Quando alguém não tem como refutar algumas ideias ou não quer perder o protagonismo como ideólogo, em vez de criticar as ideias de terceiros e, quem sabe, até apoiá-las eventualmente, sobra-lhe um recurso para se manter por cima como guia intelectual ou espiritual: intimidar os concorrentes ou seus próprios seguidores com a ira de suas palavras.
Via de regra, as pessoas não querem ser importunadas por quem não tem educação e respeito no trato social. Quem quer ficar na mira de egos inflados que não dispensam pisotear aqueles que os desafiam com críticas razoáveis ou com a concorrência num mercado estreito para quem tem a popularidade como prioridade das suas ações?
Muitas vezes, coletivos formados em torno de um líder intelectual ou espiritual tendem a se comportar como seita. Não tanto pelo conteúdo transmitido, mas pelo método que mantém seus integrantes presos àquele grupo.
Se existe uma regra que deve ser seguida para que os indivíduos sejam realmente educados ou ensinados para saberem como identificar, escolher e percorrer os caminhos para uma vida melhor e mais longeva, sem causar danos aos demais membros da sociedade, respeitando a vida, a liberdade e a propriedade alheia, é promover a independência material, intelectual e espiritual dos seus alunos, pupilos ou seguidores.
Seitas dogmáticas ou líderes autoritários não formam indivíduos livres e independentes a não ser por acaso e na forma rara de rebeldia.
Esses que praticam uma das duas coisas, seja o dogmatismo ou o autoritarismo fundados na intimidação, não desejam criar generais, artistas criativos, cientistas inovadores e empreendedores disruptivos: almejam apenas criar uma legião de soldados dispostos a abdicar da própria mente como instrumento para enfrentar os desafios da natureza impostos inexoravelmente pela insubstituível oportunidade que é a vida.
Já disse e repito: no campo do debate de ideias devemos ser radicais; porém, no trato social, para que esse debate seja possível, devemos nos orgulhar do respeito e da moderação.
Lembre-se: a mente é sua e ninguém pode dominá-la sem o seu consentimento.
Para se aceitar ideias deve haver compreensão e concordância. No entanto, não basta a compreensão e a sua concordância. É preciso aliar-se a dois juízes implacáveis para que a compreensão e a concordância tenham validade: a realidade objetiva e a lógica.
Não basta ouvir ou ler o que dizem por aí os disseminadores de ideias, inclusive eu; ouça, leia, pense e conclua sem ceder à tentação da incondicionalidade por adesão partidária, emocional, ou por preguiça – abdicando da própria consciência para seguir seu guia, independentemente de quem ele for.
Essa tem sido a tônica das instituições que ajudei a fundar. Seja no IEE, no Instituto Liberal ou no Atlantos, focamos no debate racional de ideias e somente de ideias. Discutimos princípios, discutimos valores e elegemos ideais. É por isso que, ao longo dos mais de 30 anos de participação no debate público, formamos ambientes onde pessoas como Henry Maksoud, Roberto Campos, Douglass North, Yaron Brook, Stephen Hicks, Lawrence Reed, Mário Vargas Llosa, entre outros, puderam dividir a ribalta com oponentes com ideias divergentes.
Acreditamos que ideias podem iluminar a escuridão e que a realidade eventualmente demanda que ideias antes consideradas impossíveis se tornem inevitáveis, como diziam respectivamente Ludwig von Mises e Milton Friedman.
Não podemos esquecer a frase de Ayn Rand que dizia que civilização é o processo de libertar os homens dos outros homens. Civilizar-se, portanto, significa também se libertar da intimidação dos que querem dominar não apenas o nosso corpo, mas, principalmente, a nossa mente.
Desenvolver uma mente livre e independente é a principal forma de autolibertação.
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Publicado originalmente em Instituto Liberal.
Revisado por Matheus Pacini.
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