Ayn Rand é um escritora, romancista e filósofa americana, de origem judaico-russa, nascida em São Peterburgo em 1905. Após o comunismo soviético obter cada vez mais força, ocorreu um evento crucial no destino de Rand: o confisco da farmácia de propriedade de sua família pelos soviéticos.
Esse fato teria motivado Ayn Rand a obter uma autorização dos soviéticos para viajar para os EUA em 1925, sob justificativa de visitar seus parentes. Rand nunca mais retornou para seu país de origem após esse episódio. Ao vivenciar as atrocidades do regimento comunista soviético e ao analisar a decadência da liberdade no mundo, sobretudo nos EUA, no decorrer das décadas de 1930, 40 e 50, Ayn Rand se tornou uma das maiores defensoras dos ideais de liberdade e do individualismo que o mundo já conheceu.
Rand é autora de diversas obras de ficção, tais como “A Nascente”, “A Revolta de Atlas” e “Cântico”. Dentre as obras de não ficção, “A Virtude do Egoísmo” (1964) e “Introdução à epistemologia objetivista” (1967). Sem sombra de dúvidas, as obras mais conhecidas de Ayn Rand são os romances “A Nascente” e “A Revolta de Atlas”. Este último, inclusive, é considerado o livro mais influente nos EUA depois da Bíblia, segundo a Biblioteca do Congresso Americano.
Essas duas obras são complementares e retratam a perspectiva de Ayn Rand a partir do mundo real que ela vivenciou e observou. “A Nascente” foi publicado em 1943, durante o auge da Primeira Guerra Mundial. O tema central é o indivíduo contra o mundo e sobre os conflitos daí inerentes. Trata-se, portanto, de uma análise minuciosa, a partir de uma perspectiva individual, acerca de quais seriam os elementos essenciais por trás da filosofia do “homem heroico”, o homem “idealista” e “autossuficiente”. Nas palavras da própria autora, “eu identificaria a noção da vida dramatizada em A Nascente como veneração pelo homem.”
Já “A Revolta de Atlas” foi publicada em 1957. Também do gênero ficção, o tema central é a análise do colapso das civilizações ao redor do mundo, devido a uma espécie de vírus mortal denominado “coletivismo”. A análise desta obra, portanto, parte de uma perspectiva macro, mais abrangente. Também nas palavras de Rand, seria “uma análise persuasiva dos males que assolam nossa sociedade”.
A conjugação da leitura dessas duas obras, a primeira sob a perspectiva do indivíduo, e a segunda a partir da perspectiva macro, social e histórica, potencializa a capacidade do leitor de identificar, no mundo real, os valores e as posturas de indivíduos heroicos (egoístas) e os “de segunda” (altruístas), bem como o caminhar das sociedades e das nações ao redor do mundo para a luz (individualismo e liberdade) ou para a servidão (altruísmo e coletivismo).
Sem maiores delongas, superadas as ponderações iniciais sobre a autora, o contexto histórico e as possíveis motivações e inspirações, a presente resenha crítica visa expor os “melhores momentos” dessa obra de arte denominada “A Nascente”.
Como a perspectiva da obra é, basicamente, o indivíduo contra o mundo e a natureza e os elementos inerentes dessa luta milenar, este trabalho irá trazer as ideias centrais, a partir dos dois principais personagens. O protagonista e o “indivíduo heroico” do romance é Howard Roark. Seu extremo moral oposto é Ellsworth Monkton Toohey.
Com relação ao contexto histórico desses personagens, é viável dividir a história humana em dois momentos marcantes, basicamente. O primeiro, a luta da sobrevivência do homem na natureza. Logo, após o homem conquistar e dominar a natureza, se inicia o segundo momento histórico, a luta do homem contra o homem e a eterna tentativa do domínio do indivíduo pelo homem e a luta pela liberdade.
Os extremos morais de Howard Roark e Ellsworth Toohey representam justamente esse seguido “estágio” da história humana: a luta do homem contra o homem, a luta entre valores morais totalmente antagônicos.
Existem somente dois caminhos para o homem sobreviver em sociedade. O primeiro, o criador ou o homem que vive “de primeira mão”, é o sujeito que, a partir do gozo da capacidade individual mental criativa e das capacidades físicas, o torna apto a promover a alteração da realidade ao seu redor através do trabalho. Esse modo de vida caracteriza o criador ou o homem que vive “de primeira mão”.
O segundo, o parasita ou o homem “de segunda mão”, é o sujeito que se utiliza da mente de terceiros para obter satisfação e os desejos próprios. Os resultados obtidos por estes não são genuínos, pois não são fruto de sua própria capacidade mental racional, mas por intermédio de outros homens.
O objetivo primordial do “criador” é o trabalho, a conquista, a realização, tudo fruto de sua mente individual. O objetivo final do “parasita” é também o trabalho, a conquista, a realização, agora, tudo por intermédio de manipulação de mente de outrem. Cada um desses dois modos de sobrevivência humana existem uma série de níveis e variáveis.
Dentre os “parasitas” ou o homem “de segunda”, existem aqueles que possuem plena consciência de que tudo que obteve na vida é fruto de manipulação e da irrealidade. Esse é o caso de Toohey. Já existem aqueles que vivem nesse mesmo modus operandi, só que enganam a si mesmo, alienam sua “alma” ou pouco ligam para coisa alguma. Seria o caso de Peter Keating, Lois Cook e Gordon L. Precott. Todos esses possuem pleno conhecimento que “obtiveram” determinadas posições mediante a alienação de suas respectivas almas para um outro parasita, chamado Toohey.
Já o “criador” ou o homem “de primeira” seria aquele sujeito autossuficiente, autoconfiante, o fim em si mesmo, a felicidade e a alegria em pessoa. Aqueles que governam somente a sua própria mente e, a partir disso, obtêm genuinamente seus resultados. É o caso do protagonista Roark e de Henry Cameron e Steven Mallory.
Outro importante personagem da obra é Gail Wynand. Esse personagem é significativo, pois a sua longa história de conquistas materiais e de renome foram baseadas na parasitagem de indivíduos. Gail conquistou o que conquistou bom base na “destruição de reputações” de terceiros. Não obstante, a partir de certa parte do romance, Gail conhece e passa a conviver pessoalmente com Roark, com quem cria profunda amizade. A partir dessa amizade, Roark, sem qualquer intenção ou propósito, fez com que Gail se despertasse para sua natureza. A partir disso, Gail paga o preço por ter sido um parasita ao longo de sua vida, mas, no final, obtém certo tipo de redenção.
Existem ensinamentos que somente a vida irá ensinar. Existem experimentos que os indivíduos passam que, apesar de terem “se preparado” em tese, por meio de leituras, por exemplo, ainda assim nada será melhor do que a experiência no mundo real. Para aqueles que desejam deixar de ser um mero sujeito passivo das circunstâncias da vida, e possam se permitir a ser nascente de água cristaliza e fresca, nada melhor do que experimentar e ler “A Nascente”.