“A revolta de Atlas” e a sociedade atual

Em uma história que envolve romance, política, economia e ficção científica, Ayn Rand utiliza toda a sua filosofia de vida para demonstrar que a liberdade, a individualidade e a busca pela felicidade são valores inestimáveis para a existência do homem em sociedade. A remoção desses valores, pelo uso da força, destrói a capacidade de produção do homem e a consequência é o saque da propriedade privada até o momento em que não haja mais de onde remover os recursos. O uso da força remove do ser humano a capacidade de pensar e é somente essa que representa o valor do dessa espécie e o torna diferente de todas as outras espécies que habitam nosso planeta. Em sua mais famosa obra, A revolta de Atlas, Rand narra uma história fictícia, mas que muito se assemelha à realidade da nossa sociedade, na qual a força do Estado se apropria de boa parte do resultado produtivo dos indivíduos com a promessa de prover a toda a sociedade o que chama de bem-estar social.

Uma das principais personagens da história é Dagny Taggart, filha de Nathanael Taggart e irmã de James Taggart, proprietários de uma grande companhia de transporte ferroviário nos Estados Unidos, a Taggart Transcontinental. Dagny possui valores e princípios bastante sólidos e, em nenhum momento, se entregou às facilidades e à corrupção proposta por políticos e líderes, como as de seu irmão James, sempre defendendo serem defensores de um bem maior ao do lucro e da ganância por enriquecer: o do bem-estar social.

Políticas de bem-estar social foram muito defendidas por tais lideranças que iniciaram o processo de ascensão ao poder e criação de decretos para remover a concorrência entre industriais. O estopim desse tipo de política se deu, quando criaram restrições contra Hank Rearden, dono das Siderúrgicas Rearden, que descobriu uma fórmula inovadora, criando um tipo de metal com características muito melhores e mais baratas do que os aços tradicionais existentes no mercado: o Metal Rearden.

Esse metal permitiria um progresso imenso na siderurgia e na área ferroviária, permitindo a expansão de ferrovias, cruzando o país de um oceano a outro, e de todas as áreas que utilizam o metal como base de produção. O problema é que o interesse pela sobrevivência por um influente concorrente, chamado Orren Boyle, permitiu utilizar seu poder político para criação de decretos que limitassem a capacidade produtiva das siderúrgicas. Tal decreto iniciou um processo de crise de capacidade versus demanda pelo produto e, com isso, cada vez mais, os grandes líderes iniciaram processos de intervenção e planejamento da economia, com o objetivo de resolver tais problemas. Empresários como Dagny e Rank resistiram e lutaram por sua propriedade, fugindo de todas as tentativas das lideranças em corrompê-los de seus princípios.

 Em uma linha revolucionária, entendendo todo o contexto e enxergando as consequências que tais políticas iriam levar, um importante personagem da história, John Galt inicia um movimento para influenciar os principais empresários que estavam sendo impactados pelas políticas. Dentre esses, estava Francisco D’anconia, dono da mineradora Cobres D’anconia, e que influenciou diversas vezes Dagny e Hank, para que não se abdicassem da individualidade, do egoísmo e da ganância, valores que eram extremamente criticados por todos da sociedade na época, que acreditava que o melhor para o mundo fosse compartilhar todos os resultados produtivos pela sociedade.

John Galt fica oculto por boa parte da histórica. A empresa onde John trabalhava entrou em crise por seus donos iniciarem uma política social em que as necessidades dos funcionários eram utilizadas para prover maiores rendimentos, ao invés da produtividade. Esse tipo de política criou a cultura nas pessoas de produzirem cada vez menos e não se responsabilizarem por nada. Além disso, buscavam cada vez mais demonstrar que havia necessidade para terem salários maiores. Foi nesse cenário que John Galt enxergou a que fim levaria a empresa e logo se rebelou dizendo a todos que iria parar o motor do mundo. Essa frase ficou famosa e todos se perguntavam quando sentiam os “motores desacelerando”: Quem é John Galt?

John não precisou realizar muitos esforços para ver motor do mundo parar. Na verdade, as políticas sociais são contra a natureza humana, pois defendem que as necessidades vêm antes da capacidade produtiva. Ou seja, mais importante que produzir seria promover o mínimo para todos. Essa política se espalhou por todo o país a partir de decretos que permitiam total intervenção, controle dos preços e alocação de funcionários. Nesse contexto, as pessoas seguiam somente o comando de seus superiores, e fugiam de todas as responsabilidades possíveis. Além disso, a diminuição da capacidade de produção das indústrias passou a gerar problemas graves como a falta de transporte para o escoamento da produção agrícola, fazendo com que a maior parte fosse perdida. Nesse momento, as pessoas já não respeitavam mais a propriedade privada e saques passaram a ser recorrentes nas indústrias, ferrovias e diversos estabelecimentos.

O movimento revolucionário que John Galt iniciou, libertou os empresários que entenderam o problema das políticas sociais e o seguiram para o Vale de Galt. Este local foi criado por John, para que pudesse colocar em prática todos os valores que acreditava. Nele, todos tinham que produzir para garantir seu sustento e não existia um governo: todos eram livres para realizar suas escolhas, mas deviam respeitar a liberdade individual e a propriedade do próximo.

Apesar de ser um local de “descanso” para eles, o principal objetivo desse movimento foi o de criar uma greve. Ou seja, retirar da sociedade as principais lideranças das diversas áreas do conhecimento, com o objetivo de fazer o “motor do mundo parar”. E foi com a falta dessas pessoas, que o mundo não conseguiu se sustentar, uma vez que não existiam mais as pessoas para saquear a riqueza e redistribuí-las.

Sem saídas em meio à grande crise instaurada no país, os líderes políticos partiram para realizar um discurso em rede nacional na tentativa de acalmar a população. Foi nesse momento que John Galt, através de uma intervenção nas frequências do rádio, tomou lugar e realizou um longo discurso mostrando para as pessoas a realidade da política social, as consequências dela e quais deveriam ser os reais valores respeitados. De acordo com ele, o homem precisa de três coisas como valores supremos: razão, determinação e amor-próprio. Razão, seu único instrumento para adquirir conhecimento; determinação, sua escolha da felicidade que esse instrumento busca realizar; amor-próprio, sua certeza inabalável de que sua mente tem competência para pensar e sua pessoa merece a felicidade, ou seja: merece viver. E desses valores, implicam todas as virtudes do homem: racionalidade, independência, integridade, honestidade, justiça, produtividade, orgulho.

Todos esses valores devem partir dos indivíduos e o governo não deve utilizar a força para violá-los, na verdade, o seu único papel nesse ideal seria o de garantir o respeito à vida, à propriedade e ao cumprimento dos contratos, nada mais. Além disso, o menor sinal de violação desses valores abre as portas para o início do processo de destruição humana, já que, cada vez que uma pessoa se sente no direito de receber sem produzir, um efeito cascata se inicia para todos da população. Com isso, aquele que produz acaba perdendo o direito de usufruir e passa a entender que a propriedade não é mais respeitada e não vê mais motivação para fazê-la crescer, ou seja, não sente mais vontade de produzir.

Realizando uma comparação dessa história fictícia criada por Ayn Rand, é possível identificar diversas similaridades com a realidade em nossa sociedade. Por exemplo, o quanto políticas sociais lutam pela redistribuição da renda em nossa sociedade entendendo que os menos afortunados têm direito ao sustento, ao básico, mesmo que, para isso, não consigam produzir todo o necessário. Influenciados por essas políticas, legisladores criam leis que realizam a transferência de riquezas ou criam burocracias para remover concorrências e interferir no mercado, atrapalhando, assim, pessoas como Hank Rearden de promoverem para a sociedade inovações e oportunidades de trabalho.

O grande problema é que, como visto no livro, e em muitas situações na nossa história, o aumento dessa política, atrelada ao aumento do poder do Estado, gera um resultado de soma negativa de valor na economia. É possível ver claramente que, em países como Venezuela, Cuba, Argentina e Brasil, dívida pública e inflação foram problemas potencializados pelo alto custo do Estado para sustentação de políticas sociais. Países que possuem grandes empresas e fontes de riqueza ainda assim conseguem sustentar tais políticas, como no próprio Estados Unidos, mas países menos desenvolvidos, sofrem. E no final, quem realmente sofre com tais políticas é a própria população mais carente, uma vez que o funcionalismo público continua sendo sustentado, enquanto o poder de compra da população é reduzido pela perda de valor da moeda. Conflitos também atingem mais a população pobre, uma vez que a violência tende a aumentar com a diminuição de recursos disponíveis e a retirada do foco do Estado no policiamento, que deveria ser o seu real dever.

Ayn Rand, em A revolta de atlas, demonstra com maestria a ineficácia de políticas sociais e as consequências geradas por elas. Traz também uma enorme reflexão sobre o poder do indivíduo, além de quebrar verdades absolutas em nossa sociedade, como aquelas que criticam a ganância, o individualismo e pregam que os menos favorecidos devem ser exaltados, sem, para isso, produzirem e merecerem algo. Toda essa filosofia traz para a responsabilidade individual o poder e o dever de lutar por um mundo melhor, com mais liberdade e com mais possibilidades para a busca da felicidade. Não está em um grande líder a solução dos problemas em nossa sociedade, mas em cada um de nós!

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