Semelhanças entre a “A revolta de Atlas” e a Venezuela atual

A revolta de Atlas conta a história do que ocorre em uma sociedade quando os seus membros mais produtivos desaparecem. Onde podemos encontrar uma situação semelhante? Escolha um evento internacional que tomou as manchetes. Explique o que você entende ser a causa e o efeito dele. De que formas as circunstâncias são similares (ou diferentes) à história de A revolta de Atlas?

Ao longo do século XX, a Venezuela cresceu muito mais do que outras nações sul-americanas. A descoberta, em 1922, de substancias reservas de petróleo atraíram grandes investimentos estrangeiros em sua incipiente indústria petrolífera. A partir de 1935, ela já tinha a renda per capita mais elevada da América do Sul, bem como um padrão de vida correspondentemente alto.

Até o final do século XX, a Venezuela recebeu milhões de imigrantes, vindos de países da América do Sul e da Europa, atestando sua prosperidade econômica e segurança material. Hoje, ocorre o contrário. Nos últimos 20 anos, milhões de venezuelanos mergulharam na pobreza. O sistema financeiro foi decimado pela hiperinflação, a escassez de alimentos e outros produtos/serviços básicos tornou-se crônica, e os crimes violentos atingiram os piores níveis do mundo. Com essa piora generalizada, mais de seis milhões de pessoas – pelo menos, 20% da população – deixaram a Venezuela. Tal qual os Estados Unidos de A revolta de Atlas, a Venezuela atual está cada dia mais privada de seu recurso natural mais valioso: os seres humanos.

Por que isso acontece? A instabilidade política e a corrupção atormentaram a Venezuela desde a sua independência em 1830. Apesar disso, ela prosperou durante o século XX. O rápido declínio iniciou em 1999 com a eleição de Hugo Chávez e o subsequente lançamento da “Revolução Bolivariana”. Sob a direção de Chávez e seus aliados, a Constituição da Venezuela foi reescrita, garantindo um número recorde de “direitos” – direitos à saúde, à moradia, à alimentação, dentre outros.  A principal característica dos 13 anos da presidência de Chávez foi estabelecer mais de trinta “missões bolivarianas” – programas de bem-estar social cuja missão era prover os “direitos” consagrados na nova Constituição.

Esses programas foram financiados com a nacionalização de várias indústrias importantes, principalmente, pela estatal “Petróleo da Venezuela” (PDVSA), nacionalizada em 1976. Embora as missões tivessem aumentado a popularidade de Chávez, as consequências da nacionalização foram desastrosas para a infraestrutura industrial do país. Com grande parte dos lucros industriais investidos em programas governamentais, o investimento em capital encolheu, e a produtividade colapsou.

Por trás das políticas desastrosas do governo Chávez está uma filosofia moral que sustenta que a necessidade é a base definitiva da justificação moral. Nesse sistema, a propriedade de algo de valor se justifica apenas na medida em que atende alguma necessidade, ou seja, apenas enquanto a pessoa que a possui é incapaz de produzi-lo. Da mesma forma, é inerentemente injusto possuir qualquer valor que não seja necessário. Assim, o governo da Venezuela faz justiça sempre que tira valor dos capazes de produzi-lo e dá a alguém que não é capaz de fazê-lo. Na realidade, a consequência desse tipo de “justiça” tem sido uma grande perda no valor disponível para a sociedade, e no êxodo populacional dos que foram totalmente expropriados. A consequência do ataque moral aos produtores, e sua saída da sociedade venezuelana, serão sentidas por muitos anos.

O conhecimento e a experiência humanos são insumos vitais para a produção – a criação de valor não é um processo automático. Veja esse princípio na indústria petrolífera da vizinha Colômbia. Apesar de não dispor dos mesmos recursos naturais e capital da Venezuela, a indústria petrolífera desse país cresceu drasticamente desde o início do século XX, devido à chegada de trabalhadores qualificados vindos da Venezuela.

A semelhança fundamental entre o mundo de A revolta de Atlas e a realidade da Venezuela é o código moral que orienta os membros mais influentes da sociedade. Embora muitas políticas econômicas fictícias de Wesley Mouch sejam projetadas para beneficiar outros industrialistas, ao contrário das políticas reais de Chávez que buscam beneficiar venezuelanos pobres, elas têm em comum o fato de atribuírem valor com base na necessidade. No romance, tal qual no mundo real, o resultado de políticas irracionais é o mesmo: a diminuição gradual e a destruição final de todos os valores.

O corolário desse sistema moral é a difamação dos que produzem valor, o que também encontramos nas duas situações. A estratégia aplicada contra os ricos por Bertram Scudder e Eugene Lawson é muito semelhante à retórica empregada por Chávez quando ele declarou uma “Guerra aos Ricos” em meio à crise econômica de 2008.

A posição da indústria petrolífera venezuelana é muito similar à das indústrias representadas no romance. Assim como a Taggart Transcontinental e o governo fictício dos EUA, a PDVSA é o maior benfeitor do governo venezuelano, bem como sua maior vítima. Como a indústria mais produtiva do país, os lucros da PDVSA financiam a maioria dos programas assistencialistas de Chávez. Portanto, privada do valor que produz, não tem sido capaz de suportar sua infraestrutura. Além de extorquir seus lucros, o governo Chávez contribuiu diretamente para as perdas significativas de capital humano que ela sofreu. Quando os petroleiros entraram em greve em 2002 contra a estatização, mais de 12 mil trabalhadores foram demitidos, sendo substituídos pelos apoiadores políticos de Chávez. Frente às medidas crescentes do governo para assumir o controle e dirigir as atividades da Taggart Transcontinental, a produtividade da ferrovia previsivelmente diminuiu; da mesma forma, a gestão de Chávez na PDVSA resultou em uma produção cada vez menor de petróleo, e um declínio consequente nas exportações de mais de 90% desde 1999.

Em A revolta de Atlas, o conflito entre criadores e saqueadores é, essencialmente, intelectual. A vitória final dos criadores consiste na retirada total do valor que produzem do alcance da sociedade que os vilipendia, mas isso só é possível pela vitória intelectual de John Galt. É apenas ao compreender a visão integrada de mundo de Galt, dos seres humanos e do papel da mente na vida humana que cada um dos criadores é capaz de rejeitar totalmente as contradições filosóficas que os mantinham cativos na sociedade do saqueador.

Embora muitos tenham deixado a Venezuela, levando consigo o valor que podem produzir, a batalha intelectual contra a filosofia chavista não foi travada. Ao contrário dos Estados Unidos do romance, a Venezuela existe em um mundo onde muitos ainda são livres para produzir valor para benefício próprio. Por mais promissor que pareça para aqueles que abandonaram a Venezuela, também significa que há valor abundante no mundo para sustentar aqueles que estão dispostos, com base em sua suposta superioridade moral, a tomá-lo para si pela força. Até que a base moral filosófica dessas pessoas seja combatida e categoricamente negada, os saqueadores continuarão a fazer o que fazem.

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