O único caminho para o amanhã

A maior ameaça à civilização é a difusão da filosofia totalitária. Seu maior aliado não é a devoção de seus seguidores, senão a confusão de seus inimigos. Para lutar contra ela, devemos entendê-la.

Totalitarismo é coletivismo. Coletivismo significa que a submissão do indivíduo a um grupo, não importa qual forma tome, se raça, classe ou país. O coletivismo proclama que o homem deve ser acorrentado à ação e ao pensamento coletivos no interesse do chamado “bem comum”.

Ao longo da história, nenhum tirano jamais chegou ao poder sem afirmar que representava o “bem comum”. Horrores que nenhum homem se atreveria a considerar para o seu próprio benefício egoísta são perpetrados com a consciência tranquila por “altruístas” que se justificam pelo “bem comum”.

Nenhum tirano durou muito tempo usando exclusivamente a força das armas. Os homens têm sido escravizados principalmente por armas espirituais. E a maior delas é a doutrina coletivista da supremacia do bem comum sobre o indivíduo. Nenhum ditador poderia surgir se os homens tivessem a convicção pétrea de que têm direitos inalienáveis dos quais não podem ser privados por nenhum motivo, por nenhum homem, malfeitor ou benfeitor; que nenhuma causa, por mais elevado que possa parecer, é superior a esses direitos.

O individualismo sustenta que o homem é uma entidade independente com direito inalienável à busca de sua própria felicidade em uma sociedade em que os homens tratam uns aos outros como iguais, através de trocas voluntárias não reguladas.

O sistema estadunidense baseia-se no individualismo. Se quisermos que sobreviva, devemos entender os princípios do individualismo, mantendo-os como nosso padrão em qualquer questão pública, em todos os temas com os quais deparamos. Devemos ter uma crença positiva, clara e coerente.

Temos que aprender a negar como absolutamente maligna a concepção de que o “bem comum” é superior aos direitos individuais. A felicidade geral não pode ser criada a partir do sofrimento ou da autoimolação geral. A única sociedade feliz é a formada por indivíduos felizes. Não há como ter um jardim bonito com flores murchas.

O poder da sociedade deve estar sempre limitado pelos direitos básicos e inalienáveis do indivíduo. Tal foi a concepção dos pais fundadores dos Estados Unidos, que colocaram os direitos individuais acima de todas as demandas coletivas.

O direito à liberdade significa o direito do homem à ação, à escolha, à iniciativa e à propriedade individuais. Sem o direito à propriedade privada nenhuma ação independente é possível.

O direito à busca da felicidade significa que o direito do homem a viver por si mesmo, a decidir o que constitui sua felicidade pessoal, própria e privada, e a trabalhar para consegui-la. Cada indivíduo é o juiz único e definitivo de suas decisões. A felicidade de um homem não pode ser prescrita para ele por outro homem ou grupo de homens.

Esses direitos são particulares a cada homem, desde o seu nascimento, e não requerem nenhuma outra sanção.

Desde o começo da história, dois antagonistas têm se enfrentado, dois tipos opostos de homens: ativos e passivos. O homem ativo é o produtor, o criador, o promotor, o individualista. Sua necessidade básica é a independência, e o é para que ele possa pensar e trabalhar. Ele não necessita e, tampouco, busca poder sobre os outros, e não aceita ser obrigado a trabalhar abaixo de alguma forma de compulsão. Todas as formas de trabalho bom – de colocar ladrilhos a compor uma sinfonia – são feitas pelo homem ativo. Os graus de habilidade humana variam, mas o princípio básico segue sendo o mesmo: o grau de independência e iniciativa de um homem determina o seu talento como trabalhador, e sua valor como homem.

O homem passivo encontramos em todos os níveis de sociedade, em mansões ou em casebres, e sua marca de identificação (o que o distingue) é o seu medo da independência. Ele é um parasita que espera ser atendido pelos outros, receber instruções, obedecer, ser subjugado, ser regulado, que lhe digam o que deve fazer. Ele abraça o coletivismo, porque esse elimina qualquer possibilidade de ele ter que pensar ou atuar por iniciativa própria.

Quando uma sociedade se baseia nas necessidades do homem passivo, essa sociedade destrói o ativo; mas quando o ativo é destruído, o passivo não pode sobreviver. Quando uma sociedade se baseia nas necessidades do homem ativo, com sua energia, ele leva os passivos nas costas, fazendo-os crescer, melhorando a situação de todos. Esse tem sido o esquema de qualquer progresso humano.

Alguns humanistas exigem um estado coletivista com base em sua compaixão pelo incompetente, pelo homem passivo. Pelo bem desse querem subjugar o ativo. Mas o homem ativo não pode funcionar sob coerção. E uma vez tenha sido destruído, a destruição do homem passivo segue automaticamente. Assim que, se a compaixão é a primeira consideração dos humanistas, então, mesmo que só por compaixão, deveriam deixar o homem ativo livre para funcionar, de modo a ajudar o passivo. Não há outra maneira de ajudá-lo. Os ativos, todavia, são exterminados em uma sociedade coletivista.

A história da humanidade é a história da luta entre o homem ativo e o homem passivo, entre o indivíduo e o coletivo. Os países que produziram homens mais felizes, os maiores padrões de vida, e os maiores avanços culturais foram os países em que o poder do coletivo – do governo, do Estado – foi limitado, e em que se concedeu ao indivíduo a liberdade de ação independente. Como exemplos, temos: a ascensão de Roma, com sua concepção de lei baseada nos direitos do cidadão, acima da barbárie coletivista de seu tempo; a ascensão da Inglaterra, com seu sistema de governo baseado na Carta Magna, acima da barbárie coletivista de seu tempo e a ascensão dos Estados Unidos a um nível de êxito sem igual na história, graças à liberdade individual e à independência que sua constituição concedeu a cada indivíduo.

Enquanto os homens seguem analisando as causas da ascensão e queda das civilizações, cada uma das páginas da história nos diz aos gritos que só existe uma fonte de progresso: o homem individual e sua ação independente. O coletivismo é o antigo princípio da selvageria. Toda a existência do selvagem é pública, regida pelas leis de sua tribo. A civilização é o processo de libertação do homem dos homens.

Resta-nos escolher: seguir adiante ou regredir.

O coletivismo não é a “nova ordem do futuro”. É a ordem de um passado obscuro. Mas há, sim, um caminho para o amanhã, uma “nova ordem do amanhã”, e ela pertence ao indivíduo, ao único criador de todas as manhãs que, em algum momento, foram concedidas à humanidade.[1]

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Traduzido por Matheus Pacini

Publicado originalmente em Readers Digest

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[1] RAND, Ayn. “The Only Path to Tomorrow”, The Ayn Rand Column.

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