O professor Paul Kidder publicou um artigo intitulado The Simplistic Flaw in Ayn Rand’s Philosophy: A philosophy professor dissects the faulty logic in the libertarians’ favorite deep-thinker (A falha simplista da filosofia de Ayn Rand: professor de filosofia disseca a lógica defeituosa da pensadora favorita dos libertários). O argumento de Kidder é que a posição de Rand equivale a afirmar que apenas empreendedores independentes têm valor; consequentemente, sua filosofia falha ao dar pouca importância ou mesmo ignorar o valor de governos, sindicatos, trabalhadores e consumidores.
Eu aprecio o fato de Kidder apresentar argumentos sérios e objetivos em seus textos. Por isso, responderei em quatro breves tópicos para que ele deixe de se preocupar com Rand.
1. O empreendedor: sim, Rand celebra e trata como fundamental a criação de valor feita pelos empreendedores. Produtividade criativa, bem como iniciativa, coragem, perseverança e liderança necessárias para esse processo, são fundamentais para a sua ética do egoísmo racional. Os heróis de seus romances, bem como os indivíduos responsáveis de suas obras de não ficção, são todos empreendedores ou dotados de capacidade empreendedora — como, por exemplo, Hank Rearden, Dagny Taggart e Howard Roark.
2. Governo: Rand é uma pensadora pró-governo, não uma anarquista. Em sua visão política, a polícia, a justiça e o exército exercem papéis essenciais na proteção dos direitos individuais. Rand defende a ideia de um governo constitucionalmente restrito (uma república racional) — fato que ela evidencia tanto em seus textos de não ficção ao delinear explicitamente as funções adequadas do governo quanto em seu personagem fictício Narragansett, que faz uma versão revisada e melhorada da Constituição Americana. Então, Rand concordaria com a afirmação de Kidder de que os empresários precisam de uma “infraestrutura política e do Estado de Direito”.
3. Trabalhadores e consumidores: empregadores e empregados, bem como empresas e consumidores, envolvem-se em trocas mutuamente benéficas; logo, Kidder está certo ao apontar que, para que haja benefícios para ambas as partes, todos devem contribuir com algo. Em transações voluntárias, ambas as partes agregam valor à troca e possibilitam o ganho mútuo. Isso é tão importante para a filosofia de Rand que ela faz do Princípio do Comerciante o princípio fundamental de sua ética social. Já na ficção, Rand elogia a troca genuína de valor entre empregadores e empregados (ex: Dagny Taggart e Eddie Willers) e entre empreendedores e consumidores (ex: Howard Roark e Austen Heller).
4. Sindicatos: Para Rand, não há problema algum com sindicatos, nem com nenhuma forma de organização de negócios. Indivíduos no livre mercado podem formar associações voluntárias para progredir economicamente, então, os trabalhadores devem ser livres para se associarem como quiserem. Rand se opõe apenas às formas compulsórias de sindicalismo, assim como se opõe ao capitalismo de compadrio — por exemplo, a junção entre sindicatos e empresários para que ambos recebam privilégios especiais do governo. Um dos vilões em A revolta de Atlas é Fred Kinnan, o líder sindicalista com “contatos políticos”, e outros dois são Jim Taggart e Orren Boyle, capitalistas de compadrio. Rand pontua que nenhum deles agrega valor econômico; pelo contrário, são rent-seekers. (Curiosamente, Rand é mais simpática ao retratar o líder sindicalista do que os empresários corruptos).
Um dos grandes paradoxos do debate público sobre as ideias de Rand é o de que ela insistia demais em seus pontos de vista, mesmo depois de esclarecê-los à exaustão — e, mesmo assim, seus críticos têm grande dificuldade para entendê-los. Eu ainda não sei o quão crítico Kidder seria a respeito das posições reais de Rand sobre o papel do governo ou como medir o valor agregado por empreendedores, empregados e consumidores. Espero que a próxima discussão possa se concentrar apenas nas questões importantes.
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Publicado originalmente no site do autor.
Traduzido por Gabriel Poersch.
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