Capitalismo: o egoísmo benevolente

O grande Lucas Berlanza, presidente do Instituto Liberal do Rio de Janeiro, honrou-me com a sua lembrança, bem como com a provocação que me fez – a qual achei oportuna e salutar – durante o lançamento das suas aulas para o Núcleo de Formação do Brasil Paralelo. (Não percam!)

Confrontado por um espectador que lhe questionou se capitalismo era sinônimo de egocentrismo, Lucas prontamente ficou na defensiva e disse que não era simpatizante da filosofia do egoísmo, defendida por mim, como ele lembrou, e por Ayn Rand, como lembrou a mediadora que o entrevistava.

Lucas Berlanza disse ser defensor do capitalismo com base no que pensava Adam Smith, considerado o primeiro teórico do capitalismo, a partir de sua obra-prima Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, publicada em 1776.

Uma das coisas que mais dificulta a defesa do capitalismo é a ojeriza que alguns de seus defensores, aqui cito Adam Smith e Lucas Berlanza, já manifestaram contra o egoísmo.

Curiosamente, foi Adam Smith o primeiro defensor da ideia de que capitalismo e egoísmo seriam sinônimos, afinal foi ele que declarou:

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.”

Adam Smith faz uma declaração absolutamente contraditória quando, por razões morais próprias motivadas por sua crença religiosa, afirma que humanidade e amor-próprio, que benevolência e autointeresse (egoísmo) são opostos mutuamente excludentes.

Ora, sermos egoístas, defendermos nosso autointeresse e colocarmos a nossa vida e a nossa felicidade como padrão moral mais elevado não são exemplos de desumanidade e de malevolência, mas sim uma necessidade existencial do ser humano.

Quando aderimos voluntária e espontaneamente aos processos de mercado, caracterizados por trocas de conhecimento ou de produtos e serviços, pela cooperação para a criação de valor visando o benefício mútuo, o fazemos por interesse próprio, exclusivamente para satisfazermos o nosso autointeresse, o nosso egoísmo, levando-nos a criar e manter os valores que serão por nós dispendidos ao longo da vida.

O bem-estar que geramos para os outros nada mais é do que uma consequência do supracitado, como já havia identificado Adam Smith, daí ele ser considerado o pai do capitalismo.

Existe um erro conceitual clássico, decorrente da deturpação propositada do sentido das palavras – produzida pela falsa moralidade – que pode ser detectada quando egoísmo é confundido com fazer o mal para alguém, ou simplesmente não ter compaixão ou respeito pelo interesse dos outros, levando-os ao sacrifício. Essa atitude não é sinônimo de egoísmo mas de altruísmo, como o próprio Auguste Comte, criador do termo, explicou.

Tanto a igreja, principalmente a católica, quanto Comte, com a sua filosofia positivista, consideram o altruísmo uma atitude nobre, uma demonstração de virtude. Por outro lado, consideram o egoísmo um vício, daí a explicação porque a Igreja Católica e os positivistas se posicionam contra o capitalismo.

Capitalismo é egoísmo sem coerção, sem sacrifícios impingidos aos outros e sem violência. É por isso que os defensores verdadeiros do capitalismo, como Ayn Rand, entendem que é indispensável a existência de um governo para retaliar e conter, segregando da sociedade aqueles que agem para satisfazer seus interesses de curto prazo sacrificando os demais através do uso da força ou de fraude.

Quando Ayn Rand fala em egoísmo, ela sempre adiciona a palavra racional para dizer que a defesa dos nossos interesses mais egoístas deve ser feita sem prejudicar os outros através do uso da coerção, seja pela força física, compulsão, intimidação ou fraude.

Comunismo, fascismo e socialismo são sistemas altruístas que privilegiam os detentores do poder que falam em nome de uma pretensa igualdade, enquanto esses – e os que orbitam a sua volta – espoliam o resto dessas sociedades revogando, através da coerção do Estado, seus direitos individuais inalienáveis, impedindo-os de ingressarem em trocas e cooperação livres e voluntárias que Adam Smith famosamente chamou de a “mão invisível” do mercado.

Adam Smith entendeu que somos movidos por nosso egoísmo para produzirmos os valores que satisfarão nossos semelhantes, ele só não precisava se sentir envergonhado disso, como o Lucas Berlanza se sentiu quando confrontado com essa verdade, Capitalismo se baseia na filosofia do egoísmo, e é por isso que, de todos os sistemas político-econômicos, ele é o que mais preserva a nossa humanidade, além de ser o que mais promove a benevolência dos indivíduos.

É essa compreensão equivocada e distorcida de que o egoísmo é desumano e malevolente que alimenta e valida a retórica dos coletivistas estatistas que, mesmo sem aderirem claramente ao marxismo ou ao fascismo, fortalecem a filosofia que se opõe ao capitalismo, que é a filosofia do ressentimento.

Quando os opositores do capitalismo se manifestam contra ele o fazem ou por inveja ou culpa. Não sabem – ou se sabem – não aceitam a ideia de a nobreza de caráter de um homem está na sua capacidade de transformar o seu egoísmo racional na criação de valor para si, o que só pode ocorrer, numa sociedade livre, se ele tiver criado valor para os outros.

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Revisado por Matheus Pacini.

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