Aristóteles, o filósofo grego, pode ser considerado o primeiro liberal da história ao descobrir, sistematizar e legar à humanidade o conhecimento necessário para que o homem pudesse viver em liberdade.
Com o fim do período clássico e tendo caído no esquecimento, a filosofia aristotélica cedeu lugar, poucos séculos depois, às religiões que escravizaram o homem ao sobrenatural, à divindade, à ideia da revelação, à inexistência do livre-arbítrio e ao determinismo.
Não foi à toa que essa mudança ideológica desaguou em um período de quase 1000 anos de estagnação, miséria, guerra e escravidão conhecido como a Idade das Trevas.
Foi com o resgate de Aristóteles feito por três homens ligados a religiões diferentes (e não podia ter sido diferente, pois só os religiosos tinham acesso aos escritos antigos) que os líderes intelectuais voltaram seu olhar para o mundo terreno, buscando na realidade e na razão respostas para as questões existenciais.
Maimônides, Averróis e Tomás de Aquino lideraram o processo de reintrodução, cada um à sua maneira, cada um com um propósito específico, das ideias de Aristóteles, encaminhando os intelectuais, estetas e pensadores revolucionários, a criarem uma nova visão de mundo que chamamos de Renascimento.
A influência hegemônica das religiões, principalmente do cristianismo, que durara mais de nove séculos, estava sendo desafiada desde dentro pelo tomismo, o qual teve que ceder espaço na metafísica e na epistemologia às coisas terrenas e à razão como único meio de obtenção do verdadeiro conhecimento, sob pena do descrédito total da religião.
Com o Renascimento, abriu-se a oportunidade de o homem olhar o mundo e tirar por si próprio conclusões sobre as coisas da vida, da existência e da moral, sem a tutela de ninguém, mas exclusivamente do que é real, verdadeiro, racional.
O Iluminismo sucedeu ao Renascimento, iniciando um processo revolucionário que consistia em duas vertentes, a racionalista e a empiricista, que, por falta de objetividade, nunca conseguiram se livrar de todos os dogmas, sejam eles seculares ou religiosos.
A mais importante atividade humana é focar sua mente e pensar. A segunda mais importante é usar sua mente para construir um código que oriente sua ação tendo em vista um padrão de referência.
Quando pensamos sobre a nossa natureza, e sobre como nos relacionamos com a realidade, o universo e suas leis cognoscíveis, descobrimos que a existência humana requer um código de comportamento, que chamamos de ética ou moral.
A ética que guia nossa vida nessa jornada existencial deve eleger a vida como padrão de valor moral mais elevado. Mas não apenas isso, a vida mais importante que há é a do indivíduo que dela depende para existir. A vida de um ser humano não se resume à sua existência, mas também ao principal propósito que qualquer indivíduo pode ter enquanto vive: buscar a própria felicidade.
A moral que deve guiar o ser humano durante sua caminhada como um indivíduo é a do autointeresse racional. Esse guia exige que cada um de nós pense antes de agir, crie antes de consumir, aprenda se não puder pensar por si e troque o que sabe produzir pelo que não sabe fazer.
Para fazer tudo isso é preciso que dois princípios sejam buscados e defendidos até com a morte se for preciso, a liberdade e a justiça. A liberdade para pensarmos e agirmos para criarmos e mantermos os valores que consideramos necessários para uma vida saudável e feliz.
A justiça para usufruirmos do que criarmos e fizermos por mérito. Seja pelo bem ou pelo mal que causarmos.
Ser liberal é estar ao lado dessa ideia ainda não compreendida totalmente de que precisamos estar livres da coerção, seja ela iniciada por nós mesmo ou terceiros, para podermos criar e manter os valores que elegemos para viver e buscar nossa própria felicidade.
Ser liberal também é saber refutar e combater o mal em todas as suas formas, principalmente aquelas que visam impedir-nos de pensar e agir conforme nossas próprias convicções, estejamos certos ou não.
Um liberal de verdade não está preocupado com a tradição, nem com a mudança. A preocupação de um liberal está sempre direcionada para o que proporciona uma tradição ou mudança. Um liberal está sempre focado em se a liberdade e a justiça seguirão intactas ou, se estiverem sendo corroídas, como fazer para protegê-las.
Se a tradição é proteger a liberdade e a justiça, porque promover mudanças?
Se a tradição impede que a liberdade e a justiça existam, as mudanças devem ser imediatas.
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Revisado por Matheus Pacini.
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