Mãos de Ayn Rand

Estas pedras, pensou, estão aqui para me servir. Elas esperam a broca, a dinamite e o meu comando. Esperam renascer, após serem cortadas, talhadas, malhadas. Esperam pela forma que minhas mãos lhe darão.

Ao longo das obras de Ayn Rand, não são poucas as passagens que enfatizam, detalham e glorificam as mãos dos personagens, especialmente de seus heróis e protagonistas, como o revolucionário e corajoso arquiteto Howard Roark, de A Nascente, cujo pensamento encabeça esse texto.

As mãos podem servir aos mais diversos propósitos. Elas são a extensão da vontade e ideais do indivíduo ao qual pertencem. Um leitor raso ou alguém recém apresentado à obra e filosofia de Rand pode confundir o Objetivismo como uma filosofia materialista, nesse texto quero mostrar o porquê dessa leitura estar enganada e como a simbologia das mãos demonstra esse engano.

“Gosto de pensar no fogo contido na mão de um homem. O fogo, aquela força poderosa, domada na ponta dos dedos.”

As mãos de uma pessoa agem de acordo com aquilo que há na mente que as controla. Mesmo em casos de distúrbios da mente que causam espasmos ou deficiências que impeçam seu movimento mãos não possuem vontade própria, essas condições são originadas no sistema nervoso, nunca nos músculos.

As mãos dos criadores são usadas para criar, dos escritores para escrever etc. Ao longo da leitura de A Revolta de Atlas, é possível encontrar fragmentos muito preciosos para o entendimento da relação entre o material e a consciência no Objetivismo.

Dagny, nós, a quem os assassinos do espírito humano chamam de “materialistas”, nós somos os únicos que sabemos como é pequeno o valor dos objetos materiais enquanto tais, porque somos nós que lhes emprestamos valor e significado… Você não depende de nenhuma posse material, elas é que dependem de você, você é que as cria, você possui a única ferramenta que produz.

Diferente de toda filosofia proveniente do entendimento dualista platônico – de que existe um mundo das ideias, intangível e místico, e um mundo material, que apenas reflete o primeiro com inexatidões – o Objetivismo é uma filosofia de matriz aristotélica. Em suma, não há mundo material e mundo das ideias; céu e inferno e mundo material; Nirvana e Samsara. Há o que há, nosso universo é um, A=A. Nesse caso, onde fica a consciência? A consciência humana existe no mundo material, existe em unidade com o nosso corpo, é a nossa própria existência. Sem ela, seríamos como os animais. Nossa consciência é a única, dentre todos os animais, capaz de razão. Por esse motivo, somos os únicos capazes de entender conceitos e ideias, coisas como valores, razões e motivos, não apenas utilidade.

Nossas mãos são a expressão física de nossa mente, a maior ferramenta do ser humano. Uma mente perfeita é capaz de criar, mesmo estando em um corpo paralisado, mas uma mão perfeita, sem mente que a controle, é apenas um peso de papel macabro.

A mente humana é a única ferramenta que produz!

Todas as experiências totalitárias demonstram que, sem mentes, as mãos não são capazes de nada.

Mãos podem ser forçadas, mentes não. É impossível obrigar um ser humano a pensar, a criar ou a usar sua mente. Essa decisão moral pode vir somente de si mesmo. As pedras estão aguardando o nosso comando, a broca e a dinamite.

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