Ayn Rand foi uma romancista filosófica americana. Nascida na Rússia, em 1925, rumou para os Estados Unidos, dizendo para as autoridades soviéticas que iria visitar parentes, porém nunca mais voltou. Seus romances mais lidos são A Nascente, que é uma história sobre um arquiteto independente e muito capaz, e A Revolta de Atlas, uma história tida como ficção sobre a capacidade da mente humana e de produção do indivíduo.
A grande ideia desenvolvida e defendida por Rand foi o Objetivismo. Nas palavras da autora, o Objetivismo era a sua filosofia, que tinha o ser humano como um ser heróico, tendo a própria felicidade como propósito moral de sua vida, capacidade produtiva e como atividade mais elevada e nobre bem como a razão como único guia absoluto.
Em linhas gerais, a obra em questão aborda a instalação do socialismo de maneira quase inacreditável, mas muito atual. Com o Estado tendo papel cada vez mais interventor em diversos setores, dentre os principais ferrovias, petróleo, produção de aço, comunicações, bancos etc., Rand, com uma mente incrível, detalha os meandros de cada ação dos interventores, bem como as reações dos principais personagens e os resultados para toda a sociedade.
Foi numa fábrica de motores que a semente da ideia de dar a todos conforme sua necessidade e punir conforme a capacidade começou a ser disseminada. Conta-se que um dos funcionários, John Galt, personagem principal do livro, ao ver o discurso coletivista, saiu da fábrica na presença de 6 mil pessoas e foi claro: iria parar o motor do mundo. Munido de um código moral claro e diante de um código moral às avessas, o “desertor” da fábrica saiu em busca de aliados para uma greve de mentes. Sim, greve de mentes. Os primeiros a aderirem à tal greve, um grande pensador e um herdeiro de um conglomerado gigante, agem de forma estranha diante do código moral imposto pela sociedade, que vive no piloto automático, produzindo para entregar a quem nada produz.
Altruísmo como grande valor creio ser o mais condenável por Rand. Sim, ao longo do romance, vários personagens, em sua maioria sem objetivo de vida e sem capacidade, colocam em xeque a importância do dinheiro e, como se não bastasse, amaldiçoam aqueles que têm o próprio dinheiro.
O ponto alto do livro é o discurso feito por Francisco D‘Anconia, o herdeiro de um grande conglomerado de cobre do mundo, sobre o dinheiro, após fazer as contas e decidir não entrar nas regas do código moral imposto pela sociedade e, assim, não entregar uma produção maior do que seu último parente e numa festa discursa sobre o que é o dinheiro. Neste discurso, extenso e denso, D’Anconia, além de demonstrar, claramente, que o dinheiro é para ser trocado entre homens que precisam de serviços/produtos e quem os fornece, através do trabalho honesto de homens honestos, cita uma frase que creio ser a mais importante do livro: “a riqueza é o produto da capacidade humana de pensar”.
Se Francisco aderiu cedo à greve e não se rendeu ao código moral imposto pela sociedade, o produtor do Metal Hearden, Hank Hearden, um self-made-man, lutou até o “fim”. Bom no que fazia, focado em seu trabalho, não tendo nada com que importasse mais, Hank vivia um verdadeiro conflito entre seu próprio código moral e o código moral imposto pela sociedade e por sua família. Com um irmão incapaz e muito altruísmo fajuto, uma mãe pidona e uma esposa que só queria saber das benesses que ele poderia lhe oferecer, todos eles recriminavam a obstinação de Hank em fazer, ser e ter o melhor.
Foi conhecendo Dagny Taggart, herdeira muito capaz da Taggart Transcontinental, que Hank teve contato com alguém que viva conforme o próprio código moral. Dagnny era obstinada, uma egoísta racional pura com muita capacidade e que tinha em seu trabalho seu orgulho. Irmã de Jim Taggart, que se mostra vazio e sem planos de vida, uma pessoa deplorável, Dagny mostra sua capacidade, ao longo de toda obra, em diversos momentos difíceis que sua empresa atravessou ao sofrer intervenções de homens que nada produziam, mas que eram aliados de seu irmão Jim.
Ao redor de Hank e Dagny, vários empresários desaparecem sem dar explicações, sempre após decretos malucos de intervenções dos mais variados tipos e com objetivos sempre ditos que eram para o bem comum. O mais incrível é que tais empresários desapareciam, simplesmente largavam suas empresas e iam para o Vale de Galt. Ayn Rand cria um lugar que, diferentemente do código moral imposto, tem como foco o dinheiro, mas não de maneira pífia e sim dando a cada um seu devido valor. No vale, todos podem utilizar suas capacidades e serem remunerados por isso. O que me chamou atenção foi que, em todas as funções, as pessoas pareciam produzir menos que fora do vale. Ledo engano, com intervenção estatal zero, as pessoas do vale tinham mais produtividade e lucros. Logo, ao executar suas funções e terem êxito, tinham também tempo para se aprofundar em assuntos e técnicas de seu interesse e, assim, desenvolver-se ainda mais como indivíduos. Que mundo perfeito, que vale perfeito!
A obra vai se encaminhando para um caos total na medida em que as intervenções ficam mais pesadas e graves, além de cada vez mais pessoas desertarem de suas funções, postos de trabalho e empresas. Com decretos em vigência, empresas abandonadas e pessoas vivendo no automático, a sociedade vai entrando em colapso, pois aqueles que interviam e criavam leis esdrúxulas nada sabiam sobre como operar as empresas abandonadas.
Um ponto a ser levado em conta é que o livro não retrata um exílio de nobres e ricos, mas sim de mentes capazes que decidiram parar de produzir para sustentar aqueles que nada produziam e apenas justificavam seus atos em prol da necessidade e do bem comum, seja lá qual for o nível de riqueza do cidadão. Outro ponto interessante é que, em todo mundo, fala-se muito sobre a força do trabalhador braçal. Ora, não é pela força bruta que grandes ideias são postas de pé diante da sociedade, mas sim com a capacidade humana de pensar e partir para realizar grandes feitos.
Pegando tal gancho, também é válido destacar altruísmo versus capacidade. Nessa vertente, a cabeça chega a dar um nó, pois, num grande discurso de John Galt, isso é trazido ao centro da exposição. O altruísmo sugere que os homens devem trabalhar em detrimento de si próprios. Muitas vezes, a sociedade acusa o dinheiro ganho por meio de trabalho honesto e árduo e quer que tal riqueza produzida seja entregue àqueles que, por livre e espontânea vontade, têm seus vícios e nada produzem. Aqueles que não tinham capacidade produtiva interferiam em negócios com a desculpa de que o estavam fazendo para um bem comum. Toda vez que existe interferência estatal, é gerada uma falha no mercado e, nesse cenário, os únicos beneficiados são os amigos de quem gerou tal falha.
A obra é antiga, todavia também é muito atual. Vemos, claramente, os efeitos de um Estado interventor, que não para de crescer, destruindo tudo, como na Venezuela. No Brasil, com a recente mudança de direção e algumas ações pontuais em prol da liberdade para os indivíduos, podemos ser otimistas e acreditar que tempos de prosperidade estão por vir. Somente quando os indivíduos forem capazes, produtivos e tiverem recursos poderemos ter um ciclo virtuoso de relações entre todos. Caso contrário, principalmente sem a capacidade de produzir e de gerar riqueza, os saqueadores, de todos tipos e esferas, tomarão conta de tudo e de todos.
Não se engane: a igualdade pretendida e prometida por líderes utópicos não existe. O ser humano que considera como valores supremos a razão, o propósito e a sua autoestima, exercitando as virtudes como racionalidade, independência, integridade, honestidade, justiça, produtividade e orgulho gerará sua riqueza e sua própria alma. Viva Ayn Rand!