Amor. A presença dessa palavra no cotidiano é notável, seja nas paradas musicais desse e do século passado, seja nas novelas ou nos filmes que dominam o mercado do entretenimento e, pasmem, até nos discursos políticos do horário eleitoral. Certamente, você encontrará essa palavra. Porém, a maioria das pessoas, como eu, no passado, ao deparar com o questionamento “o que é amor?” teria se engasgado na própria ignorância.
Foi esse questionamento que me levou na direção de uma filosofia, o Objetivismo, e nela encontrei a melhor resposta. A ação de conceituar algo é essencial na vida de qualquer ser humano, uma vez que é esse ato que oferece profundidade e, em última instância, lastro às suas palavras. E são elas, justamente, que oferecem símbolos para seus propósitos e métodos de alcançá-los: sem elas, o ser humano seria mais um animal na natureza, e não aquele que conquistou os céus, os mares e a Terra.
Apesar de o conceito de amor ser desconhecido por muitas pessoas, se questionadas, responderiam que “sim”, o amor verdadeiro é um dos propósitos de sua vida. Muitas outras chegariam ao ponto de afirmar que tal conceito não tem definição. Eu discordo.
Discordo, pois toda palavra surge a partir de um conceito, e a existência de um conceito indefinível é uma contradição em termos. E essa realidade não permite contradições. A única maneira de argumentar assim (em defesa da indefinição do termo), seria demonstrar que o amor não é um conceito, e sim um anticonceito.
Um anticonceito é uma palavra inventada com a intenção de confundir e destruir a objetividade de uma linguagem, criando espantalhos epistemológicos que fazem com que o uso da mente dentro de sociedade seja cada vez mais difícil. Porém, o correspondente dentro da realidade, do amor, é interno, e alegar a não existência de um conceito diretamente experiencial seria, em essência, argumentar que um círculo não é circular, seria negar que A é A.
O mero saber da oportunidade, no entanto, não diminui a dificuldade de uma ação. E, sim, numa névoa de conceituações calcadas em emoção e fé – ensinadas desde a infância – a tarefa de definição do amor se torna ainda mais difícil.
Amor é uma emoção, tal qual tristeza e alegria. Emoções existem por um motivo – e esse motivo é a vida. Se um ser não precisasse entender seu ambiente, se ele fosse imortal e intocável pelo local e pelos seres que o cercam, ele não precisaria reagir a ele. Seres humanos não se encaixam nessa condição, deles é requerida a ação para manter e sustentar sua vida. No entanto, os seres humanos, no que diz respeito aos seus mecanismos de entendimento do ambiente, diferem-se de todos os outros seres vivos por causa de um elemento ímpar de sua natureza: o livre-arbítrio. O livre-arbítrio, nesse caso, significa a falta de um código automático de valores. Para o ser humano, os valores não são dados, mas sim descobertos.
As emoções são respostas a esses valores que, por sua vez, são definidos pela filosofia da pessoa, conscientemente ou não. Então, o objeto do amor é definido pela filosofia que o permite existir como emoção. Toda emoção é uma ação, é um ato, mesmo que reativo, de um ser perante algo. Nesse caso, um ser vivo perante um valor. Então, para entender a ação de amar, primeiro deve se entender essas duas partes, o ser que ama, e o valor que é amado.
Cada filosofia encara tal questionamento de uma forma: algumas rejeitam essa definição, colocando o amor como algo mais que isso, como um dom divino; outras, algo menos que isso, uma invenção para o controle das massas. Essas definições rejeitam a razão como método de obtenção de conhecimento, e acabam implicitamente negando a sua própria validade. Elas levam a diversas contradições, mas não é o objetivo desse artigo numerá-las. O objetivo desse artigo é demonstrar a definição objetivista, que segue uma base racional e sua denotação na realidade.
Uma famosa passagem descrita no livro A Nascente de Ayn Rand resume a importância do ser que ama, na conceituação e, logo, na prática do amor: “Não se pode dizer eu te amo, sem antes dizer eu”. Essa passagem resume a ideia de que, dentro da filosofia objetivista, o agir denota o ser. E ser humano é valorizar, e o amor, como dito anteriormente, parte do valor (e sua atitude perante o valor). Logo, ao amar, o ser humano expressa aquilo que acredita e aquilo que é. Se é bom, ama aquilo que é bom. Se é mau, ama o mau. Portanto, aquilo que se é vem antes do amar.
Valor, para um objetivista, é aquilo que se quer obter, não aquilo que se quer sacrificar. Viver é buscar valor, viver é obter valor, e uma vida que gira em torno do sacrifício de si próprio é uma vida que busca a morte. Amor é uma emoção direcionada a um valor, e a diferença dessa emoção frente todas as outras é que ela só é provocada pelos valores mais elevados. Sendo uma emoção proporcionada por aquilo que existe de melhor, ela se torna uma emoção julgada sublime.
Não se pode amar tudo, uma vez que não se pode colocar como valores elevados entes de natureza oposta, vida e morte. Não existe morte onde há vida, nem o contrário. Outro motivo é a própria natureza das emoções. Se tudo ou todos devem ser amados, então, por que tal emoção seria necessária? Não! Amar é natural quando se é, e parte, fundamentalmente, do amor a si próprio: a autoestima. O “eu” vem primeiro no “eu te amo”. Se o indivíduo não possui apreço pela vida, como pode pensar naquilo que há de melhor nela?
Amor contém desejo, e só existe com desejo, afinal, se esse valor é um dos mais elevados, quer-se obtê-lo com o maior afinco. Amar alguém, então, não pode significar querer essa pessoa longe, isso não pode ser amor. Amar alguém, também, não significa destruir o que ela é, ou tentar mudar o que ela é. No romance A Revolta de Atlas. Hank Rearden, que em sua jornada de descobrir o herói que é, se apaixona por Dagny Taggart, a personificação da mulher ideal de Rand, na mesma frase em que professa seu amor por ela, reconhece que a perdeu.
Ele sabia que a tinha perdido, e mesmo assim a amava, não porque não a desejava mais, mas porque sabia que o fato de a ter perdido tinha a mesma origem do fato que o fazia amá-la. Porque Dagny era Dagny. Se alguém ama algo ou outro alguém, reconhecendo aquilo como um dos maiores valores, e assim o deseja, a tentativa de mudar esse alguém é uma contradição.
A essencialidade desse conceito é aparente, pois ele demonstra que, ao olhar para aquilo que as pessoas amam dentro de uma sociedade, pode se perceber muito sobre ela. Observar como as pessoas usam a palavra amor é perceber quem essas pessoas, de fato, são. Quando alguém joga a palavra ao vento, proferindo-a a qualquer coisa e a qualquer pessoa, a sua frivolidade interna é percebida.
Banalidade seria uma boa característica de como aqueles professam seu amor nos dias atuais. Em minha opinião, quando políticos, estranhos ou objetos são “alvos” de amor, vê-se a decadência de uma civilização.
Novamente, portanto, cito A Nascente com resposta. Ellsworth Toohey, em seu discurso “Como dominar uma alma” fala: “não destrua santuários – você vai assustá-los. Santifique a mediocridade e, então, você vai destruir os santuários. Ame tudo, então, o amor nada mais valerá. E se amor não existe como o homem reage aos maiores valores? Se ele não pode apreciá-los, ficar feliz com sua existência, ou desejá-los, o que ele faz? Ele os odeia, ele odeia o bom, por ser bom.”
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Revisado por Matheus Pacini
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