A marca de um homem honesto, diferentemente de um coletivista, é que ele quer dizer o que diz, e sabe o que quer dizer.
Quando dizemos que os direitos individuais são inalienáveis, queremos dizer exatamente isso. Inalienáveis significa que nunca podemos tirá-los, suspendê-los, infringi-los, restringi-los ou violá-los: nunca, em nenhum momento, seja qual for o motivo.
Não podemos dizer “o homem possui direitos inalienáveis, exceto no inverno e numa quarta-feira sim, noutra não”, assim como não podemos dizer que “o homem tem direitos inalienáveis, salvo em caso de emergência” ou que “os direitos do homem não podem ser violados, a menos que seja para o bem comum.”
Ou os direitos são inalienáveis, ou não são. Não podemos dizer algo como “meio inalienável” e nos considerarmos honestos ou em juízo perfeito. Se impusermos condições, reservas e exceções, admitimos que existe algo ou alguém acima dos direitos do homem, podendo violá-los à vontade. Quem? Por certo, a sociedade – quer dizer, a coletividade. Por que razão? Pelo bem da coletividade. Quem decide quando os direitos devem ser violados? A coletividade. Se é nisso em que você acredita, posicione-se do lado que lhe corresponde e admita ser um coletivista, aceitando todas as implicações do fato. Não existe meio-termo. Não é possível estar na procissão e, ao mesmo tempo, tocando o sino da igreja. Você não está enganando ninguém mais que a si próprio.
Não podemos nos esconder atrás de frases prontas que nada significam, como a da busca por um “meio-termo”. Individualismo e coletivismo não são uma bifurcação de um mesmo caminho, sendo o “meio” um lugar seguro: são dois caminhos que vão em direções opostas. Um leva à liberdade, à justiça e à prosperidade; o outro, à escravidão, ao horror e à destruição. A escolha está em suas mãos.
A difusão crescente do coletivismo no mundo não se deve a nenhuma habilidade especial dos coletivistas, senão ao fato que a maioria das pessoas que se opõe a eles, na verdade, também crê no coletivismo. Uma vez que o princípio é aceito, não é o homem que está convencido pela metade, mas sim o homem decidido, que prevalecerá; não é o homem menos consistente em aplicá-lo, senão o mais consistente. Se alguém começa uma corrida dizendo: “tenho a intenção de correr apenas os primeiros 10 metros”, o homem que disser: “correrei até a linha de chegada” irá superá-lo. Quando alguém diz: “quero violar os direitos humanos, mas só um pouquinho”, o comunista ou fascista que disser: “irei destruir todos os direitos humanos”, prevalecerá. Está aberto o caminho para a ditadura.
Ao se permitirem tal desonestidade e evasão, os homens caíram em uma armadilha coletivista, o debate de se uma ditadura é correta ou não. A maioria das pessoas condena a ditadura da boca para fora. Poucas delas, todavia, adotam uma atitude definitiva e reconhecem uma ditadura pelo que ela realmente é: uma maldade absoluta sob qualquer forma que seja, exercida por quem seja, em favor de quem seja, seja onde for, em todo momento e com qualquer finalidade.
Muitas pessoas se escondem numa espécie de relação indecente sobre as diferenças entre uma “boa ditadura” e uma “má ditadura”; sobre os motivos, as causas ou as razões que tornam uma ditadura apropriada. Os coletivistas substituíram a pergunta “o que é uma ditadura?” por “que tipo de ditadura você quer?” Eles podem se dar o luxo de deixá-lo discutir de aí em diante, pois já lograram o seu objetivo.
Muitas pessoas acreditam que uma ditadura é terrível se for por um “motivo ruim”, mas que está tudo bem e ela é até desejável caso for por um “bom motivo”. Os simpatizantes do comunismo (que geralmente se consideram “humanitários”) proclamam que os campos de concentração e as câmaras de tortura são ruins quando usadas “egoistamente”, “em benefício de uma raça”, como fez Hitler, porém totalmente nobres quando usadas “desinteressadamente”, “em benefício das massas”, como fez Stálin. Os simpatizantes do fascismo (que geralmente se consideram “realistas” empedernidos) proclamam que o laço e os capatazes de escravos são impráticos quando usados “ineficientemente”, como na Rússia, porém realmente práticos quando usados “eficientemente” na Alemanha.
(E só como exemplo prático das consequências de princípio equivocado, observe que os “humanitários” que estão preocupados com aliviar o sofrimento das massas, aprovam, na Rússia, um estado de miséria para toda a população, como nunca as massas tiveram que suportar em nenhum momento da história. E os “realistas” que se vangloriam por serem práticos aprovam, na Alemanha, o espetáculo de um país devastado na ruína total, o resultado final de uma ditadura “eficiente”).
Ao entrar na discussão sobre o que é uma ditadura “boa” ou “má”, você já aceitou e aprovou o princípio da ditadura – uma premissa de maldade total – e seu direito de escravizar os outros pelo que você crê ser bom. A partir daí, é só uma questão de quem vai coordenar a Gestapo. Nunca será possível acordo com seus correligionários coletivistas sobre qual é a causa “boa” para empregar a brutalidade e qual é a “má”. Sua definição favorita pode acabar sendo uma da deles (ou não). Você poderia alegar que é bom assassinar os homens apenas em benefício dos pobres; outro poderia afirmar que é bom matar os homens apenas em benefício dos ricos; você poderia afirmar que é imoral assassinar alguém, exceto os membros de certa classe; outro poderia alegar que é imoral assassinar alguém, exceto os membros de certa raça. Todos vocês estarão, com efeito, de acordo em assassinar, faltando só definir os detalhes.
Uma vez proposto o princípio da ditadura, todos estão convidados a fazer o mesmo. Se não gostarem do seu “bom motivo”, não terão outra opção a não ser derrotá-lo rapidamente, estabelecendo seu próprio tipo preferido de ditadura. Uma “boa ditadura” é uma contradição em termos.
A questão não é: “qual objetivo justifica escravizar os homens?” A questão correta é: “é certo escravizar os homens?
Há uma corrupção moral atroz ao se dizer que é possível justificar uma ditadura por um “bom motivo” ou por um “motivo desinteressado”. Todas as tendências brutais e criminais que a humanidade aprendeu a reconhecer como malignas e impraticáveis – durante séculos de um lenta saída da barbárie – se refugiam agora atrás do rótulo do “social”. Hoje, muitos homens acreditam que é ruim roubar, assassinar e torturar em benefício próprio, mas que é um sinal de virtude fazê-lo em benefício dos outros. Você não pode apoiar a violência em proveito próprio, porém sancioná-la se em proveito dos outros. Talvez a afirmação mais repugnante que possa ser feita seja: “Stalin matou milhões, mas é justificável, já que foi em benefício das massas”. O coletivismo é o último reduto da barbárie na mente dos homens.
Nunca considere os coletivistas como “idealistas sinceros, mesmo que enganados”. A proposição de escravizar alguns homens em benefício de outros não é um ideal; a brutalidade não é “idealista”, não importa quais sejam os seus fins. Nunca diga que o desejo de “fazer o bem” pela força é um bom motivo. Nem a busca de poder, nem a estupidez são bons motivos.
_________________________________________
Publicado originalmente em The Ayn Rand Letter.
Traduzido por Matheus Pacini.
Curta a nossa página no Facebook.
Inscreva-se em nosso canal no YouTube.
__________________________________________