Reflexões sobre o estado de bem-estar

Reparei que os defensores do Estado de bem-estar social geralmente incorrem em uma contradição específica. De forma simples, pensam que “uma rede de proteção social é um valor objetivo, que beneficia todas as pessoas. Como as pessoas são egoístas demais para financiar voluntariamente essa rede, então, o Estado deve forçá-las a pagar.” Parece-me que essa forma de pensar é um resquício da mentalidade do servo feudal – o que explicaria porque ela é mais comum na Europa e América Latina do que nos Estados Unidos.

Se uma pessoa dá mais valor a uma coisa que a outra, por definição, não deve ser forçada a trocar. Se prefiro bife a peixe, só seria preciso alguém dizer – “você gostaria de trocar o seu peixe por bife?” – e a troca aconteceria. Na verdade, quanto mais egoísta eu for, mais disposto estarei a trocar. Já existe uma versão voluntária e particular de seguridade – o bom e velho “seguro” – que as pessoas adquirem o tempo todo.

O problema não é as pessoas serem “egoístas demais para fazer o melhor para si”, mas o fato de que essa rede simplesmente não é um valor para muitas delas. Ninguém que pagar por serviços que não usa, e os usuários dos serviços públicos normalmente não tem dinheiro para pagar por eles. Ajudar alguém que você considera digno é algo maravilhoso, mas afirmar que os mais endinheirados devem ajudar os menos endinheirados é implicar que você me deve parte do seu carro, simplesmente porque ele não é meu.

A ideia de que “os ricos devem aos pobres” só faz sentido em um contexto medieval, quando um rei adquiria sua riqueza através da força, tomando-a de seus servos. Por causa disso, os servos legitimamente esperavam ser restituídos pelo menos dessa riqueza. Um empresário adquire sua riqueza criando valor, não forçando ninguém a trabalhar para ele – quem trabalha o faz voluntariamente, por entender que é uma boa troca. Por isso, o empresário tem direito a cada centavo da sua riqueza, assim como o mais pobre dos trabalhadores braçais têm direito ao seu salário.

A ideia de que “o homem deve ser salvo de si mesmo” também é estranhamente similar à noção cristã do pecado original. A nossa natureza não é nem boa, nem ruim: ela simplesmente é. O que pode ser bom ou ruim são as escolhas que fazemos. O fato de sermos seres individuais é apenas isso – um fato. Não podemos pensar, escolher ou agir pelos outros. Podemos apenas escolher lidar com eles por meio da troca, ou da força – e é exatamente esse padrão moral que o Estado de bem-estar social viola.

Pessoas seculares precisam se livrar dessas ideias, a não ser que queiram cometer os mesmos erros dos místicos – com os mesmos resultados hediondos.

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Revisado por Matheus Pacini.

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