Howard Roark e os jesuitas: alguma semelhança?

Para muitos, o romance A nascente pode parecer a antítese de todas as filosofias jesuítas, já que Ayn Rand é uma ateísta ferrenha. Contudo, após analisar o seu personagem principal, Howard Roark, os alunos concluíram que muitas das ideias de Rand estão em consonância com o ideal de Santo Inácio de buscar alegria interior através da realização de nossos desejos mais profundos.

Como Silf explica na obra Inner Compass, existem desejos ordenados e desejos desordenados que, respectivamente, nos aproximam ou nos afastam de Deus. Ao buscar desejos que são ordenados e guiados por um forte compasso moral, as pessoas encontram alegria e realização, bem como uma relação mais íntima com Deus, o que é consistente com a missão jesuíta. De forma similar, Rand distingue desejos pessoais positivos e negativos através dos conceitos de egoísmo racional e egoísmo hedonista. Rand acredita que o homem leva uma vida alegre e gratificante ao perseguir seu próprio autointeresse racional, representado, em essência, pelo egoísmo racional. Além disso, acredita que o homem tem o direito de perseguir seus próprios desejos apenas se ele for guiado por um forte conjunto de princípios racionais e morais que valorizam a sua própria vida. Por outro lado, Rand afirma que quem perseguem desejos irracionais motivados por autoindulgência exibe um egoísmo hedonista, separando-se da comunhão com a humanidade (“egoísmo”). Levando em conta essa distinção entre autointeresse racional e irracional, os alunos leram A nascente como um meio para encontrar a alegria interior através da busca de seus próprios desejos (definidos por eles próprios, como adultos), em vez daqueles definidos pelos outros.

Inicialmente, os alunos tiveram dificuldade com o conceito de “egoísmo” de Rand, pois fomos ensinados que o altruísmo é bom, e o egoísmo, ruim. Contudo, quando recategorizamos as definições à luz da obra de Silf (desejos ordenados/desordenados), eles começaram a entender como e por que Deus quer que busquemos aqueles desejos que nos trazem alegria. Howard Roark demonstrou aos alunos que a alegria interior deveria ser o motivador de nosso desejo, e que Deus quer que a busquemos. Além disso, passaram a entender que podemos perseguir desejos altruístas como o de ajudar os pobres ou alimentar os famintos. Contudo, quando a motivação por trás disso é poder e reconhecimento, esses (desejos) se tornam hedonistas e desordenados.

Entender o que nos traz alegria verdadeira é um passo importante no desenvolvimento de um senso honesto de identidade, do “eu”. Ao longo do romance, os alunos foram desafiados a avaliar honestamente: o que lhes traz alegria interior, que fatores lhes motivam e moldam seu caráter, e como podem se manter autênticos/verdadeiros ao seu compasso moral para alcançar uma vida gratificante. Aaron McPheters, outro aluno da disciplina de Literatura e Imaginação Moral, discutiu seu entendimento de alegria interior como segue:

Jesuítas acreditam que devemos ser “homens e mulheres para os outros”, mas não acredito que tal afirmação seja sinônimo de dar prioridade aos outros como preocupação primária de nossa vida.” Rand acredita que, quando fazemos isso, tornamo-nos “homens de segunda mão” que vivem do reconhecimento dos outros… Aparentemente, não parece que uma posição egoísta possa ser compatível com a filosofia jesuíta. Contudo, Rand acredita que a palavra “egoísmo” foi pervertida. “Egoísmo” para Rand é o que nos permite sermos virtuosos. Tal ponto fica claro quando Howard Roark diz: “É tão fácil recorrer aos outros. É tão difícil ser autossuficiente. Você pode fingir virtude para uma plateia. Não pode fingi-la para si mesmo. O ego de uma pessoa é o seu juiz mais severo.” Para Rand, a pessoa mais moral é aquela que está mais alinhada consigo mesma. Sua autoconfiança lhes permite ter um bom discernimento moral e ético, algo muito apreciado pelos jesuítas.

Ler o ensaio de Aaron foi uma experiência gratificante como instrutor, pois acredito que ele utilizou conceitos-chave das filosofias jesuítas discutidas no semestre e obteve um entendimento claro de seus valores e de sua relação com Deus. Ensinar A nascente pelo prisma dos ideais jesuítas foi uma experiência interessante para os alunos. Nas primeiras duas décadas de sua vida, muitos desenvolvem seu caráter, senso de moralidade e relacionamento com Deus. Com base nas discussões em sala de aula, além das reflexões escritas, os alunos encontraram em Howard Roark a importância de permanecer fiel aos seus próprios ideias que trazem alegria interior e realização.

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Publicado originalmente em Xavier University.

Revisado por Matheus Pacini.

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