O HOMEM CRIATIVO VERSUS O COLETIVISMO

RESUMO

Este ensaio tem a finalidade de discutir sobre como a sociedade distopica na obra “Cântico” regrediu no âmbito da ciência e do conhecimento humano, além de abordar como a liberdade é fundamental na história dos avanços tecnológicos e como ele é trabalhado na obra da Rand. Assim, ainda se discute o coletivismo como o processo de destruição criativa, da liberdade, da supressão individual e da mente humana.

PALAVRAS-CHAVE: Coletivismo, Criação, Razão, Individual, Tecnológico.

1 INTRODUÇÃO

O que hoje conhecemos de avanço tecnológico foi resultado de um longo processo histórico de indivíduos movidos por suas convicções e o desejo criativo, do partum hominis (homem criativo), esses homens municiados apenas pelo desejo de criar, guiaram a civilização ao longo dos tempos, suas inovações facilitaram e elevaram o padrão de vida dos seus irmãos, suas criações permitiram os mais variados métodos de avanço científico, suas máquinas forneceram a redução do trabalho humano, seus métodos de cultivo concederam a produção das mais diversas formas alimentícias, suas mentes criativas avançaram o estágio medicinal ao mais alto nível, mas esse não foi resultado de uma entidade coletiva, ao contrário, todo avanço tecnológico foi resultado de homens livres, motivados por suas próprias visões e o desejo de criar.

Em Cântico, não é permitido aos homens o direito de escolherem suas profissões, essa atividade é dever do Conselho de Vocações, não é permitido o desejo sexual e tão pouco escolher uma parceira, os homens tiveram suas individualidades suprimidas, não é sequer permitido aos homens pensar, escrever e criar sozinho, esses atos são transgressões dignas de pena, seus nomes são coletivizados, o que não é inventado por todos não pode ser bom, mentes criativas e individuais são criminosas, os indivíduos não podem satisfazer suas necessidades e desejos se não são compartilhados entre todos, sua felicidade deve ser a dos seus irmãos. Portanto, não é permitido que os homens sejam racionais, que empregue o poder da sua mente e capacidade criativa para satisfazer seus desejos, o único pensamento que deve ser realizado é da palavra “nós”, a humanidade foi reduzida ao coletivo numérico, os números e sua homogeneidade são a única coisa importante e foi assim que a humanidade perdeu seus avanços tecnológicos, o aço não existia mais na sociedade de Liberdade 7-2521, a eletricidade foi uma dádiva do passado, os meios de transporte não eram voadores e sequer eram movidos por gasolina, não existia espelhos que refletissem suas imagens e muito menos construções civis que não fossem prédios cinzas, sua fonte mais próxima de energia eram as luzes das suas velas e essa foi por muito tempo a maior invenção criada pelo Conselho dos Eruditos, pela mente coletiva, por “nós”.

Esse estágio tecnológico retrocedeu porque o produto do trabalho criativo foi considerado mau, ele era produto de uma mente criativa, portanto, era incompatível com sociedade coletivista, a eletricidade era uma ameaça ao controle humano, ser um gênio, ser mais forte, ter atributos físicos diferentes e aprender mais rápido do que seus irmãos era considerado uma transgressão, pensar diferente dos seus irmãos era considerado mal e com isso o homem aceitou sua destruição, abdicou da razão e todo o conhecimento e avanço científico se foi, não existia mais espaço para uma mente criativa, sua linguagem, pensamento e relação humana eram controlados e com isso aquela sociedade pouco evoluiu. Dessa maneira, o conhecimento e a ciência regrediram como podemos notar pela criação da vela que, durou cerca de 50 anos, era uma das “maiores dádivas” daquela sociedade, pois o conhecimento e a criação preexistem e antecedem o coletivo, são ferramentas da mente individual, do gênio humano e seu desejo de realizar, logo, é inaceitável que uma invenção individual seja “melhor” do que a criação do coletivo e foi esse processo que destruiu a sociedade e a mente individual com suas ideias e sua genialidade, a eletricidade acabaria com os fabricantes de vela no maior estilo Bastiat de ser, portanto, não importava o qual primitivo fosse o estágio atual daquela sociedade desde que fosse fruto do “nós”, Rand trata dessa questão em uma das passagens de questionamento pessoal do protagonista “liberdade 7-2521”:

“Que desastre afastou a razão do homem? Que chicote deixou o homem de joelhos, submisso e envergonhado? A adoração à palavra “nós”. Quando o homem aceitou essa adoração, a estrutura construída ao longo dos séculos colapsou sobre ele, a estrutura cujo sustentáculo vinha do pensamento de algum homem por todos os dias ao longo das eras, do fundo de algum espírito, espírito que existia, mas que existia ocupado apenas com a sua própria existência. Aqueles homens que sobreviveram – aqueles desejosos de sobreviver, ansiosos em viver um pelo outro, já que não tinham nada pelo que reivindicar da parte deles, tais homens não podiam prosseguir e tampouco preservar o que haviam recebido. Assim, todo o pensamento, toda a ciência e todo o conhecimento pereceram na terra. Foi assim que o homem – homens com mais nada a oferecer que sua representação numérica – perdeu as torres de aço, as “embarcações voadoras”, os fios eletrificados, todas as coisas que eles não criaram e não puderam manter.”(RAND, 2019, p. 125).

Dessa forma, Rand demonstra, por meio do protagonista, que o avanço tecnológico somente é possível se o homem e sua mente criativa for livre dos seus irmãos. Em Cântico, por exemplo, “Liberdade 7-2521” é um jovem diferente fisicamente e intelectualmente dos seus irmãos e inicialmente, isso torna-se um peso ao protagonista, ele tenta limitar sua capacidade criativa, seu aprendizado, mas é impossível e ele é punido por seus professores por ser diferente, seu sonho e desejo é ser um cientista (um dos “Eruditos” como são chamados na distopia). Entretanto, ele acata a escolha da profissão de varredor de rua por parte do Conselho de Vocações, mas ele sabe que poderia ser mais útil aos seus irmãos como um inventor e essa ideia cresce quando ele encontra uma passagem secreta enquanto varre uma das ruas que é designado a trabalhar, foi nesse momento que Liberdade 7-2521 tem o primeiro contato com os resquícios da era da eletricidade como fonte de energia, do aço como parte da arquitetura e será nesse túnel secreto que nosso protagonista dará vida ao seu processo criativo, o enredo nos traz a força da inovação e da criatividade que, apenas indivíduos livres das limitações impostas por um coletivo, pela lei e estado pode alcançar, Liberdade 7-2521 encontra-se livre no seu pequeno esconderijo, onde sua mente criativa é estimulada e livre ao máximo e mesmo sabendo que aquilo é uma das maiores transgressões humanas, ele não sente culpa, desenvolvendo um sistema elétrico e gerador de luz em pouco tempo apenas pela sua imaginação e conhecimento, Liberdade 7-2521 é a prova que o desenvolvimento humano, o conhecimento, inovação e a criação da tecnologia só é capaz se o homem for livre dos seus irmãos, se ele for livre para buscar sua própria felicidade e desejo de realizar, foi essa liberdade que permitiu aos homens, uma longa história de avanços na ciência e no conhecimento humano que, foi perdida em sua distopia após o coletivismo engolir a liberdade que resultou, invariavelmente, no desaparecimento dos inovadores, dos empresários, dos cientistas, escritores, médicos e pesquisadores.

Portanto, todo leitor dos romances da Ayn Rand deve fazer-se o seguinte questionamento “o que seria da civilização sem indivíduos como Thomas Edison e sua lâmpada elétrica, Alexander Graham Bell e seu telefone, os irmãos Wright e seus aviões, sem os quadros de Leonardo Da Vinci, Picasso, Van Gogh e das esculturas de Michelangelo, sem Beethoven e suas composições, sem os escritos de Shakespeare e Machado de Assis?”. E sem sombra de dúvidas, encontrar uma resposta em seus escritos e poderá afirmar que, a razão é o único meio de alcançar o conhecimento, a liberdade como meio de libertação de todo potencial humano e o capitalismo de laissez-faire como único sistema que reconhece de modo inalienável o direito do indivíduo agir com base no julgamento da própria mente.

REFERÊNCIAS

RAND, Ayn. Cântico. 2ª. ed. Campinas, São Paulo: VIDE Editorial, 2019. 128 p. ISBN 978-85-9507-063-9.

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