Não, o comunismo não é uma boa ideia na teoria (e muito menos, na prática)

A ideia de que o comunismo é “bom na teoria, ruim na prática” é construída sob premissas fundamentalmente falidas e enfraquece a luta contra uma ideologia maligna.

É quase impossível terminar um diálogo sobre comunismo sem que alguém repita esse velho bordão. Refiro-me, é claro, ao bordão que, hoje, tornou-se lugar-comum na política: que apesar de a ideia (intenção) do comunismo ser boa na teoria, infelizmente, não funciona na prática.

Todo mundo que se opõe seriamente ao comunismo deve parar de repetir essa besteira. Afinal, o comunismo não é uma boa ideia na teoria, e uma má ideia na prática. Em primeiro lugar, não existe dicotomia entre teoria e prática – se uma teoria não funciona no mundo real, ela é, pura e simplesmente, uma teoria ruim. Em segundo lugar, o comunismo é uma ideia terrível em nível abstrato, mesmo sem referência a exemplos concretos. Não há nenhum exemplo de país comunista que não tenha se tornado um pesadelo humanitário. A própria natureza da ideia do comunismo é anátema à vida humana.

Teoria e Prática

A premissa subjacente à afirmação de que “o comunismo é uma boa ideia em teoria, mas é terrível na prática” é que as teorias devem ser julgadas fora do contexto de sua prática. Isto é, que existe uma distinção-chave entre o domínio da teoria e o mundo real, em que são testadas na prática.

Essa ideia é falsa, pois ignora por completo a natureza e o propósito da teoria. Em seu ensaio Detecção Filosófica, Ayn Rand explica a questão:

[Considere a frase]: “isso pode ser bom em teoria, mas não funciona na prática”. O que é uma teoria? É um conjunto de princípios abstratos que representam ou uma descrição correta da realidade ou um conjunto de diretrizes para as ações dos homens. Correspondência com a realidade é o padrão de valor pelo qual se analisa uma teoria. Se uma teoria é inaplicável, por qual padrão pode ser considerada “boa”?

Em outras palavras: a única forma de julgar teorias é por sua aplicação à realidade. Qualquer outro método aniquila completamente a motivação original de propor uma teoria. Que lógica existe em julgar uma teoria como boa por virtude de um padrão como simplicidade ou uso de números primos se ela não tem relação com o mundo real?

Uma boa ideia é, simplesmente, uma boa ideia – e uma má ideia é, simplesmente, uma má ideia. Ou o comunismo é uma boa ideia – tanto na teoria como na prática – ou é uma má ideia – tanto na teoria como na prática.

A natureza do comunismo

Tão logo entendemos que não existe tal coisa como uma ideia que é boa na teoria e má na prática, podemos facilmente responder à questão de se o comunismo é bom ou mau. Se medimos o bem pelo padrão da vida humana (visão objetivista), o comunismo é, obviamente, mau. Toda vez que tentou ser implementado, resultou em sofrimento, bem como queda drástica no padrão de vida do povo envolvido. A vida na URSS, na China sob Mao, no Camboja sob o Khmer Vermelho ou, atualmente, na Coréia do Norte, é completamente miserável. Não há comida, liberdade, dignidade ou felicidade. Todo exemplo concreto de comunismo o condena como uma ideia terrível e maligna.

Ao ouvir essa reflexão, muitos comunistas e simpatizantes (incluindo socialistas e muitos progressistas) protestarão: esses não são exemplos do verdadeiro comunismo (ou, a famosa frase: você deturpou Marx!). É justamente por isso que tais simpatizantes insistem em dizer que o comunismo é uma boa ideia na teoria, mas ruim na prática. Ao contrário do cidadão comum, bem-intencionado, que repete esse bordão por acreditar (de todo o coração) que o comunismo não pode ser implementado com êxito, eles afirmam que o comunismo não é ruim na prática se for implementado da forma correta.

Essa visão histórica de governo comunista é errônea em si mesma. Mas, como dissemos antes, o que é ruim na teoria é, necessariamente, ruim na prática. Isto é, se a ideia do comunismo é verdadeiramente ruim, então, não é só ruim onde é implementada, mas também é ruim quando entendida como teoria, sem referência ao concreto.

Comunistas e seus aliados debaterão sobre o que constitui um sistema comunista, mas a própria ideia implica uma premissa moral subjacente: o coletivismo. Essa é uma crença de que a unidade fundamental da existência humana é o grupo, o coletivo. O bem do grupo é o padrão de valor moral, e os indivíduos só têm valor como partes do grupo. É o exato oposto do individualismo, que é inerente à fundação do Ocidente – em particular, os Estados Unidos. O individualismo defende que cada pessoa é um fim em si mesma, tem o direito a sua própria vida, e não pode ser sacrificada pelos fins dos outros.

Tal crença é anátema ao comunismo, o qual defende o “bem comum” como padrão de valor, somado à eliminação dos direitos individuais e à subjugação dos indivíduos ao grupo.

Todo ato maligno de um regime comunista está implícito nas premissas coletivistas dessa ideologia. Comunistas insistem que a abolição da propriedade privada – a propriedade é confiscada e, se necessário, a violência é usada contra quem resistir. Comunistas insistem que a revolução do “proletariado” contra a opressão da “burguesia” – a burguesia é perseguida, aprisionada, agredida e executada em paredões. Comunistas insistem que todos os devem se unir e partilhar a riqueza em prol da prosperidade econômica da sociedade – quem tenta manter sua riqueza é coagido a ajudar sob a mira de uma arma.

Tudo isso é muito mais é justificado pela crença fundamental de que o indivíduo não é nada diante do bem do coletivo – isto é, ele pode ser agredido, submetido ao jugo de ditadores desde que isso, supostamente, venha a beneficiar a sociedade. O coletivismo defende que tal subjugação é moralmente justificada. Comunismo requer coletivismo, pois esse justifica todos os atos monstruosos daquele.

E isso fica claro aos olhos de qualquer um que honestamente deseja entender a natureza do comunismo e sua premissa necessária, o coletivismo. Não é necessário ver a URSS construir gulags para dissidentes, a China maoísta confiscar colheitas de camponeses ou o Khmer matar intelectuais “burgueses” para entender tal ponto. Os gulags, a miséria e os campos de concentração já estão contidos dentro dos princípios do comunismo. Sob uma análise consistente, o comunismo defende que não há limite aos ataques dos indivíduos, desde que venha a “beneficiar” o coletivo (leia-se os donos do Partido no poder).

Individualismo e anticomunismo

Só individualistas verdadeiros têm o direito ao título de anticomunistas. Quem se opõe ao comunismo sem defender o individualismo defende, tristemente, a mesma premissa central dos comunistas. Assim como o comunismo, sua visão está corrompida. Tal qual comunistas, aceitam a premissa de que as pessoas podem ser subjugadas para a realização de objetivos de um grupo.

A própria ideia do comunismo é maligna. Não há separação entre teoria e prática, nenhum abstrato hipotético em que essa visão da existência humana é, alguma forma, aceitável. Com o retorno de valores comunistas nas nações ocidentais, incluindo os EUA (como prova o sucesso do candidato presidencial socialista Bernie Sanders), torna-se fundamental a compreensão desse fato.

Dizer que comunismo é “uma boa ideia em teoria” concede aos seus defensores o que mais buscam – a superioridade moral.

Defensores do individualismo não devem ceder um milímetro de sua superioridade moral se quiserem assegurar que as suas vidas sejam protegidas da ameaça coletivista.

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Publicado originalmente em Radical Capitalist.

Traduzido por Matheus Pacini

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