Por que “A nascente” é uma obra maravilhosa?

Nascida Alisa Rozenbaum em 1905, em São Petersburgo, na atual Rússia, Ayn Rand faleceu aos 77 anos, em 1982, nos Estados Unidos. A autora vivenciou, durante sua infância e adolescência, os desdobramentos das revoluções russas ocorridas no início do século XX, responsáveis por derrubar o regime czarista de Nicolau II, levando o regime socialista ao poder. Tais acontecimentos marcaram sua vida e moldaram seu modo de pensar, influenciando em suas contribuições para a sociedade. Em meados da década de 1920, a escritora desembarcou nos Estados Unidos, onde iniciou sua carreira de sucesso, não somente em obras literárias, mas também com grandes contribuições no teatro e cinema americanos.

Ayn Rand desenvolveu a corrente filosófica denominada Objetivismo, que se faz presente em suas obras. A autora descreveu essa corrente como “o conceito do homem como um ser heroico, com sua própria felicidade como o propósito moral de sua vida, com a realização produtiva como sua atividade mais nobre e a razão como seu único absoluto”. Em suma, o conceito do objetivismo enaltece o indivíduo como um agente protagonista de transformações em benefício próprio, representando, portanto, um ideal antagônico ao coletivismo.

A grande obra “A Nascente” é, notadamente, uma das principais da autora, posto que também é ocupado pelo famoso livro “A Revolta de Atlas”. Publicada em 1943, “A Nascente” teve mais de 6 milhões de cópias comercializadas no mundo, além de ter sido levada aos cinemas, na adaptação “Vontade Indômita”, de 1949, e com roteiro da própria Rand. Na obra, o leitor se depara com mais de 900 páginas, subdivididas em quatro capítulos, com cada um dando maior destaque a algum dos principais personagens da trama: Peter Keating, Ellsworth Toohey, Gail Wynand e Howard Roark. A trama, permeada pelas ideias filosóficas do Objetivismo, traz um recorte da sociedade americana, representado pelo meio da arquitetura. Nele, os personagens principais da obra simbolizam alguns pilares da sociedade.

Howard Roark é o herói do livro, sendo apresentado como um jovem arquiteto idealista, defensor de um novo estilo de arquitetura em rompimento com o passado, sendo amplamente combatido pela sociedade, que defende a manutenção do status quo. Roark pode ser visto como um pilar do individualismo, que defende, por meio de suas obras, o culto ao homem e à sua própria capacidade de alcançar feitos incríveis. O jovem arquiteto se destaca por ser implacável na manutenção de seus ideais, priorizando-os em detrimento até mesmo de seu sucesso financeiro.

Já Peter Keating representa o cidadão médio, que deseja prestígio social acima de tudo, sendo guiado apenas pela sinalização de virtude perante a sociedade. Keating, também um jovem arquiteto, é desprovido de talento e interesse por sua própria área de formação, a qual escolheu apenas pela possibilidade de prestígio. Ele, eventualmente, alcança a prosperidade financeira por meios antiéticos, ao se tornar sócio da maior empresa de arquitetura do país, ainda que mantendo o combate ao individualismo proposto por Roark.

Representando os executivos dos meios de comunicação, Gail Wynand é um empresário de sucesso, dono do principal jornal de Nova York e de outros empreendimentos. Apesar de sua trajetória de sucesso individual e de, pessoalmente, estar alinhado ao posicionamento do herói da trama, os jornais de Wynand combatem Roark veementemente. Essa postura simboliza a busca da imprensa pelo alinhamento com os interesses das massas, mesmo que isso signifique abrir mão da liberdade individual.

Empregado de Wynand e dotado de ótima retórica, Ellsworth Toohey é um crítico de arquitetura que possui um discurso coletivista. Toohey é descrito ao longo da obra como uma pessoa sem grandes realizações, sempre se opondo fortemente aos feitos de Howard Roark. Toohey utiliza seu discurso para incentivar a mediocridade como uma forma de obter destaque pessoal.

Longe de ser um mero romance sobre arquitetura, “A Nascente” possibilita enxergar sua história sob diferentes perspectivas.

Em um primeiro plano, é possível enxergá-la como a jornada de um verdadeiro empreendedor, dono de um forte senso de propósito, lutando contra o senso comum em prol de uma sociedade melhor. Ao longo da trama, Howard enfrenta a falência e é combatido pela imprensa e pela sociedade por defender sua visão de mercado, algo muito comum na jornada de empreendedores.

Já sob uma perspectiva mais profunda, a obra mostra o caminho de um homem excepcional, em busca de seu ápice e do topo que um indivíduo pode alcançar, dando a oportunidade para que mais pessoas o acompanhem. Todavia, é fortemente combatido pelos membros medíocres da sociedade.

Sob uma terceira perspectiva, é possível enxergar, ainda, uma batalha entre ideais liberais versus ideais comunistas, que utilizam o clamor popular para ganhar força.

Com uma abordagem com profundidade e grande nível de detalhamento de cada personagem, “A Nascente” é uma obra genial e envolvente. Além dessas características, Ayn Rand nos entrega um livro atemporal, que pode perfeitamente se encaixar com o ambiente do século XXI, especialmente aquele vivido nos últimos anos. Talvez, seja justamente essa última característica que deva nos provocar uma reflexão, afinal, após 80 anos desde a publicação do livro, o cenário previsto por Rand não melhorou. Não encontramos a exaltação de nossa liberdade individual, pelo contrário, estamos com essa ainda mais ameaçada.

“Gabriel é Engenheiro de Controle e Automação, MBA em Gestão de Projetos e gerente de portfolio de projetos. Atualmente, atua como associado no Instituto Líderes do Amanhã.”

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Revisado por Matheus Pacini.

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