Como muitos americanos, fui criado num lar cristão. Cresci na crença de que Deus era o centro do universo, logo, busquei aprender tudo que podia sobre Ele. Aos 13 anos, comecei a estudar as obras de famosos apologistas da existência de Deus, bem como da validade de sua doutrina. Como consequência de minha devoção, tornei-me muito fundamentalista, convencido de que se a Bíblia fosse verdadeira, deveria ser um guia para minha vida.
Contudo, quanto mais estudava, mais experimentava um sentimento profundo de dissonância cognitiva. Senti que algo estava terrivelmente errado com o código ético que estava aprendendo, o qual ensinava que o propósito de minha vida era servir ao próximo, enquanto, em meu âmago, levava um valor ainda mais forte comigo: o direito à minha própria vida e liberdade. Essa contradição me levou a reavaliar seriamente minhas convicções.
Aos 16, comecei a abandonar os argumentos em prol da existência de Deus à medida que as críticas que encontrei pareceram-me muito convincentes para ignorar. Eventualmente, detectei falhas no último argumento que tinha e, de forma abrupta, abandonei minha crença em Deus. Por fazê-lo como fiz, acabei me entregando ao caos pessoal, à incerteza total.
Em processo de me tornar ateísta, tive contato com Ayn Rand e muitos outros filósofos. Assim procedi porque sabia que precisava de ajuda. Eu conhecia muito bem as consequências de matar Deus, por assim dizer: estava abandonando a bússola moral que tinha me guiado até então. Afinal, segundo a visão cristã: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência.” (Prov. 9:10)
Finalmente, entendi a necessidade de ter uma filosofia explícita ou, como Rand dizia, “uma visão integrada da existência.” Ela argumentava que todo mundo tem uma filosofia implícita, um conjunto de ideias e premissas que orienta como alguém pensa e tira conclusões sobre o mundo. Mesmo se alguém não está consciente o bastante para identificar suas convicções mais básicas, existem ideias e valores fundamentais que alguém deve aceitar ou rejeitar em sua vida diária.
Como cristão, acreditava que meu propósito na vida era servir a Deus – e aos outros. Tornei-me confiante em minhas convicções ao rezar a Deus, confiando na sensação (instinto) que vinha disso. Eu julgava as ações dos outros com base nas escrituras bíblicas; orgulho e autoestima eram inseparáveis, contudo, pecaminosos; e essa orientação moral primariamente dizia o que eu não deveria fazer. Sem uma crença em Deus, todavia, a base de todas essas convicções foi perdida. Então, busquei em filósofos seculares a ajuda necessária para reformar minha visão de vida e de mundo.
Os Novos Ateístas como Sam Harris e Christopher Hitchens foram de grande inspiração para mim, mas vi que seus argumentos morais eram insatisfatórios. Eles argumentavam que beneficiar a vida humana deveria ser o propósito da moralidade porque isso é intuitivo e útil, mas senti que esse argumento era inadequado. Todavia, o argumento de Rand me pareceu muito mais persuasivo, porque detalhava como os valores morais são requisitos da vida humana, como a realização de objetivos requer um curso de ação particular e moral, e como tal fato indica que a vida humana é o padrão de valor.
O que me levou à filosofia de Rand foi a sua defesa que (i) a razão pode ser um meio para descobrir a moralidade, (ii) a razão pode ser um meio para o conhecimento e que, por conta disso, é possível alguém confiar em seu entendimento do mundo. A moralidade não era dissociada da racionalidade e, por conseguinte, meus valores morais poderiam ser refinados ou reconsiderados, em vez de impostos de forma dogmática. Tornei-me mais confiante em meus argumentos morais sobre política e outras questões porque não tinha mais que argumentar através de uma fé religiosa que tinha dificuldade em provar. Eu tinha razões seculares para a minha visão de mundo, e tais razões se aplicavam a todos – não só aos membros de uma determinada religião.
A filosofia de Rand me deu um novo foco na vida: viver a melhor vida possível para mim, livre da culpa de saber que nunca poderia fazer o bastante para deixar os outros felizes. Eu poderia lutar pela minha própria felicidade – sem ignorar os outros no processo – mas manter laços de amizade apenas com quem eu, de fato, me preocupava e que agregava valor a minha vida. Essa era uma vida a ser celebrada (e não um vale de lágrimas), repleta de projetos a serem realizados, bem como valores a serem criados. Era a minha vida, em meus próprios termos, em prol de meus valores.
Eu passei a ver a virtude como, primariamente, um meio de alcançar valores positivos, e não para acabar com o que é ruim no mundo. Por exemplo, justiça, para mim, não diz respeito, primariamente, à punição de criminosos, mas sim à promoção das pessoas virtuosas que lhe rodeiam. Honestidade não diz respeito, primariamente, a não mentir, mas a se aliar aos fatos da realidade, e aceitar que fazê-lo é a única forma de ter sucesso e prosperar.
Beneficiei-me muito de Rand ao obter uma compreensão mais clara de meu objetivo na vida, e como alcançá-lo. Para concluir, gostaria de dizer que me inspiro na visão positiva de Rand sobre a vida, e compartilho uma citação de A Revolta de Atlas que ficou comigo desde o dia que a li:
Não deixem que se apague o seu fogo insubstituível, fagulha por fagulha, nos pântanos do desespero do ‘mais ou menos’, do ‘não é bem isso’, do ‘ainda não’, do ‘de jeito nenhum’. Não deixem morrer o herói que vive em suas almas, solitário e frustrado por nunca ter conseguido atingir a vida merecida. Examinem sua estrada e a natureza da sua luta. O mundo que vocês desejavam pode ser conquistado: ele existe, é real, é possível, é seu.
__________________________________________
Publicado originalmente em TheUndercurrent.
Traduzido por Matheus Pacini
Curta a nossa página no Facebook.
Inscreva-se em nosso canal no YouTube.
__________________________________________