O que significa “estar presente” ou “viver o momento”? Esse conceito é abordado com frequência no teatro e em aulas de comunicacão. Mas nunca me explicaram de forma satisfatória. Entendia que se tratava de algo positivo: aqueles que estavam “presentes” ou “no momento” pareciam mais autênticos. Tinham empatia com os outros. Pareciam mais vivos. Mas o que havia de especial neles? O que era preciso para tal? Estas são as minhas conclusões.
Estar presente é ter consciência do seu entorno, dos valores que estão em jogo, e de seu poder de decisão em determinado momento.
Em outras palavras, estar presente é viver no aqui e agora, é estar consciente da realidade, do aqui e agora, incluindo as ameaças e as oportunidades que você enfrentará. Você reconhece seu poder de escolha para agir para obter (ou não) seus valores.
É bizarro, irônico ou perfeitamente lógico que atores tenham desenvolvido esse conceito antes de nós?
Pegue a cena em que Hamlet diz à Ofélia “vá para um convento”, mas com o sentido de “prostíbulo”. Para estar “presente”, o ator no papel de Hamlet precisa reagir genuinamente a Ofélia, conforme ela elabora suas falas.
Ele precisa conhecer o objetivo de Hamlet, isto é, o que ele está tentando obter na cena. Talvez ele queira humilhá-la, magoá-la ou proteger a si próprio. O ator encenando Hamlet precisa ter em mente o que precisa ser feito para tal. Se ele recitar as falas sem pensar, perde-se o drama.
Da mesma forma, como palestrante ou professor, você precisa estar presente quando se comunica com um grupo. Precisa captar e reagir à linguagem corporal, aos sons e a outras evidências que indicam o nível de entendimento do público. Precisa ter em sua mente o desejo de esclarecer e se conectar com seus ouvintes, ajustando suas entregas de modo que o grupo entenda o que você está dizendo.
No passado eu descrevia “estar presente” como ter consciência das próprias emoções. Mas percebo que isso não é o principal. Pessoas que se entregam à raiva, à angústia ou à confusão têm autoconsciência, mas não estão presentes.
Eles não têm espaço mental para prestar atenção ao seu entorno. Estão absortos em suas emoções e assim perdem oportunidades, ignoram ameaças e se tornam impotentes. Quantas vezes você viu alguém queixando-se da quantidade de trabalho a fazer, sendo que teria boa parte pronta se usasse esse tempo trabalhando?
O segredo para estar presente é: ter consciência dos valores que estão em jogo. Por valores, entenda aquilo que você pode obter ou perder, baseado na ação do momento.
Por exemplo, imagine uma gerente com dificuldades para se comunicar com um membro da equipe que agiu de forma grosseira a um cliente. Suponha que ela tente primeiro orientá-lo sobre como ele poderia melhorar, mas ele fica na defensiva. Nesse momento, os valores dela mudam.
Como gerente, reconhece que, naquele momento, treiná-lo está fora de cogitação. Uma pessoa na defensiva não assimilará o que ela diz. Então, ela precisa descobrir se há outra alternativa.
Ela deseja contar com a parceria dele? Em caso positivo, talvez uma boa conversa, sem punição, seja uma boa opção. Ela tem receio de ficar à mercê da defensiva dele? Então, ela pode optar por ser empática.
O sistema de valores emocionais do homem é projetado para alertá-lo sobre possíveis ameaças e oportunidades conforme elas surgem.
Mas traduzir emoções em consciência dos valores envolvidos não é um processo automático. Como saber o que está em jogo em cada momento? É preciso trabalhar nisso.
Primeiro, é preciso monitorar seus sentimentos. Sem consciência emocional, não é possível identificar um alerta quando ele aparece. Mas sozinha, embora necessária, não será suficiente.
Segundo, é preciso refletir sobre o sentimento para definir seu significado. Quando é tensão, cansaço, algum outro estado mental ou físico, fica óbvio. Mas se for uma emoção, as coisas mudam. O que estaria por trás dela? Isso é verdade?
Terceiro, é preciso identificar ameaças concretas e oportunidades através da linguagem racional dos valores, olhando para o todo com a perspectiva de obter o maior retorno possível.
Essa é a razão pela qual estar presente no contato interpessoal é tão difícil. Você não conta com informações de antemão. Se você desiste mentalmente de avaliar o conteúdo de uma conversa, você não está mais presente nela, e a pessoa percebe imediatamente sua falta de conexão emocional.
E como se aprende a estar presente? Recomendo começar pelo que é mais fácil: pense sobre os valores que estão em jogo. Analise as conversas em retrospectiva. Prepare-se para conversas difíceis com antecedência, tentando mapear o que faz sentido para você e para o outro, para não precisar lidar com isso _in loco_.
E, claro, é possível treinar para os momentos. Aprendi isso nas 200 horas de treinamento do livro de Marshall Rosenberg, Comunicacão não-violenta.
Mas é possível “estar presente”, mesmo sem treinamento. Você pode fazer isso. Basta estar consciente do que acontece ao seu redor, entender por que isso importa e reconhecer que você sempre tem uma escolha.
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Publicado originalmente em Thinking Directions.
Revisado por Matheus Pacini.
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