, que vivia um momento de surgimento de vários grupos que defendiam pautas coletivistas, como aquela vivenciada por ela na Rússia. A partir disso, ela intensificou seus trabalhos para escrever obras e novelas que visavam a disseminar as ideias do objetivismo. Entre suas principais obras, destacam-se A Nascente e A Revolta de Atlas, a qual já foi considerada o segundo livro mais influente nos EUA, perdendo apenas para a Bíblia. Rand faleceu em 1982, mas suas reflexões e pensamentos parecem vivos até hoje e se encaixam perfeitamente nas situações de diversos países. Cabe a nós utilizar seus ensinamentos e o Objetivismo de forma crítica para evitar erros já antes previstos por eles.

O Objetivismo é uma filosofia pragmática e racional que considera o homem como o ser responsável pela sua própria felicidade, a qual deve ser o propósito de sua vida a ser atingido por meio de sua própria realização produtiva. É um sistema filosófico fechado, ou seja, não está aberto a discussões e que prega que a realidade é a realidade. Além disso, o Objetivismo valoriza o egoísmo racional e a responsabilidade individual, colocando o indivíduo como o responsável por buscar seus objetivos, mas nunca negligenciando a ética ou utilizando da violência.

Em A Revolta de Atlas, Rand traduz os valores do Objetivismo em seus personagens, trazendo textos altamente ricos em questionamentos. Dentre as diversas reflexões, destaco três ensinamentos profundos e importantes, sendo eles: o simbolismo do dinheiro, a necessidade acima da capacidade e a felicidade. Abaixo, descreverei um pouco melhor sobre cada um deles.

Em relação ao simbolismo do dinheiro, ouve-se muito que o dinheiro é o grande propulsor de todos os males da humanidade. Entretanto, como o livro apresenta, o dinheiro não é o promotor de todo o mal, e ter dinheiro não é problema. O problema é como você obtém o dinheiro, se é por caminhos justos e pela própria capacidade ou se é por meio de benefícios, retirando a força e sem escolhas de outras pessoas. O dinheiro é apenas um instrumento que o homem desenvolveu para formalizar as barganhas de sua própria capacidade para com os produtos da capacidade de outro indivíduo, visando a satisfazer interesses e desejos pessoais. Pensando desta forma, a busca pelo lucro também é justa e aceitável, desde que seja feita com ética, responsabilidade e, principalmente, com a própria competência.

Outro tema muito relevante é em relação à inversão de valores vivida na sociedade, em que a necessidade está acima da capacidade, e desta forma, o Estado retira recurso dos produtores, criados e capacitados, para entregar aos que são incapazes de produzir e para aqueles que são capazes, mas não produzem por preguiça ou por não quererem.. É um pouco do que se presencia na história do Robin Hood, que é a primeira figura história que ficou marcado por roubar dos ricos e dar para os pobres. O problema, nesta questão, é que o Robin Hood não é protetor da propriedade privada, e sim da pobreza, gerando um mindset errado e, principalmente, injustiça. O homem deve ter direito àquilo que teve capacidade e competência de produzir. Tirar isso dele criará um grande desincentivo para o crescimento e progresso de um lado, e, do outro, criar-se-á uma dependência difícil de reverter.

Em relação à felicidade, a obra apresenta uma reflexão muito promissora de que este sentimento é presenciado sempre no momento após você conseguir aplicar, de forma íntegra, os seus valores, o que, além de representar muito sobre seu caráter, também traz reflexões importantes sobre seu propósito de vida. Com um propósito bem definido, valores claros e um ambiente favorável para pensar, todo ser humano está livre para ser feliz e prosperar. E entende-se como ambiente favorável um local, um espaço, uma situação ou um momento em que o dinheiro e lucro não são vistos como pecado, que a justiça é praticada e que você terá acesso a tudo que for capaz de produzir ou conquistar, sem interferências externas que te obriguem ou incentivem a fazer algo que não esteja alinhado com seu código moral.

Ao mesmo tempo em que o livro apresenta um romance envolvente e didático, precisamos confessar que a sua leitura é um grande desafio, não apenas pelo grande número de páginas, mas também pelos diálogos longos e pelas mensagens que geram reflexões durante toda a obra. Certamente, uma pessoa que não esteja aberta para novas ideias e que não conheça a história de Ayn Rand pode perder a paciência com o livro logo nos primeiros capítulos. Mas aqueles que continuam e se abrem para entender suas teorias conseguem relacionar muitos acontecimentos com situações cotidianas que vivemos no Brasil e no mundo, como empresas privadas se aproximando do governo e se envolvendo em casos de corrupção, a aprovação diversas leis e decretos que restringem a liberdade da população e muitas outras situações, que revelam a grande sabedoria da autora e apresenta uma linha filosófica que precisa ser mais apreciada e estudada pela sociedade. Talvez seja o único romance que eu já tenha lido que valorize os empresários e demonstre sua importância para o mundo. Portanto, este é mais um dos inúmeros motivos que torna este livro uma obra rara, que faz valer a pena cada página lida.

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