Por que os americanos falharam na visão da política local afegã?

O economista Daron Acemoglu arrisca dizer que os Estados Unidos falharam menos por sua incompetência militar do que por sua visão da política local afegã.

Segundo ele, os estrategistas americanos pensavam que um estado construído de cima para baixo, com instituições, leis e um governo forte, seria suficiente para restabelecer a ordem naquele país medieval, religioso, tribal e bárbaro.

Ao longo desses 20 anos, os militares americanos, os burocratas da Secretaria de Estado, os homens e mulheres de torraram 2 trilhões de dólares numa guerra que ceifou 100 mil vidas por nada.

O Afeganistão não coube no molde construído por Washington. Ele é formado por peças que não se encaixam, seja na questão cultural, seja na idiossincrasia das tribos que ocupam aquele território hostil.

Nações são mais fortes que os projetos que as tentam moldar. No século XX, só duas nações responderam positivamente à reconstrução institucional em larga escala, feita de cima para baixo: Japão e Alemanha, após terem sido devastadas, desarmadas e humilhadas totalmente na II Guerra Mundial.

A União Soviética se desmantelou, porque o projeto comunista nasceu fracassado. A China quase matou toda a população pelo mesmo motivo. A influência britânica na Índia se desvaneceu, porque indianos não eram ingleses. Outros países só começaram a dar certo quando a nação encontrou por si só seu modelo ideal e conseguiu alcançar o consenso – casos marcantes são os da Estônia, República Tcheca e da Geórgia.

Há raros exemplos de sucesso da estratégia de cima para baixo. Um deles é Hong Kong. Mas Hong Kong é um dos países mais livres do mundo, é o lugar onde cada um pode construir por si sua vida, realizando seus sonhos sem intervenção do governo, desde que não importunem os outros.

Os americanos poderiam ter estudado mais sobre como não funciona um país onde o estado chegou primeiro que o povo ou como instituições monolíticas, rígidas, contraditórias no seu âmago, fracassam; bastaria terem estudado o modelo brasileiro.

Somos o exemplo de um “melting pot”, onde o estado veio primeiro e tenta há 500 anos modelar sem sucesso pessoas com culturas, educação e interesses tão ou mais diversos que os concidadãos dos talibãs.

Arrisco a dizer que a maioria das tentativas de fazer do Brasil um país civilizado falhou. O que se iniciou como uma revolução libertadora acabou em tirania ou fracasso. Não é por acaso que tivemos meia dúzia de constituições que acabaram rasgadas. O modelo que os americanos tentaram implantar no Afeganistão ao longo de 20 anos gerou conflitos, corrupção e expatriados.

No Brasil, não foram 20 anos. Devemos somar a estes mais 500 anos de uma sociedade onde o estado veio primeiro e se manteve no poder para ditar o que cada brasileiro faria com sua vida do berço ao túmulo.

É por isso que costumamos rejeitar instituições que, em vez de protegerem nosso ser, tentam nos moldar como sonham os ideólogos educados por jesuítas, pombalistas e esquerdistas como Anísio Teixeira, Darci Ribeiro e Paulo Freire.

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Liberdade, segurança e o 11 de setembro de 2001?

Costumo dizer que perdemos a guerra contra nossos inimigos quando, dominados pelo medo ou pelo desejo de vingança, abrimos mão de nossos princípios, aqueles que nos tornam civilizados, que fazem da nossa cultura um conjunto superior de valores que justifica inclusive não apenas dar a vida por eles, mas preservar a vida daqueles contra os quais lutamos bravamente.

Daqui a uns dias, os atentados de 11 de setembro completarão 20 anos. Foram 2977 pessoas de 90 nacionalidades diferentes mortas covardemente. As Torres Gêmeas foram derrubadas, a economia mundial sofreu um baque.

A vida nesse mundo globalizado mudou para sempre, e para pior, no que se refere ao balanço entre liberdade e segurança. Todos os governos do mundo aumentaram o controle sobre a vida dos indivíduos alegando precisarem proteger todos do terrorismo, ou até de nós mesmos.

O mais impressionante é que os Estados Unidos da América, outrora uma república constitucional, bastião da defesa dos direitos individuais, entregaram os pontos, adotando medidas típicas de estados policialescos, como aqueles a que ele sempre disse se opor.

Os americanos podem ter matado Osama Bin Laden, mas o custo disso foi maior que os 2 trilhões de dólares gastos na Guerra do Afeganistão. O governo americano acabou abandonando seus princípios, seus valores e seu orgulho.

Torço para que os Estados Unidos reencontrem o caminho que o Brasil nunca percorreu, o caminho que costumam trilhar os povos em direção à civilização. O caminho onde o Rule of Law pavimenta a estrada para o florescimento individual e a prosperidade baseada na ordem espontânea dos mercados e na incessante busca da paz e da justiça. O caminho onde não há espaço para o Rule of Man, onde leis subjetivas relativizam os direitos individuais, tornando os homens escravos indefesos dos grupos que capturam e dominam o Estado.

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Revisado por Matheus Pacini.

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