Qual é a origem da criatividade?

Cursos e artigos sobre criatividade me deixam louca. Nenhum deles trata do que eu considero o verdadeiro problema. Todos eles se concentram no brainstorming de quantidades de ideias em vez de explicar o que realmente é a criatividade e como direcioná-la. Por exemplo, você pode ter participado de um exercício bem conhecido no qual pedem que seu grupo crie usos criativos para um clipe de papel.

Nenhum julgamento. Apenas continue propondo ideias. Se continuar, pode chegar a centenas. Esse pode ser um exercício divertido, que demonstra que uma ideia desencadeia outra. As ideias mais inteligentes geralmente estão no final de uma cadeia de associação que passa por várias ideias intermediárias.

Infelizmente, esse método (brainstorming em grupo) atrai os coletivistas de plantão, os quais pensam que nenhuma ideia brilhante vem de indivíduos. Ninguém nunca explica por que as melhores ideias surgem mais tarde no processo, só sabem apelar para a fertilização cruzada das mentes.

Admito que o brainstorming em grupo é apropriado e útil em determinadas circunstâncias. É particularmente útil quando os membros de uma equipe têm origens diversas, mas que compartilham um objetivo entendidos por todos. Mas é uma pena que, na concepção de muitos, tenha se tornado o único modelo para a criatividade.

Esse método parece “funcionar”, porque, quase sempre, traz “resultados”. Por isso, então, a criatividade é associada a uma ideia de “não-julgamento”. Não julgar é, sim, importante em contextos de grupo para que todos participem, mas, na verdade, um certo tipo de julgamento é extremamente válido para a criatividade individual – e não apenas para escolher os vencedores depois de fazer uma lista.

O que é criatividade?

Precisamos cavar mais fundo para entender o que realmente é a criatividade. Uma ótima forma de definir a característica essencial de algo é diferenciar. Aqui estão duas coisas para as quais você pode usar um clipe de papel. Sugiro que um deles seja criativo e o outro não:

• Você pode usar um clipe de papel para segurar flores em um buquê no lugar (retirado de uma pesquisa na internet)
• Você pode colocar um clipe de papel no sapato para formar uma bolha no seu pé.

Colocar um clipe de papel no sapato para formar uma bolha é um exemplo de destruição, não de criação. É uma ação que resulta não apenas em menos valor, mas em danos para você! Em contraste, o buquê, artisticamente organizado, é de maior valor para você do que as flores e o clipe de papel separados. É isso que o torna um bom exemplo de criatividade.

“Criatividade” é a capacidade de reorganizar, combinar ou integrar elementos naturais em um novo todo de maior valor do que a soma de suas partes individuais.

Ninguém fala sobre o papel dos valores na criatividade porque ninguém, exceto Ayn Rand (e seus alunos), acredita que os valores são objetivos. Mas os valores são a chave.

“Valor” é aquilo que alguém age para obter e/ou manter. O conceito “valor” não é primário; pressupõe uma resposta à pergunta: de valor para quem e para quê? Pressupõe uma entidade capaz de atuar para atingir um objetivo diante de uma alternativa. (Ayn Rand, “A ética objetivista”)

O truque para encontrar muitos usos para clipes de papel é encontrar os valores que você deseja obter e ver se o clipe de papel pode ajudá-lo. Se você pesquisar na web por “usos de clipes de papel”, obterá muitos resultados. Acontece que existem muitas situações em que um pequeno pedaço de fio resistente é útil. Eu o desafio a encontrar tantos usos para um clipe de fichário ou um elástico.

O verdadeiro desafio da criatividade

Eu não gosto do exercício do clipe de papel porque dá a ilusão de que a criatividade reside, principalmente, no tempo gasto com a tarefa, na suspensão do julgamento e em brincar com as ideias.

Acredito que a principal razão pela qual grupos obtêm ideias melhores à medida que aumentam o número delas é por que eles se aprofundam no propósito do exercício: criar usos de um clipe de papel que melhorem alguma situação. E é essa concentração em um valor que realmente vai trazer resultados.

Mas, indo direto ao ponto, o verdadeiro desafio na vida cotidiana não é criar valores a serem adquiridos por algo geralmente útil como um pedaço de arame. Você também pode facilmente ter muitas ideias sobre o que fazer com um maço de dinheiro. O verdadeiro desafio na vida cotidiana é encontrar outra maneira de obter algum valor específico que você não vê como obter.

Por exemplo, veja uma reclamação clássica:
“Estou preso a esse trabalho que odeio porque nenhuma outra empresa vai me pagar o suficiente e fica próxima de minha casa.”

Este é um exemplo de visão afunilada. Você vê o que quer. Você vê a forma mais óbvia de obter algo. E, de alguma forma, parece impossível fazer diferente. Você agora se sente preso. É aí que você precisa de criatividade. E, infelizmente, o brainstorming não vai ajudar muito, como você sabe se já tentou debater ideias com uma pessoa nessa situação.

O verdadeiro desafio da criatividade é sair de uma visão estreita e descobrir como criar o valor que você deseja criar com os recursos que já possui. Conheço dois métodos para resolver isso:

Método nº 1: desafie suposições

A primeira forma de sair dessa visão restrita para descobrir uma solução criativa é desafiar todas as suposições. Você faz frase por frase. Veja como fica esse desafio para a queixa supracitada:

  1. O que você quer dizer com “tem que”? É sua escolha trabalhar lá ou não. Qual é a verdade exata?
  2. O que você quer dizer com “odeia”? Algo que você odeia é algo que você quer destruir. É isso mesmo? Qual é a verdade exata?
  3. O que você quer dizer com “nenhuma outra empresa”? Como você sabe? Qualquer grande empresa tem cargos que pagam muito – se você tiver as habilidades e puder fazer o trabalho. Você investigou todas as empresas do mercado? E, a propósito, por que você tem que trabalhar para uma empresa? Muitas pessoas trabalham por conta própria. Qual é a verdade exata?
  4. O que é “pagar o suficiente”? Suficiente para quê? O que você quer fazer com o dinheiro? Existe outra maneira de obtê-lo?
  5. Por que você precisa que a empresa seja perto de casa? E, de qualquer forma, o que constitui uma boa localização? E por que você tem que se deslocar? Muitas pessoas trabalham em casa. Quais são as consequências reais de uma distância mais curta ou mais longa?

As palavras que você usa para enquadrar o problema geralmente o aprisionam. Desafiar as suposições implícitas nas palavras o ajuda a ver mais claramente o que está procurando e as condições que cercam a obtenção desse valor. Isso então lhe dá ideias para o que mais importa.

Ou, em resumo, muitas soluções criativas de problemas consistem em enfrentar fatos da realidade e esclarecer quais valores você realmente deseja. Envolve exercer o julgamento – não suspender o julgamento.

Depois de conhecer o valor mais profundo em jogo, você estará em melhor posição para encontrar uma alternativa criativa. Isso nos leva ao segundo método para encontrar soluções criativas, que é trabalhar a partir dos valores fundamentais em jogo.

Método #2: Vá para os valores fundamentais

Haverá momentos em que todas as suas suposições estarão corretas. Vamos supor, por um momento, que você fosse o planejador no exemplo. Vamos estipular que, se você quiser manter seu padrão de vida, não há trabalho equivalente ou melhor para o qual possa ser contratado agora em sua vizinhança.

Se isso for um fato, você precisaria aceitá-lo. Mas isso não significa que você precisa desistir de seu objetivo inteiramente. Em vez disso, precisaria se aprofundar para entender por que você queria um emprego diferente. Quando você entende os valores mais profundos envolvidos, sempre é capaz de voltar sua atenção para encontrar formas de obter o que mais importa.

Isso requer um foco inteiramente em valores. Se você começa com “Eu odeio meu trabalho”, você vai precisar se esforçar para descobrir o que é que você odeia – e o que é que você realmente quer em vez disso. Você precisa saber o lado positivo que procura se quiser ser criativo.

Dependendo do que você realmente deseja, você encontrará soluções completamente diferentes para o seu problema.

Suponha que você odeia seu trabalho porque não tem tempo para seus filhos. O que você realmente quer é uma conexão mais profunda com eles e o trabalho parece ser um obstáculo para tal. Bem, você pode trabalhar com sua família para encontrar formas de tornar o tempo em família mais significativo. A qualidade supera a quantidade sempre.

Ou, suponha que você odeia seu trabalho porque a rotina é maçante. Você quer ser intelectualmente estimulado. Bem, coloque alguns de seus ciclos mentais livres para trabalhar, encontrando formas de melhorar o processo, fazer seu trabalho na metade do tempo ou tornar o trabalho mais interessante de alguma outra forma. Isso pode ser feito.

Ou suponha que você odeia seu trabalho porque se sente desvalorizado. Você não está ganhando tanto dinheiro quanto acha que merece. Bem, o dinheiro é um meio de troca, não um valor em si. Para que você quer o dinheiro? Suponha que seja para férias emocionantes. Bem, as férias podem ser emocionantes com orçamento limitado. Ou, talvez seja porque você se sente invisível. Bem, as habilidades de comunicação podem ajudá-lo a obter mais conexão e visibilidade das pessoas ao seu redor sem aumento de salário.

Voltaire disse: “Nenhum problema pode resistir ao ataque do pensamento sustentado”. Mas tudo começa com um propósito claro – um valor que você deseja ganhar.

É o valor que você procura que desencadeia as ideias potenciais do âmago de sua mente. Os valores são o objetivo, o motor e a essência da criatividade.
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OBS: A definição de “criatividade” acima é adaptada da discussão sobre criação de Ayn Rand:“Criação” significa o poder de trazer à existência um arranjo (ou combinação ou integração) de elementos naturais que não existiam antes. (Isso é verdade para qualquer produto humano, científico ou estético: a imaginação do homem nada mais é do que a capacidade de reorganizar as coisas que ele observou na realidade.) (Ayn Rand, “The Metaphysical Versus the Man-Made”)

Ela concordaria com a minha introdução de valores no conceito de criatividade? Não sei.
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Revisado por Matheus Pacini.

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