Por sua mais grave culpa (Ayn Rand sobre a morte de Marilyn Monroe)

A morte de Marilyn Monroe chocou as pessoas de uma forma diferente que a morte de qualquer outra estrela do cinema ou figura pública. Ao redor do mundo, as pessoas tiveram um senso particular de envolvimento pessoal, bem como de protesto, como um grito universal de “Ah, não!”

Elas sentiram que a morte dela tinha algum significado especial, como se fosse um alerta de algo que não conseguiam decifrar – e sentiram uma apreensão sem nome, um sentimento de que algo terrivelmente errado estava acontecendo.

Elas estavam certas em se sentir assim.?

Nas telas, Marilyn Monroe era a imagem da alegria pura e inocente de viver. Ela projetava o senso de uma pessoa nascida e criada numa utopia radiante – intocada por sofrimento, incapaz de feiúra e maldade – encarando a vida com a confiança, a benevolência e a ostentação alegre de uma criança ou de um animal de estimação que fica feliz em exibir seu próprio ser como se fosse o melhor presente que pudesse oferecer ao mundo – e que espera ser admirado por isso, não atacado.

Na vida real, o provável suicídio de Marilyn Monroe – ou pior: uma morte que pode ter sido acidental, o que sugere que, pra ela, a diferença não importava – foi uma declaração de que nós vivemos num mundo que tornou impossível que o seu tipo de espírito – e o que ela representava – possa sobreviver.

Se já houve uma vítima da sociedade, Marilyn Monroe foi essa vítima – vítima de uma sociedade que se diz dedicada a ajudar os que sofrem, mas que mata os alegres. Nenhum dos delinquentes juvenis que costumam receber a atenção de humanitários poderia ter tido uma infância tão sórdida e aterrorizante quanto a de Marilyn Monroe.

Sobreviver a tal infância preservando o tipo de espírito que ela projetava nas telas – o senso de vida radiante e benevolente que não pode ser fingido – foi uma conquista psicológica quase inimaginável que exigiu o tipo mais elevado de heroísmo. Quaisquer cicatrizes que o passado pudesse haver lhe deixado eram insignificantes em comparação.

Ela preservou sua visão de mundo na luta batalha até o topo. O que a destruiu foi a descoberta, lá no topo, de uma maldade tão sórdida quanto a que ela tinha deixado para trás – pior, talvez, por ser incompreensível. Ela esperava encontrar a luz do sol; em seu lugar, todavia, encontrou um pântano fétido de malícia.

Era um tipo de malícia muito especial. Se você quiser ver a sua tentativa de compreendê-la, leia o artigo publicado na edição de 17 de Agosto de 1962 da revista Life. Não é, de fato, um artigo, mas uma transcrição das palavras dela – e o documento mais tragicamente revelador publicado na história. Era um pedido de socorro – que veio tarde demais para ser atendido.

“Quando você é famoso, você encara a natureza humana de forma meio crua,” disse ela. “A fama provoca inveja. As pessoas lhe encontram na rua e murmuram: ‘quem ela pensa que é?’ Elas acham que a fama lhes dá algum tipo de permissão para chegar até você e dizer qualquer coisa, sabe, de qualquer natureza – e que isso não irá ferir seus sentimentos – como se as palavras atingissem apenas a sua roupa […] Eu não entendo porque as pessoas não são mais generosas entre si. Eu não gosto de dizer isso, mas temo que exista muita inveja nessa indústria.”

“Inveja” foi o único nome que lhe ocorreu para a coisa monstruosa que enfrentava, mas era algo muito pior que inveja: era um profundo ódio da vida, do sucesso e de todos os valores humanos, sentido por um tipo de ser medíocre, que sente prazer em ouvir sobre o fracasso de um estranho. Era o “ódio do bom por ser bom” – o ódio da habilidade, da beleza, da honestidade, da seriedade e do sucesso e, sobretudo, da alegria humana.

Leia o artigo da Life para entender como esse ódio funcionava, e o que ele fez com ela:

Uma criança cheia de desejo, e que foi repreendida por isso – “Às vezes, as famílias adotivas ficavam preocupadas pois eu ria muito alto e de forma entusiasmada; acho que pensavam que eu era histérica.”

Uma estrela de sucesso espetacular, cujos empregadores viviam repreendendo: “lembre, você não é uma estrela,” num esforço determinado para impedir que ela descobrisse sua própria importância. Uma atriz brilhantemente talentosa, que ouvia de supostas autoridades de Hollywood e da imprensa que não sabia atuar.

Uma atriz dedicada à sua arte com seriedade e paixão: “Quando eu tinha 5 anos – acho que foi aí que comecei a querer ser atriz – eu adorava brincar. Eu não gostava do mundo ao meu redor pois era meio sombrio – mas eu adorava brincar de casinha, e era como se você pudesse criar seus próprios limites” – e que caminhou pelo inferno para criar seus próprios limites, para oferecer às pessoas o universo luminoso que ela enxergava: “É quase como ter alguns segredos que você só divide com o resto do mundo por alguns instantes, enquanto você está atuando” – mas que foi ridicularizada por sua vontade de interpretar papéis sérios.

Uma mulher – a única – que conseguia projetar a sensualidade inocente de um ser de algum outro planeta não corrompido pela culpa; que se viu rotulada e criticada como um símbolo vulgar de obscenidade e que, apesar disso, ainda teve a coragem de declarar: “Todos nós nascemos criaturas sexuais por natureza, mas é uma pena que tantas pessoas desprezem e destruam esse dom.”

Uma criança feliz que estava oferecendo suas conquistas para o mundo, com o orgulho de uma grandeza autêntica, ou como um gatinho colocando aos seus pés a sua caça – e que teve como resposta tentativas empenhadas em negar, degradar, ridicularizar, insultar, destruir suas conquistas – que não conseguia entender que ela estava sendo punida pelo que ela tinha de melhor, e não de pior – que só conseguia sentir, em puro terror, que estava diante de um mal indescritível.

Por quanto tempo você acha que um ser humano aguentaria isso?

O ódio por valores sempre existiu em algumas pessoas, em qualquer época ou cultura. Mas 100 anos atrás, esperava-se que você escondesse isso. Hoje em dia, ele está por todos os lados; é o estilo e a moda do nosso século.

Onde um espírito depressivo poderia buscar refúgio?

A maldade de uma atmosfera cultural é criada por todos aqueles que compartilham dela. Qualquer um que já tenha sentido ressentimento contra o bom por ser bom – e dado voz a esse ressentimento – é o assassino de Marilyn Monroe.

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Traduzido por Caio Amaral.

Revisado por Matheus Pacini.

Publicado originalmente em Ayn Rand Institute.

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