Muitos me perguntam o que há de errado em estabelecer como meta “ser feliz” ou “sentir-se bem”. O problema é que essas “metas” são subjetivas – e, pior, circulares. Metas precisam ser objetivas.
Para entender por que as metas precisam ser objetivas, é preciso entender o que é uma meta, e como se ela relaciona com as emoções.
Uma meta nada mais é que a intenção de atingir determinado resultado. Se você o alcança, tem sucesso. Caso não, fracasso. Existe um ponto final claro.
Ao estabelecer uma meta, você muda imediatamente não só parte de sua psicologia, mas também a sua hierarquia subconsciente de valor. Estabelecer uma intenção dá ao resultado pretendido um senso de valor para você. Agora, esse resultado é identificado como bom e importante para você. Daí em diante, você sentirá emoções relacionadas à meta e ao processo de cumpri-la
Ausentes outros fatores, se você vê uma oportunidade de atingir sua meta, sentirá desejo. Se vê uma ameaça à ela, sentirá medo. Se ficar sem fazer nada para alcança-la, sentirá culpa. Se der alguns passos para cumpri-la e falhar, sentirá frustração.
Em outras palavras, uma função importante de suas emoções é alertá-lo para quaisquer dados que pareçam relevantes para o cumprimento de sua meta. Emoções positivas e negativas são úteis. As emoções são parte integral de seu sistema de valores.
Seu sistema de valor é parte biológico, parte volicional. Um bebê nasce com um sistema de valor operacional dedicado a certas necessidades fisiológicas, tais como alimento, água e temperatura corporal. Se lhe falta algum deles, ele chora. Desde o nascimento, qualquer coisa que o ajuda a atender suas necessidades físicas é “arquivado” como valor em seu sistema de valor.
Na medida em que a criança desenvolve sua mente, um novo fator participa na formação de valores: escolha. Ela aprende que suas escolhas afetam sua vida. Aprende a importância de conhecer e agir para atender suas necessidades e atingir suas metas. É por isso que estabelecer uma meta a impregna com um senso de valor.
Mas, é claro, ela pode cometer erros no processo de decisão sobre as metas e como alcançá-las. É por isso que, como adultos, adotamos filosofias que nos ajudam a descobrir o verdadeiro e o bom.
Se você acompanha meus textos, sabe que todas as ideias sobre psicologia que compartilho convosco se baseiam na filosofia do Objetivismo, de Ayn Rand. Duas conclusões-chave do Objetivismo para essa discussão são:
O padrão do bem é o que promove a sobrevivência (vida) do homem – homem como homem, um animal racional. O padrão do bem é todo o necessário para o florescimento de um organismo vivo que sobrevive pelo uso de sua mente. Nesse padrão, a felicidade é tanto possível, quanto desejável.
Como esse padrão é baseado em fatos sólidos a respeito do que um ser humano que vive, respira e pensa pode e precisa fazer, não existem conflitos inerentes dentro da alma de uma pessoa.
Nesta visão, as emoções alertam para o fato de que existe um valor em jogo. Quando as emoções entram em conflito, estão alertando para uma contradição interna em suas metas e valores, a qual precisa ser detectada e corrigida, se você quiser florescer.
Mas o conflito desgasta. É melhor evitar conflitos entre suas metas pelo uso de um teste objetivo na hora de estabelecê-las. Seguem abaixo os três testes que utilizo:
- Ela atinge objetivamente os valores necessários para a vida humana (valores racionais profundos) de alguma forma – é pró-vida?
- É uma meta possível através do seu esforço – isto é, é possível para você?
- Ela vale o seu esforço frente às outras metas já estabelecidas– é uma prioridade?
Uma meta como “sentir-se bem” ou “ser feliz” não passa nos dois primeiros testes.
Primeiro, tal “meta” não o direciona para qualquer valor específico. “Sentir-se bem” ou “ser feliz” é uma consequência da realização de metas que sustentam a vida. Logo, é circular.
E pior, ao estabelecer “sentir-se bem” como uma meta, toda vez que você se sentir mal, sentir-se-á mal duplamente, já que implica que você está fazendo algo errado, afinal, está fracassando em sua “meta” de “sentir-se bem”.
No entanto, sentimentos ruins não são “ruins” para você. Eles servem como importante alerta sobre seus valores. Você não pode florescer sem eles. Se tentar eliminá-los, terá problemas. Você pode reprimi-los (tampouco sentindo sentimentos bons), ou optar por drogas ou outras experiências que alteram a mente em lugar de cumprir a missão de atingir valores. Sem estar disposto a vivenciar sentimentos “ruins”, você não pode florescer.
Segundo, como você se sente não está sob seu controle direto. O sucesso nem sempre traz alegria, mesmo sendo atingir suas metas objetivamente bom para você. A alegria que você sentiria pode ser sufocadas por emoções como crenças limitantes (“nunca serei bom o bastante”), etc. Ou a alegria que você sentiria pode ser solapada por conflitos internos, caso a meta alcançada se mostre incompatível com outro valor importante.
Por essas razões, você está caminhando para o fracasso se estabelecer para si a meta de “sentir-se bem” ou “ser feliz”. Se você mirar nesse resultado, fracassará.
Dito isto, o desejo de ser mais feliz é uma grande fonte de motivação para fazer as mudanças de vida que podem levá-lo à felicidade. É certamente válida para influenciar esse resultado.
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Publicado originalmente em Thinking Directions.
Revisado por Matheus Pacini.
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