Dias atrás, conversei com um dos membros do Thinking Lab. Ele comentou que, após trocar de emprego, cedeu a velhos hábitos por estar muito atarefado com seu novo cargo.
Ocorreu-lhe que precisava praticar as ferramentas que outrora tinham feito grande diferença em sua motivação, eficácia e clareza. Porém, sentia que não tinha tempo para usá-las, já que sua jornada de trabalho era muito cansativa.
Percebia que seus velhos hábitos estavam reassumindo o controle – já nem pensava no que estava fazendo, e fazia as coisas por obrigação. Sentia-se pressionado a aceitar a opinião dos outros, correndo para terminar o que tinha que fazer. Isso começou a preocupá-lo, “quando a velha premissa da obrigação e a síndrome do “maria-vai-com-as-outras” iriam desaparecer?”
Aqui, dois pontos precisam ser considerados: 1) esse é um problema comum, não um problema apenas de meu amigo e 2) ele está tendo sucesso em modificar suas premissas, pois conseguiu ter consciência do problema.
Dito isso, há uma concepção equivocada – a ideia de que, por fim, ele não seria compelido a cumprir obrigações ou concordar com o que os outros dizem. Essas são situações-padrão e serão sempre assim. E isso não significa que as pessoas são inerentemente más, ou que há algo de errado com elas, e nem indica que é impossível mudar premissas. A ação em si não é o problema, mas a decisão de agir de uma certa forma.
Quando você cumpre um dever, você sente que “deve fazer” sem pensar na sua motivação para tal. Por exemplo, quando você esvazia sua caixa de e-mail, é para se livrar daquela pilha de e-mails não lidos – você sente que “deve fazer”, mesmo que isso prejudique sua criatividade no trabalho. Você baixa a cabeça e “faz”.
Se você entende o contexto e reconhece a motivação contrária, você pode encontrar uma forma de não calar seus pensamentos. Por vezes, esse é exatamente o passo que deveria ser dado. Por exemplo, ainda que limpar seus e-mails reduza a sua criatividade, isso pode ser positivo. Às vezes, decido limpar o e-mail antes de iniciar um trabalho criativo, pois sei que não vou conseguir me concentrar se não fizer isso. Em outras palavras, ou você age para resolver o conflito, ou você “queima” o processo, sendo levado pelas emoções.
Da mesma forma, às vezes você concorda com as pessoas, noutras, não. O erro do “maria-vai-com-as-outras” é aceitar a opinião alheia como referencial, deixando a sua de lado. Considerar a ideia dos outros pode ser uma das opções válidas no trabalho em equipe. Entretanto, se você avaliar o contexto, e se deixar levar pelas razões dos outros, você acabará fazendo o que eles querem.
Em outras palavras, se você não está consciente de si mesmo, você acabará escolhendo com base no que “deve ser”, tornando-se um “maria-vai-com-as-outras”.
Isso nos remete ao problema apresentado: meu cliente se sentia ocupado demais para tomar decisões egoístas.
Na verdade, há três razões legítimas para evitar a autoconsciência: você está (i) sobrecarregado, (ii) cansado ou (iii) tenso. A autoconsciência exige recursos intelectuais específicos.
Primeiro, é preciso ter espaço livre na mente. Se você está sobrecarregado, você não consegue pensar direito. Simplesmente, não tem capacidade mental para refletir. Por outro lado, também não conseguirá fazer mais nada. A prioridade é reduzir a sobrecarga. Mas como? Faça uma lista, organize suas ideias. Assim, você terá uma visão geral, pensando com calma, de forma segmentada. Quando tiver liberado um pouco de espaço mental, decida de forma consciente quais são suas prioridades.
Segundo, estar consciente requer energia: se estiver cansado, achará trabalhoso iniciar um processo de autoconhecimento. Simplesmente, não haverá energia mental para refletir. Por outro lado, tampouco terá energia para mais nada. A prioridade, então, é recarregar as baterias. Música e exercícios leves são indicados. Que tal ouvir música ou fazer uma caminhada? Se não funcionar, o melhor é ir dormir. Assim que tiver recobrado as energias, decida de forma consciente quais são suas prioridades.
Terceiro, estar autoconsciente exige acesso aos conteúdos subconscientes. Se estiver tenso ou sob pressão, estará suprimindo seus sentimentos, não tendo acesso ao banco de dados emocional necessário para a autoconsciência. Da mesma forma, tampouco poderá acessá-lo para qualquer outra atividade. A prioridade aqui é relaxar. Para tal, recorro às técnicas de respiração. Alongamento também pode ajudar. Se não resolver, tome um banho ou vá fazer uma massagem.
Quando retomar seu acesso ao subconsciente, você ficará novamente sobrecarregado. Ninguém fica tenso por se manter distraído, a não ser por milhões de distrações. Sua melhor opção será fazer uma espécie de descarga dos conteúdos mentais. Se forem emocionais, será obrigado a refletir e esclarecer o que sente até retomar um estado neutro: quando alcançá-lo decida de forma consciente quais são suas prioridades.
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Resultado: haverá momentos em que você não terá recursos mentais para a autoconsciência. Trate isso como um alerta, pois indica que não há recursos para qualquer trabalho importante. Então, sua prioridade é recuperá-los.
O fato de ficar sobrecarregado, cansado ou pressionado por tarefas precisa ser considerado. Isso significa que você ultrapassou seus limites, logo, o conflito é iminente. É preciso repactuar seus esforços. Decida de forma consciente quais são suas prioridades.
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Artigo publicado em Thinking Directions.
Tradução de Hellen Rose.
Revisado por Matheus Pacini.
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