Como a diversidade está arruinando o cinema?

Vendo o Globo de Ouro 2021 ficou claro não só para mim, mas para muitos, que esse foi um dos piores anos da história do cinema em termos de qualidade. Ficou evidente também que foi um dos anos mais “diversos”, em que mais minorias ganharam prêmios, mais mulheres foram indicadas como diretoras. Será que esses dois fatos são coincidentes? Provavelmente, não. Calma, não estou dizendo que as minorias sejam menos competentes do que os norte-americanos brancos héteros — apenas que a forma como a diversidade vem sendo imposta em Hollywood é destrutiva para o cinema (espero que, como gay, não americano, membro de um casal “inter-racial” e fora da indústria, possa falar isso sem parecer ter uma agenda racista/xenofóbica/oculta).

A imposição atual da diversidade é basicamente uma fórmula para diminuir qualidade de resultado, algo que ocorre não só no cinema, mas em qualquer área em que essa mentalidade é aplicada. É apenas uma consequência lógica: para obter o melhor resultado em qualquer coisa, você tem que ser livre para selecionar os melhores profissionais, considerando antes de mais nada a capacidade de entregarem o melhor resultado. Se você coloca na equação uma segunda exigência arbitrária, por exemplo, “alguém capaz de entregar o melhor resultado, mas que também seja sul-coreano”, diminui consideravelmente o leque de opções, e o resultado provavelmente será pior do que se pudesse ter considerado todas as opções disponíveis, visando o melhor resultado possível. Isso ocorreria até se você impusesse limitações em questões aleatórias, que nada tivessem a ver com etnia, nacionalidade — por exemplo, exigir diversidade em termos de signos do zodíaco.

Imagine esse processo se repetindo dezenas de vezes na produção de um filme — questões de diversidade sendo priorizadas não apenas no elenco, mas em toda a equipe, em toda a produção (para poder concorrer ao Oscar, a Academia agora está exigindo representatividade em vários aspectos dos filmes, às vezes, até no conteúdo das histórias).

Não me parece coincidência que os filmes estejam se tornando mais fracos, ao mesmo tempo em que essas tendências se tornam mais e mais fortes em Hollywood. É ignorância achar que existe um número infinito de pessoas talentosas, que não faltam excelentes escritores, diretores, atores em qualquer país ou grupo social, a qualquer momento, e que, portanto, exigir diversidade não interfere em nada na qualidade do resultado. Quanto melhor um filme e melhor um cineasta, mais você verá uma equipe cuidadosamente selecionada, parcerias insubstituíveis, sintonias especiais que, às vezes, se assemelham a de relacionamentos românticos, e que só acontecem quando o produtor/diretor tem total liberdade de escolha, quando está atento a todas as possibilidades, empenhado em encontrar as melhores parcerias possíveis.

Algumas áreas e indústrias não exigem um processo tão rigoroso de seleção, não exigem profissionais tão específicos e raros para chegar em um bom resultado. Mas, quando estamos falando de Oscar, de grandes produções de Hollywood, estamos falando de reunir o que há de mais profissional e talentoso no mundo. Não estamos falando de bons profissionais apenas de pessoas competentes, mas das mais habilidosas do ramo. De celebrar talentos raros. E, obviamente, se um profissional está entre os melhores do mundo, é porque não existem 200 alternativas igualmente boas a escolher. Se houvesse, então, é porque ele ainda não estaria entre os melhores e, portanto, não deveria ser a escolha final para as melhores produções. São nessas áreas que buscam o grau máximo de excelência em que limitações e burocracias do tipo se tornam especialmente destrutivas (não estou dizendo que, em todas as situações existe sempre uma única opção perfeita, como se fosse um ideal platônico, apenas que as opções se tornam cada vez mais escassas na medida em que você se aproxima do “topo da pirâmide”; e, que nesse momento, impor questões como diversidade te força a permanecer sempre uns degraus abaixo, onde há um número maior de candidatos).

Um dos principais dons que um diretor deve ter é saber se cercar dos melhores profissionais, para que estes lhe ajudem a criar o melhor filme. Pense no que acontece quando você coloca uma série de travas e obstáculos nesse processo extremamente delicado — quando um estúdio já seleciona o próprio diretor (que é a figura mais importante de um filme) com base em questões de diversidade, e esse diretor (que agora já não é o ideal) usa o mesmo critério na seleção de todas as outras peças-chave da equipe? O resultado é a mediocridade do cinema de hoje (não acho que isso explique toda a deterioração do cinema, é apenas um dos fatores que saltam aos olhos). Sim, filmes ainda estão sendo produzidos — mas num nível abaixo do que no passado e do que seria possível (assim como em países oprimidos economicamente ainda vemos carros, prédios, energia elétrica, só que extremamente precários quando comparados aos de países mais livres).

O movimento atual da diversidade é um movimento antiqualidade. E se você pensar que “qualidade” nada mais é do que algo que serve bem à vida humana — assim como uma comida de qualidade é aquela que tem os melhores ingredientes, que nutre melhor o organismo, que é mais saborosa — podemos dizer que a diversidade se tornou um movimento antivida, pois foi colocada acima de questões mais importantes como habilidade (e, com menos habilidade, tudo o que é produzido se torna pior e, por consequência, nosso padrão de vida diminui). Isso talvez não fique tão evidente no mundo do cinema, pois as consequências da arte mal feita não são letais a curto prazo (tenho certas dúvidas quanto ao longo prazo), mas pense nesse mesmo raciocínio sendo aplicado a outras atividades, à indústria, à medicina. Imagine você ter que fazer uma cirurgia complicada, e não poder selecionar os médicos com base em competência, em qualidade de resultado. Imagine o médico não ter a liberdade para selecionar sua equipe (o anestesista, etc.) com base naquilo que trará os resultados mais garantidos, mas ter que selecionar pessoas levando em conta questões irrelevantes para o contexto, como etnia, orientação sexual? Isso não criará limitações ao processo de escolha? E limitações desse tipo não resultam, pela lógica demonstrada, em resultados menos ideais do que seriam possíveis? E isso não aumenta os riscos para a vida do paciente?

A cultura atual está sendo levada a abraçar essa mentalidade, sob uma falsa aura de benevolência. Enquanto essas políticas de diversidade não forem questionadas e a cultura não voltar a priorizar mérito, habilidade e talento, teremos que nos acostumar com um mundo cada vez mais decadente.

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Publicado em Profissão: Cinéfilo.

Revisado por Matheus Pacini.

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