Muitos falam que confiança é obtida nas relações familiares, com as pessoas próximas, companheiros que dividem alguns valores conosco por conta de laços religiosos, profissionais ou de amizade.
Esse tipo de confiança eu chamo de corporativa, ou seja, aquela alicerçada na sensação de pertencimento, às vezes de caráter identitário ou tribal, que desaparece quando abandonamos a circunscrição dos coletivos específicos com os quais estamos vinculados.
Ora, não podemos, para usufruir do conhecimento disperso na sociedade ou do comércio, ou do acesso às oportunidades que a vida nos oferece, ficar limitados a essa categoria de confiança restrita.
Precisamos desenvolver virtudes que nos permitam adquirir o que seria uma confiança libertadora com a qual poderíamos conviver, transacionar e cooperar com indivíduos desconhecidos, com backgrounds e culturas diferentes, que vivem ao redor do mundo.
Uma sociedade, para ser profícua no curto e longo prazo, exige que substituamos a zona de conforto da familiaridade, da tradição, dos laços estabelecidos no passado, por uma relação íntima e honesta com a realidade, através da qual poderemos identificar detalhadamente a natureza e o caráter do objeto da nossa confiança, confrontando-o com nossa consciência e legitimando-o sob o prisma da integridade.
Relações de confiança para criarmos e mantermos valores exigem racionalidade e produtividade, senão a essência da economia não ganha vida e dificulta-se o florescimento pessoal, a prosperidade e a busca da felicidade desejada.
Confiança é um espectro que inclui desde a fé até a certeza baseada em evidências obtidas pelo método científico e verificadas através da lógica dedutiva. Podemos ter confiança baseada na boa-fé ou na realidade dos fatos que nos permitem julgar sem a menor dúvida.
Toda ação não altruísta, ou seja, toda ação que não busca o autossacrifício, é movida pelo egoísmo intrínseco à alma humana. Na busca da satisfação do nosso autointeresse podemos dividir três categorias de egoísmo possíveis cujas características e consequências são diversas entre si, tanto na forma quanto no teor.
Egoísmo pernicioso – aquele em que alguém se aproveita da confiança alheia para impor um sacrifício a terceiros que resultará em um ganho imerecido para o sujeito. Isso ocorre em situações chamadas de jogo de soma zero, onde para um ganhar o outro terá necessariamente que perder.
Egoísmo desconfiado – aquele em que alguém visa a ganhar algo no curto prazo. Não impõe perdas a terceiros, mas também não se envolve em relações duradouras visando a criar valor para mútuo benefício no longo prazo.
Finalmente, egoísmo confiante – aquele no qual todas as medidas necessárias para a criação de valor são compartilhadas num processo sinérgico com alguém que julgamos ser merecedor da nossa confiança.
Relações cooperativas e produtivas baseada na mútua confiança entre os agentes envolvidos reduzem drasticamente os custos de transação, maximizando os benefícios do processo de confiar racionalmente e não de forma caprichosa ou meramente emocional.
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Revisado por Matheus Pacini.
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