Ayn Rand: um legado de razão e liberdade

Nascida há mais de 100 anos na Rússia, Ayn Rand representa a quintessência da visão americana da vida, que atribui valor supremo ao indivíduo que busca viver na Terra. Ela escreveu romances que até hoje ocupam as listas de mais vendidos, abordando temas como a defesa do individualismo através da exposição de uma filosofia da razão que valida o espírito de realização e independência.

Nas palavras do documentário indicado ao Oscar, Ayn Rand: A Sense of Life, Ayn Rand teve “uma vida mais impressionante que a ficção”. Nascida no dia 2 de fevereiro de 1905, iniciou seus escritos de ficção aos oito anos de idade – ocasião em que também mostrou sinais de ser uma precoce ativista intelectual, propondo-se na ocasião a refutar a tese defendida num artigo de jornal de que a escola era a única fonte dos ideais de uma criança. Um ano depois, decidiu se tornar uma escritora profissional, inspirada pelo herói de uma história infantil que incorporava o ideal da “inteligência dedicada a propósitos práticos”. Naquele momento, tomou a decisão de olhar as pessoas, não como elas eram, mas como elas poderiam ser.

Na universidade, descobriu dois autores que admirou até sua morte: Victor Hugo, pela “grandiosidade, dimensão heroica e inventividade do enredo”, e Aristóteles, “o maior de todos os realistas, bem como o grande defensor da validade da mente humana”.

Buscando fugir da tirania e da pobreza da URSS, migrou para os Estados Unidos em 1926. Um encontro ocasional com seu diretor de cinema favorito, Cecil B. DeMille, rendeu-lhe alguns bicos como extras em filmes e, depois, como roteirista júnior. Depois de passar por muitas dificuldades – inclusive, passar fome – vendeu sua primeira peça de teatro para a Broadway e publicou seu primeiro romance, We the Living, contextualizado na tirania soviética da qual ela tinha escapado.

Em seu primeiro bestseller, A Nascente, apresenta sua visão do homem ideal na pessoa do arquiteto individualista Howard Roark. Esse livro, todavia, representa “apenas uma introdução” ao seu magnum opusA Revolta de Atlas – uma história de mistério sobre o papel da mente na existência humana. Com esse livro, encerra sua carreira como autora de ficção e inicia sua carreira de filósofa.

Sua filosofia – Objetivismo – defende: a realidade objetiva (em oposição a tendências sobrenaturalistas), a razão como o único meio de alcançar o conhecimento da realidade (em oposição a tendências céticas), a liberdade (em oposição a tendências deterministas, biológicas ou ambientais), e uma ética de autointeresse racional (em oposição a tendências altruístas que defendem o sacrifício de si próprio para com os outros, e dos outros para com ele). O único sistema político moral, sustentou, é o liberalismo laissez-faire, capitalismo radical (em oposição às tendências coletivistas do socialismo, fascismo e estado do bem-estar social), porque esse sistema reconhece o direito inalienável de o indivíduo agir com base no julgamento de sua própria mente. Sua vida, ela sustenta, pertence a você, e não ao seu país, ao próximo ou a Deus.

Para defender o indivíduo, Ayn Rand entende que precisa chegar ao cerne da questão: a necessidade de usar a razão para sobreviver. “Eu não sou, primariamente, uma defensora do capitalismo”, ela escreveu em 1971, “mas do egoísmo; e não sou, primariamente, uma defensora do egoísmo, mas da razão. Para aquele que reconhece a supremacia da razão e a aplica com consistência, todo o resto segue naturalmente”. Esse ponto de vista radical a distanciou dos conservadores, alvo de sua crítica veemente por tentar basear o capitalismo na fé e no altruísmo. Defendendo a tese de que a função do governo é defender os direitos do indivíduo – inclusive o direito do indivíduo à propriedade – ela não era nem anarquista, nem progressista. Defendendo a indispensabilidade da filosofia, ela não era libertária.

Embora estivesse fora das correntes culturais predominantes, seus romances se tornaram best-sellers e seus livros vendem cada dia mais – cerca de meio milhão de cópias por ano. Há uma razão por que A Revolta de Atlas ficou em segundo lugar numa pesquisa da Biblioteca do Congresso (dos Estados Unidos) sobre os livros mais influentes jamais escritos. E há uma razão porque seus livros são vistos como fatores importantes de mudança na vida por tantos leitores. Ela tinha uma visão elevada do homem e criava heróis de ficção que verdadeiramente inspiravam e ainda inspiram muitas pessoas.

Ayn Rand, uma filósofa sui generis, olhava o mundo de uma forma nova. Por muito tempo, foi ignorada na academia, pois muitos acadêmicos eram incapazes de entender como ela era individualista mas não subjetivista, absolutista mas não dogmática. Por esse descuido, ignoraram suas soluções originais para problemas aparentemente intratáveis, como, por exemplo, como fundamentar valores nos fatos da realidade.

Ayn Rand nos deixou um legado em defesa da razão e da liberdade que serve como farol do espírito empreendedor – algo especialmente pertinente hoje, frente a tantos ataques contra o indivíduo e sua capacidade de prosperar e ser feliz na Terra.

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Publicado originalmente em Capitalism Magazine.

Traduzido por Eduardo Chaves.

Revisado por Matheus Pacini.

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