Artigo publicado em 5 de setembro de 2015.
Há muito tempo atrás, antes dos bancos e dos empréstimos privados, havia só uma forma de se preparar para a aposentadoria. As pessoas precisavam acumular algum bem durável. Todas as semanas, separavam parte do salário para comprar sal (posteriormente, prata). Se não ficasse úmido, seria acumulado até as pessoas não pudessem mais trabalhar. Então, começariam a vendê-lo para comprar mantimentos.
Era o melhor que podiam fazer. Pelos padrões modernos, não era um método muito bom. Acumular commodities não financia o crescimento dos negócios, logo, o acumulador não contribui com capital para a economia. E ainda incorre em um grande risco: e se o seu “estoque” da commodity acabar antes de sua morte?
A criação dos empréstimos foi um avanço revolucionário. Emprestar permite que o aposentado negocie com o empreendedor. O aposentado tem riqueza, mas não renda. O empreendedor é o oposto: tem renda, mas não riqueza. O aposentado permite que o empreendedor use sua riqueza em troca de uma renda. O empreendedor fica feliz em pagar juros para expandir seus negócios e aumentar seus lucros.
Ao longo dos séculos, os governos proibiram a prática de emprestar com juros. Eles a chamaram pejorativamente de usura. Às vezes, as pessoas contornavam a lei, mas, quando descobertas, os empréstimos cessavam. Ninguém arriscará sua riqueza sem receber nada em troca.
Hoje, emprestar não é ilegal, porém o FED tem reduzido as taxas de juros por mais de 30 anos. Sua taxa de juros administrada de curto prazo é praticamente zero. Os defensores dos bancos centrais afirmam que isso ajudará a economia. Ainda não ajudou, nem nunca ajudará. Entretanto, a principal preocupação tanto dos defensores do FED como de seus inimigos é a de que os preços possam subir. Bem, os preços não estão subindo agora. Assim, os primeiros estão orgulhosos; e os últimos, frustrados.
Eles não entendem o dano real do juro zero.
O FED pode forçar a taxa de juros a zero, mas não pode mudar a lei econômica. Conforme sufoca os juros, enfraquece a relação sagrada entre poupador e empreendedor. Somem os empréstimos para empreendedores e, com eles, crescimento, oportunidades, empregos e produtos. Nossa economia está terrivelmente frágil não está assim apesar da política do FED, mas sim por causa dela. Sanguessugas nunca curaram febres, e juros zero não estão curando a crise econômica global.
Se não é possível a troca de riqueza por renda, o que sobra? É substituída pela conversão de riqueza em renda. Saia da frente, empreendedor! Não precisamos mais de você. Abra espaço para os especuladores. Em vez de financiar negócios produtivos, a especulação é agora a melhor forma de lucrar!
O especulador de sucesso recebe o ovo do ninho de outro. Não conquista isso com base em um empréstimo que precisa ser pago. Ele o obtém como renda, como lucro em suas negociações. Ele pode gastar e consumir esse capital precioso, algo que seu antigo nodo nunca faria.
É perverso substituir empréstimos por especulação. Entretanto, juros zero tornam isso necessário, desejável e fácil de apostar em preços de ativos. Sem compensações adequadas, o crédito flui para títulos do Tesouro e grandes empresas que realizam arbitragem financeira (por exemplo, recompra de ações). Sempre há um gradiente de crédito entre uma grande corporação e um negócio de esquina. Entretanto, quanto mais baixa a taxa de juros, maior ele se torna.
A especulação se tornou muito desejável. As pessoas precisam de retornos maiores do que podem obter com empréstimos normais. Aparentemente, a especulação oferece grandes retornos. Eu não culpo os jogadores, culpo o jogo perverso do FED.
Especular ficou muito fácil. Uma queda no rendimento em queda equivale a um aumento dos ativos, então, os especuladores simplesmente apostam na tendência do FED. Se eu recebesse um centavo para cada pessoa sem conhecimento financeiro que me dissesse que eu não entendo o mercado, eu seria mais rico que a maioria dos especuladores.
Gerações inteiras agora acreditam que conseguirão conquistar uma aposentadoria tranquila com especulação. Isso é impossível, pois elas não estão investindo, mas consumindo.
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Artigo publicado em Capitalism Magazine.
Tradução de João Rodrigues.
Revisado por Matheus Pacini.
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