Sobre gênero, masculinidade e feminilidade

Hoje analisarei a visão de Ayn Rand sobre gênero. Especificamente, o que acredito que seja o significado de “feminilidade” e “masculinidade” para ela, e porque relacionava o primeiro à “adoração do herói”, e o segundo, à “ação heroica”.

Enquanto seres humanos, homens e mulheres são essencialmente iguais. De modo geral, ambos são seres racionais, capazes de escolha, produção e virtude. Enquanto homens e mulheres, porém, somos fundamentalmente diferentes. Centenas de milhares de anos de seleção natural levaram a uma diferenciação considerável entre nossos sexos – os quais, possivelmente, já eram bastante diferentes na alvorada da espécie humana. Somos bastante diferentes em termos de estrutura física, percepção, coordenação motora e temperamento.

Os homens são, de forma geral, mais fortes, com ossos mais densos, inteligência espacial mais desenvolvida e maior capacidade de foco num objeto específico. Devido às mesmas diferenças biológicas, também somos mais decisivos, agressivos e territoriais, tendendo a focar mais em objetos inanimados do que em pessoas. As mulheres são, em geral, mais fracas, porém mais flexíveis e resistentes à dor; são capazes de perceber diferenças muito mais sutis de cor e cheiro, exibem coordenação motora fina, e costumam ser mais sociáveis, tendendo a focar mais em pessoas que em objetos.

Em resumo, eu me arriscaria a dizer que homens são melhores em diferenciar, enquanto as mulheres, em integrar. Essas diferenças não são arbitrárias, nem impostas pela sociedade – são diferenças metafísicas, biológicas, desenvolvidas ao longo de milênios de seleção natural. De forma simples, mulheres “fazem pessoas novas”, ao contrário de homens. Isso tornou um dos sexos mais “descartável” em termos evolutivos e, portanto, mais apropriado para atividades perigosas como a caça e a guerra, deixando o outro encarregado da educação das crianças, e da política interna.

Essas generalizações são absolutos binários? Não.

Indivíduos são extremamente diferentes uns dos outros, mesmo dentro do mesmo sexo – e aí reside a diferença essencial entre “ser homem” e “ser masculino”. “Masculinidade” e “feminilidade” referem-se a traços e virtudes comuns a ambos os sexos, porém mais proeminentes em um dos dois. São conceitos que identificam as diferenças metafísicas entre homens e mulheres, no contexto de sua semelhança essencial. Não são conceitos opostos. Masculinidade não é a ausência de feminilidade. Um homem fraco não é feminino, e uma mulher desastrada não é masculina. Ambos os conceitos são epistemologicamente positivos, e se referem ao desenvolvimento de certos traços e virtudes que não se contradizem. Masculinidade e feminilidade se complementam, tanto social como individualmente – um dos maiores sinais de desenvolvimento psicológico é ser confortável o suficiente com o seu gênero para entender, apreciar e copiar as virtudes do outro. Em outras palavras, o homem ideal é masculino e feminino ao máximo, na medida do possível, e vice-versa.

Mas o que isso tem a ver com a questão do herói?

A ação heroica é o uso integrado da mente e do corpo do indivíduo para domar a natureza. É uma ação decisiva, e geralmente agressiva, cujo foco é um objeto inanimado – uma ação que, tradicionalmente, também requer uma força física considerável. Essas são todas qualidades masculinas, mais proeminentes em homens, e é por isso que o ápice da masculinidade é a ação heroica.

E as mulheres? Devem apenas ser “adoradoras” secundárias? Definitivamente, não.

Para adorar e amar, é necessário entender e alcançar o mesmo valor do herói. Isso significa desenvolver todas as virtudes universais, como a racionalidade e a independência, ao mesmo nível de qualquer homem. Isso também significa compreender o herói mais do que ele próprio é capaz, pois, enquanto o foco do herói masculino é a ação e seu objeto, o foco feminino é na pessoa como um ser integrado. “Adorar o herói”, em última instância, significa estabelecer os critérios com os quais julgar o heroísmo (e escolher quem é o indivíduo heroico). Em última instância, tornando-se um com ele, dando luz a um novo herói.

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Revisado por Matheus Pacini.

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