QUAIS SÃO AS RAZÕES PARA OS ERROS PREVALENTES SOBRE ECONOMIA? ECONOMIA VERSUS ALTRUÍSMO

Leia o primeiro artigo, aqui.

Se a economia tão só contradissesse as conclusões não científicas das pessoas, seu caminho já seria difícil: a situação piora, todavia, pelo fato de que seus ensinamentos contradizem também algumas das doutrinas ético-morais mais profundamente reconhecidas, em especial, a doutrina de que a busca do autointeresse individual é prejudicial aos interesses dos outros e, portanto, que é obrigação do indivíduo praticar o altruísmo e o autossacrifício.

A economia como ciência estuda a busca racional do autointeresse material, a qual atribui o surgimento de todas as instituições econômicas vitais e, assim, da própria civilização material, e da qual deriva todo um conjunto de leis econômicas. Não há como não afirmar que o autointeresse racional e a busca do lucro sejam forças profundamente benevolentes, servindo a vida humana e o bem-estar em todos os aspectos, devendo ter total liberdade para operar. Não obstante, a moralidade tradicional considera o autointeresse, na melhor das hipóteses, amoral, mas, no mais das vezes, decididamente imoral: considera o amor e o autossacrifício pelo próximo como as virtudes mais elevadas de um homem, em torno das quais ele deveria construir a sua vida.

Assim, os ensinamentos da economia são amplamente tomados como ameaça à moralidade altruísta. E, pelo mesmo motivo, os slogans anticapitalistas descritos no artigo anterior são encarados como expressões de ultraje moral justificado. Como resultado, a economia deve superar não só a ignorância comum, mas derrotar a ignorância amparada por fervor e presunção morais. Sem entrar em detalhe, os economistas estão em posição similar a dos antigos astrônomos, cujo conhecimento de que a Terra girava em torno do Sol não só parecia contradizer o que todo mundo conseguia ver por sua própria conta, mas também se impunha como um desafio à toda visão teológica do universo: economia e capitalismo são um desafio similar à moralidade do altruísmo.

Estou praticamente certo de que economia e capitalismo serão incapazes de obter aceitação cultural suficiente para assegurar a influência do primeiro, bem como a sobrevivência do segundo, até que ocorra uma mudança radical nas ideias das pessoas com respeito à moralidade e à ética, e que essa mudança terá de ocorrer em campos além do econômico – notavelmente, filosofia e psicologia. Mas, mesmo assim, a própria economia tem uma enorme contribuição a fazer no processo de mudança das ideias das pessoas, e cada defensor do autointeresse racional faria bem em utilizá-la.

A principal razão pela condenação do autointeresse está ligada, principalmente, a crenças relativas às suas consequências econômicas. Se as pessoas não acreditassem, por exemplo, que o ganho de um é a perda de outro, mas, ao contrário, que numa sociedade capitalista o ganho de um é, de fato, o ganho de outro, seu ódio pelo autointeresse não se manteriam. Ainda assim, é precisamente isso que a economia prova. Ela prova o que é a coisa mais simples do mundo, que se os indivíduos buscam racionalmente fazer o bem por si mesmos, cada um deles pode, na verdade, alcançar tal bem. Ela prova que, numa sociedade capitalista com divisão de trabalho, na própria natureza do processo, em buscar o seu próprio bem, o indivíduo promove o bem dos outros, cujas ações autointeressadas desses, da mesma forma, promovem a realização do seu bem-estar. A economia prova a existência de uma harmonia de autointeresses de todos os participantes do sistema econômico – uma harmonia que permeia as instituições da propriedade privada dos meios de produção, a desigualdade econômica e a concorrência econômica. Ao mesmo tempo, ela mostra que o medo do autointeresse, e a proibição consequente de sua busca, é a grande causa de estagnação e paralisia – que se os indivíduos são proibidos de fazerem o bem por si próprios, o seu bem simplesmente não pode ser alcançado.

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Publicado originalmente em Capitalism: A Treatise in Economics.

Traduzido por Matheus Pacini.

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