O problema dos defensores da liberdade de expressão no Brasil pode ser resumido dizendo-se que há brasileiros que se dizem liberais que não leram John Stuart Mill, ou que só leram John Stuart Mill, e que lendo ou não John Stuart Mill não entenderam ainda o significado de liberdade de expressão.
Liberdade de expressão é contextual.
Tudo o que se expressa pode gerar uma reação de proporções imprevisíveis naqueles com os quais convivemos socialmente.
O que foi expresso original e livremente gerará manifestações a favor ou contrárias que podem também ser livremente expressas.
Se alguém diz alhos, haverá quem diga bugalhos.
Se alguém diz sim, haverá quem diga não.
Se alguém está associado a outro e diz ou faz algo com que o outro não concorda nem aceita, desassociar-se é um ato de liberdade de expressão.
Se você acha que as pessoas não decidem por si, mas por pressão de grupos de militantes e, por isso, entende que essas pessoas não deveriam ceder, você está querendo que elas continuem não decidindo por si, mas seguindo o que você quer.
Cada pessoa decide por si, porque quem escolhe qual valor é mais importante para ela num determinado contexto real, objetivo, concreto, é ela e não você.
Quem acha que empresas, clubes, indivíduos não podem ceder à pressão popular está fazendo pressão popular com base nos seus valores pessoais.
Quem expressa algo original sem se ater ao que pensam aqueles a quem está associado poderá ser surpreendido com reações indesejadas.
Isso significa que a pessoa deve se policiar naquilo que diz? Não apenas isso: devemos pensar mil vezes no que fazemos, porque isso é melhor do que fazermos algo sem pensar.
Isso não vale apenas para decidirmos sobre o que podemos dizer ou fazer, mas também com quem podemos ou devemos nos associar.
Valores são objetivos, devem servir à nossa própria vida na realização dos nossos próprios propósitos, na busca da nossa própria felicidade.
Pensar mil vezes antes de agir significa exatamente identificar quais os valores que estamos tentando criar e manter para que a nossa vida seja possível e a nossa felicidade alcançável.
Não apenas devemos colocar nossa mente em foco para identificar esses valores, como precisamos integrar tais valores para podermos hierarquizá-los e nos certificarmos de que eles não contrariam princípios morais básicos, virtudes, como racionalidade, honestidade, integridade, produtividade, independência e justiça.
Ser livre implica necessariamente o respeito à liberdade alheia de concordar ou não, de querer se associar ou não, de ceder espaço ou não, de apoiar ou não.
Lembre-se de que você só está imune às reações alheias num ambiente de absoluta privacidade, seja quando você está sozinho na sua propriedade, seja quando está isolado numa ilha.
A vida em sociedade produz benefícios que ninguém vivendo sozinho no seu mundinho consegue obter. Conhecimento e comércio são atividades que propiciaram à humanidade alcançar padrões de vida que há 300 anos eram inimagináveis.
Viver em sociedade exige, porém, um esforço que nem todos estão dispostos a fazer: respeitar os outros. O respeito aos outros quando estes não tentam por sua vez impor os seus valores, sejam eles objetivamente válidos ou não, é um valor em si mesmo.
Impor no contexto social tem apenas um significado: usar de coerção, força ou fraude. Se alguém defende seus valores, mas não recorre à coerção, você é livre para dizer sim ou não.
Quem compreende isso pode se dizer um liberal.
________________________________
Revisado por Matheus Pacini.
Curta a nossa página no Facebook.
Inscreva-se em nosso canal no YouTube.
__________________________________________