Quando você pergunta “O que alguém pode fazer?” – a resposta é “FALAR” (contanto que você saiba o que está falando).
O primeiro passo é organizar suas próprias ideias e integrá-las em um todo consistente, no melhor do seu conhecimento e capacidade. Isso não significa memorizar e recitar slogans e princípios: o conhecimento necessariamente inclui a capacidade de aplicar princípios abstratos a problemas concretos, reconhecer os princípios em questões específicas, demonstrá-los, e apresentar um curso de ação consistente. Isso não requer onisciência ou onipotência, requer honestidade – honestidade intelectual, que consiste em reconhecer aquilo que se sabe, expandir constantemente o próprio conhecimento, e nunca ignorar ou deixar de corrigir uma contradição. Isso significa: o desenvolvimento de uma mente ativa como um atributo permanente.
Quando ou se suas convicções estiverem organizadas e sob o seu controle consciente, você será capaz de comunicá-la às outras pessoas.
Algumas sugestões: não espere uma plateia nacional. Fale em qualquer escala aberta a você, grande ou pequena – aos seus amigos, seus associados, seu conselho de classe, ou em qualquer local público legítimo. Você nunca poderá dizer quando suas palavras alcançarão a mente certa no momento certo. Você não verá resultados imediatos – mas é de tais atividades que a opinião pública é feita.
Não perca a oportunidade de expressar suas visões sobre questões importantes. Escreva cartas aos editores de jornais e revistas, aos comentaristas do rádio e TV e, sobretudo ao seu parlamentar (que depende de seus eleitores). Se suas cartas são breves e racionais (ao invés de incoerentemente emocionais), terão maior influência do que você imagina.
As oportunidades para falar estão todas ao seu redor. Eu sugiro que você faça a seguinte experiência: observe quantas vezes as pessoas manifestam noções políticas, sociais e morais incorretas como se fossem verdades autoevidentes, com a sua aprovação silenciosa. Então torne um hábito objetar a tais comentários – não, não faça longos discursos, que raramente são apropriados, mas simplesmente diga: “eu discordo” (e esteja preparado para explicar o porquê se o seu interlocutor quiser saber). Essa é uma das melhores maneiras de impedir a disseminação de clichês maliciosos. (Se o interlocutor é inocente, isso irá ajudá-lo; se não for, isso abalará sua confiança na próxima vez). De forma mais particular, não fique calado quando suas próprias ideias e valores estão sendo atacados.
Não faça “proselitismo” indiscriminado, isto é, não force discussões ou embates contra aqueles que não estão interessados ou não estão dispostos a argumentar. Não é seu trabalho salvar a alma de todas as pessoas. Se você faz as coisas que estão em seu poder, você não se sentirá culpado por não fazer – “de algum jeito” – as coisas que não estão.
Essas são algumas das coisas corretas a fazer, tão frequentemente e tão amplamente quanto possível.
Nunca é tarde demais ou cedo demais para se propagar as ideias corretas – exceto sob uma ditadura. Se uma ditadura algum dia tomar este país, será pela omissão daqueles que ficaram calados.
[Extraído e adaptado do ensaio “What Can One Do?”, 1972, “Philosophy: Who Needs It”]
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Tradução de Breno Barreto
Revisão de Matheus Pacini
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